segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Desejos



Que 2015 seja o ano do encontro;
Do seu corpo com sua alma;
Do seu coração com suas verdadeiras emoções;
Que muito além do dinheiro, você possa descobrir sua insubstituível missão, aquilo que somente a você cabe realizar neste planeta Terra;
Que muito antes do amor de alguém, você se ame por demais, consciente que a sua imagem no espelho, não revela verdadeiramente quem você é;
Que compreenda o mundo exterior como resultado daquilo que você constrói diariamente em seu mundo interior e reconheça nos seus sonhos, a sua mais autêntica realidade;
Que você seja livre no pensamento e nas atitudes e não se deixe aprisionar em qualquer uma das diferentes embalagens da escravidão;
Que descubra a si mesmo, ao invés de buscar descobrir-se no outro;
Que lembre sempre, do nascer ao pôr do sol, ser imagem e semelhança do Criador e que tudo pode, pois, Ele o fortalece;
Que você não seja espectador, vítima, ou mero figurante do que possa ocorrer em sua vida, mas sim, o protagonista da própria história;
Que você possa, sobretudo, ser muito feliz ao percorrer o caminho mais importante de todo ser humano: ir ao encontro da sua essência. 

domingo, 7 de dezembro de 2014

A um amigo que se foi



Dias atrás ao olhar distraidamente para uma pessoa na rua pude ver nela, não sei a razão, um amigo que já não se encontra mais no plano visível. Estranha sensação esta, a de sentir tão próximo, pessoas que já se foram, como se bem ali na esquina pudéssemos conversar sobre assuntos da vida que segue. Pude notar aquele mesmo jeito desleixado de cuidar sem se cuidar, o corpo permanentemente esguio, a usual camisa branca de manga curta por sobre a calça jeans surrada e o sapato igualmente desgastado por tanto caminhar. Na face, a barba sem fazer e os óculos esperando sempre o auxílio das mãos, aquelas mesmas que seguravam a pasta preta contendo sabe-se lá o quê.
Peguei-me então, falando aquelas frases introdutórias e tão banais do cotidiano. “E aí? Como estão as coisas? Só na correria?”. E a resposta acompanhada daquele sorriso comum entre os que se reconhecem amigos.  “Estamos aí, correndo atrás do prejuízo. Não pode é parar, né?” (Ironia constatar que a vida para de repente apesar ou em razão de tanto correria).
Como era hora do almoço resolvemos colocar a prosa em dia em um restaurante que também já havia encerrado suas atividades. Um local de muitos encontros entre outros amigos e que apelidamos de “Without family”, freqüentado apenas por aqueles que julgávamos “sem família”.  
E voltamos a falar da mulher que amávamos e aquelas que passaram por nós sem amor. Rimos com as piadas de sempre e os micos que pagamos nas amizades compartilhadas de um universo ainda sem internet. Discutimos sobre a eterna política sem solução, o clima das quatro estações em um mesmo dia, o futebol em queda e a inflação em alta.
Por fim, o relógio ainda nos pulsos, trouxe-nos de volta a urgência nas tarefas ainda a cumprir. Despedimo-nos com um abraço imenso que mais parecia um laço a amarrar nossas vidas em um presente eterno.

Ao chegar em casa e em tempos de facebook, acessei sua página e pude ler suas postagens sempre hilárias e suas fotos. Tudo comprovando que a vida continua e que o seu coração insistia em pulsar, mesmo que a ciência tenha diagnosticado o contrário. Nesta certeza, não resistir e postei na mesma página a seguinte mensagem a aguardar sua pronta resposta.  “E aí? Como estão as coisas? Só na correria?”. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Séquisso


 Sexo é o assunto mais antigo e mais contemporâneo da história da humanidade. Pesquise a palavra “sexo” no Google e encontrara 212 milhões de resultados. É sem dúvida, o tema mais discutido, o mais comentado, o mais divulgado, o mais debatido e, talvez, o menos compreendido.  O que poderia ser enxergado como uma atitude natural, orgânica, abençoada por Deus e bonita por natureza, ao longo do tempo, se tornou tema controverso e polêmico. A começar pela ideia de associar sexo ao pecado que tanto mal gerou a nos remeter à culpa e ao medo.
Mas, se antes nos colocaram na cabeça que sexo era pecaminoso, hoje, virou ato obrigatório, como receita que devemos provar, medicamento que necessitamos tomar para vivermos felizes.
Você está triste e desanimado?
Experimente Sexo. Agora em nova embalagem.
Ligamos a televisão e um programa ensina aos jovens o que é ereção. Sintonizamos o rádio e um especialista comenta sobre a importância do orgasmo nas relações sexuais. Abrimos as páginas dos jornais e revistas e ficamos sabendo sobre a descoberta de um novo medicamento que promete prolongar o nosso prazer.
E com tanta gente nos ensinando o que é sexo, muitos vão para cama com um manual na cabeça e o medo danado de errar em alguma regra, de cometer alguma gafe e a possibilidade de perder pontos com o parceiro ou parceira. Temos que ser atletas sexuais no campeonato da virilidade, da boa forma, da masculinidade e da sensualidade.
Se os adultos já não sabem, como papais e mamães, o que é sexo, nos dias atuais o que estarão sentindo os jovens, atropelados pelo excesso de informações, pelos exemplos de alta performance sexual exibidos pelos atores e atrizes das novelas das seis das sete e das oito?
Somos impotentes perante a indústria do sexo a nos vender corpos, roupas, artefatos, remédios, comportamentos. A própria virgindade deixou de ser escolha individual e intransferível, para ser produto midiático a alimentar a indústria do entretenimento e a do prazer a qualquer custo.
Sem querer esgotar o assunto, cabe por último ressaltar que sexo é bom, é divino e faz parte da natureza humana. Ruim foi o que fizeram com o sexo. No passado, relacionando-o à culpa e ao medo e nos dias atuais, ao comércio e a competição.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Antes de você me deixar


Deixa que eu enxugue com o lenço as suas e as minhas lágrimas.
Deixa que eu me lembre da emoção que senti quando nos conhecemos.
Deixa-me assim, do meu jeito, recordar o que passamos juntos.
Deixa que eu revele como ficarei se me deixar.
Deixa então, o tempo passar mais um pouco...
Quem sabe você até se esqueça de me deixar.

Deixa, sobretudo, meu coração falar por mim.

E se, depois de tudo, você ainda quiser me deixar, 
deixa então, fazer-lhe um último pedido:

- Me deixa ir junto?


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Que vença o Brasil


Há que se acatar com serenidade, discernimento e bom senso, entre vencidos e vencedores, o resultado das urnas eleitorais e o que a maioria da população revelou com o voto. Saber perder é tão necessário como saber vencer. 
Se a eleição presidencial sinalizou uma clara divisão em todo o país, passada agora as emoções, os conflitos e as divergências inerentes ao processo democrático, o momento é de reflexão para um novo projeto político que possa realmente unir a todos os cidadãos.
A eleição passou, mas ela deixou um legado a todos nós, agentes públicos, empresários, profissionais da imprensa, enfim, a cada trabalhador brasileiro. 
A eleição já faz parte do passado e se faz necessário pensar no futuro do país e o que sobrou de ensinamento nas eleições mais acirradas de nossa democracia. 
Talvez, o maior ensinamento seja o de que necessitamos continuar discutindo, participando, cobrando e exigindo da classe política que ela cumpra com seus compromissos como representantes de toda a população. 
E se avançamos na direção da nossa maioridade política, vamos torcer para que, além do voto, nossa voz continue sendo ouvida. 
Que os novos governadores, deputados, senadores e a própria presidência da república, governem com maior consciência;
Que possam combater a corrupção com a energia devida para que realmente seja extinta de nossas empresas públicas e privadas;
Que não estimulem a divisão de classes entre empresários e patrões, nordeste e sudeste, homos e heteros, elite e proletariado, pois os rótulos só promovem o desequilíbrio, a desconstrução, as desavenças e as perdas coletivas; 
Que façam as reformas que o Brasil necessita há tempos, como a reforma política, a previdenciária, a fiscal e a reforma tributária; 
Que combatam com todas as forças, ações e políticas públicas, um dos principais problemas nacionais que é o consumo de drogas, que tem como consequência imediata, a violência urbana; 
Que não enganem a boa fé dos brasileiros, ajam com clareza e transparência, veracidade e determinação e, principalmente, muito zelo com os recursos públicos;
Que invistam prioritariamente em saúde e educação, mas sem assistencialismos casuísticos que comprometem a dignidade humana e promovem a inércia;
Que as disputas partidárias tenham como foco o cidadão e não os privilégios para qualquer agremiação política;
Que o poder não inebrie, não encante, não envaideça e não se aproxime dos privilégios individuais em detrimento das causas coletivas; 
Enfim, passadas as eleições, torçamos para que a luta continue em prol de um novo projeto político para que o maior vencedor das urnas seja verdadeiramente o Brasil.


Mostra a tua cara, Brasil!


Ao longo dos últimos anos acompanhamos como todo cidadão brasileiro a infindável seqüência de corrupções, desmandos e descasos existentes nos pais, como células malignas em metástase se multiplicando pelo corpo de nossas instituições públicas.
Pensávamos: até quando iremos suportar? Até quando ficaremos apáticos e letárgicos?
Contudo, no ano passado, pudemos assistir incontáveis manifestações de pessoas que saíram às ruas para protestar, exigindo mudanças urgentes por um Brasil mais ético, mais íntegro, com maior dignidade para todos.
Pensávamos: a indiferença está se findando. A sociedade, finalmente, está reagindo.
No decorrer dos fatos fomos testemunhas de imagens das prisões de ocupantes de cargos de liderança no governo que traíram a confiança do povo brasileiro, aproveitando de suas funções para, verdadeiramente, saquear os cofres públicos em benefícios pessoais e partidários.
Pensávamos: estamos felizmente higienizando a nação e iniciando um novo ciclo.
Passa o tempo e chegamos hoje ao momento eleitoral para, enfim, validar as mudanças que tantos brasileiros clamaram.
No entanto, tudo o que acompanhamos nos últimos anos, o imperativo das mudanças, o combate à corrupção e aos desmandos, parecem ser coisas do passado. A onda de corrupção, que não parou com o recente caso da Petrobrás, sinaliza não causar mais tanta indignação.
As mudanças urgentes solicitadas por tantos brasileiros parecem dissolvidas no ar com o discurso do social, com slogans de campanhas, com a construção de imagens no marketing de um Brasil maravilhoso e na desconstrução orquestrada da imagem de quem se propõe a apresentar outra forma de governar.
Para milhões de pessoas, até onde se consegue perceber, estamos no caminho certo, validando suas intenções de voto pela que denominam de “inclusão social” e pela existência de uma elite que precisa ser combatida em benefício, dizem eles, dos mais carentes e na luta de classe que fazem o cidadão acreditar  na “queda de braço”, na divisão entre trabalhadores e patrões, burguesia e proletariado, ricos e pobres, heteros e homos, brancos e negros, nordeste e sudeste.  Os “ismos” já esquecidos (capitalismo, socialismo, comunismo, neoliberalismo etc) voltam a integrar a agenda das discussões dos militantes partidários.
Perguntam: Será que vocês não percebem?  Nos últimos anos, o Brasil mudou para melhor e ficará melhor ainda com a continuidade.
Para outros milhões de pessoas, o momento é de incredulidade como se algo de insano estivesse ocorrendo, como se milhões de brasileiros estivessem anestesiados e inebriados pelo intangível, pelo imaterial, pelo subjetivo. Estes, então, tentam alertar, sem sucesso, a existência de “cartões de créditos” que se fascinam hoje pelo acesso aos bens materiais, no futuro, apresentará uma alta fatura a ser paga com juros exorbitantes e causar a falência de milhões de empresas públicas e privadas atingindo diretamente a classe trabalhadora. 
Perguntam: será que não estão vendo que o Brasil caminha para um abismo, para um fosso social ainda maior?
Assim, entre estes e aqueles, entre beltranos e sicranos, no exercício da pluralidade e do saudável conflito de opiniões, cabe compreender que realmente talvez não se faça “omelete sem quebrar os ovos” e a isto se denomina democracia, onde apenas um voto poderá definir o futuro do país.
Sobretudo, cabe a todos os cidadãos torcer para que o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, mostre a sua cara nas urnas, mesmo que ela não seja tão bonita quanto diz o atual governo e seus militantes partidários e nem tão feia quanto imaginavam aqueles que exigiam e exigem mudanças urgentes no país.
A hora é agora.
Mostre-nos, verdadeiramente, sem maquiagem, qual é a tua cara, Brasil!


domingo, 21 de setembro de 2014

Se vira nos 15


Como conquistar o voto do cidadão em uma única mensagem veiculada pela televisão e pelo rádio em apenas 15 segundos? Como dizer algo que possa seduzir, encantar, convencer, persuadir o eleitor em tão pouco tempo?
Esta é a tarefa hercúlea, custosa, danosa, laboriosa, de milhares de candidatos a deputados estaduais e federais em todo o Brasil que, verdadeiramente, necessitam se virar nesta missão impossível.
A maioria segue o formato padrão falando genericamente sobre mudanças, contra a corrupção, a favor de reformas e por melhorias na saúde, na educação, na previdência além de “religiosos” que usam (indevidamente) o nome de Deus, buscando o auxílio da providência divina.
O próprio nome vira estratégia e assim “Ronaldinho Cover”, “Aécio Ribeirão das Neves”, “Lula Defensor”, “Escarlet Orrana” e “Mister M”  se misturam a tantos outros por todo o país.
Muitos tentam se diferenciar pela criatividade (discutível) utilizando frases de efeito, slogans, rimas e jingles.
 O humor é uma das armas e tem em Tiririca, “o abestado”, candidato novamente a deputado federal por São Paulo, um modelo que parece dar certo (está em primeiro lugar nas pesquisas de voto) embora este goze (realmente) de um tempo maior para dizer “tá com saco cheio da política, vote no Tiririca”, parodiando ainda uma das mais clássicas cenas do cinema em que Luke Skywalker retira a máscara de Darth Vader em “Stars Wars”.  Pegando carona no Tiririca, o candidato por Minas Gerais a deputado federal, Edson Moreira, afirma, enfaticamente, em sua mensagem: “Vote com segurança, se não, você vai morrer”.
Já o humorista Geraldo Magela, o Ceguinho, candidato pela primeira vez a deputado federal por Minas Gerais, brinca com sua deficiência visual dizendo: “Se o amor é cego, a Justiça é cega, e tivemos até presidente cego, por que não um deputado cego?”.
Em Pernambuco, seguindo a linha da graça (ou desgraça), o candidato “Dengue” aparece matando um mosquito com as mãos; “Jesus” (33333) de cabelos longos, coroa de “espinhos” e túnica branca pede o voto e paz para o Estado. Já o candidato Josafá Ribeiro com a mão no coração pede o voto para o eleitor, fechando, emocionado, a sua mensagem, dizendo: “Eu te amo”.
O jingle é outro instrumento utilizado e no Paraná, o candidato a deputado estadual Chik Jeitoso parodiou o hit “Tic Tic Nervoso” da banda Magazine, buscando seduzir o eleitor a votar no “Chik, chik, jeitoso”.
Os exemplos são inúmeros: um fala “passa a régua e ó, zap, neles”; outro diz que vai “estourar a boca do balão” e um boneco estoura um balão e “João Rasgado” usa a roupa rasgada no horário eleitoral.
Em meio a este palanque eleitoral midiático, percebe-se um eleitor confuso e indeciso  que, em poucos minutos, na urna eletrônica,  terá que escolher o presidente, o governador, o senador, o deputado federal e estadual de sua preferência.

Para os quase 143 milhões de eleitores brasileiros, apenas um conselho, em 2 segundos: Se vira!

sábado, 13 de setembro de 2014

O medo de ser infeliz

Anos atrás, mais precisamente em 1989, o Partido dos Trabalhadores na candidatura do ex-presidente Lula lançava o bordão que se espalhou pelo país, cantado em jingles, proclamado em comícios, inscrito em faixas. “Sem medo de ser feliz” era o lema que buscava convencer o povo a votar em Lula como aquele que poderia fazer feliz, os medrosos cidadãos brasileiros. Contudo, não seria ainda naquela eleição e somente em janeiro de 2003 que o bordão “a esperança venceu o medo” se faria valer no início do primeiro mandato do candidato do PT.
Chegamos em 2014 e o medo volta a ser inserido na campanha do Partido, porém, a conotação agora é bem diferente. O medo hoje brilha é na estrela, que teme perder o poder, largar o osso, deixar as benesses governamentais nas mãos de outra pessoa, seja ela, Marina Silva, Aécio Neves ou qualquer outro adversário.
Para enfrentar o medo de ser infeliz em uma provável derrota, vale espalhar o temor de que se o povo não votar na candidata do Partido, perderá as bolsas, as carteiras, o crédito, o pré-sal, o petróleo, o Fies, o emprego, a aposentadoria, a moradia. Maquiavelicamente e ”maquiavelmente” a esperança do partido agora, é que o medo vença o desejo de mudança.
Contudo, mesmo não sendo simpatizante do Partido, é triste constatar, mais uma vez, que o poder realmente corrompe ideais, seqüestra valores, macula ideologias, mata a esperança. Ao Partido dos Trabalhadores legou-se uma página importante de nossa vida social e política representada pela mudança, não somente de novos caminhos estruturais para o país, mas, principalmente de conceitos que a política brasileira havia esquecido, como a honestidade e o combate à corrupção.
É triste ver o mesmo do mesmo e assistir a mais uma página que fere ainda mais a nossa dor civil. É triste perceber que uma sigla partidária que teve a oportunidade de confirmar o que apregoava em sua bonita trajetória, deixe de lado a sua história, que a tantos brasileiros encantou, para se utilizar de instrumentos já, infelizmente, tão conhecidos e praticados por aqueles a quem a mesma sigla partidária combatia.
E vale lembrar um pouco desta história citando um pequeno trecho do discurso de posse do ex-presidente Lula em janeiro de 2003. “A reforma da Previdência, a reforma tributária, a reforma política, a reforma da legislação trabalhista, além da própria reforma agrária, esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo do desenvolvimento nacional. / O combate a corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes de meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida brasileira”.

É triste perceber que palavras de tamanha grandiosidade se deixaram morrer no cemitério do poder e que o medo seja agora mais uma página de desalento em nossa já tão desgastada esperança. 

domingo, 31 de agosto de 2014

Caixa-preta


Um avião cai e muda a rota das eleições presidenciais no país. Como entender fato tão imprevisível? Como ler o que não está escrito? Como decodificar o acidente que interrompeu a carreira de uma das mais jovens e promissoras lideranças políticas da atualidade? O que estará escrito na “caixa preta” deste acontecimento?
Os mais religiosos ou espiritualistas olham para o céu e buscam respostas. A vida é simbólica, paranóica e parabólica.  Parece possível crer na existência de um controlador de voo que, em frente a um radar, redundantemente, controla o destino das pessoas e das nações. Há milênios isto acontece: quando nos falta a compreensão na Terra, buscamos nos deuses, a matemática da vida. Haveria algo nos céus, além dos aviões de carreira?
Um avião cai e impulsiona a decolagem da candidatura de Marina Silva, o que antes do acidente, figurava, por assim dizer, como co-pilota de Eduardo Campos. Haveria alguma mensagem nisto?  Se muitos fazem suas elucubrações visionárias, porque não nos aventurarmos também em ler o indizível?  Assuma seu assento e viaje comigo.
Repare no nome Eduardo Campos. Existe o Ar no meio da palavra e o Campos no sobrenome, o que favorece a pensarmos em meio ambiente. Perceba que o avião de Campos caiu em Santos, o que favorece a pensar em um centro portuário, ou seja, naquilo que se denomina de (tchan, tchan,tchan)... marina. Agora repare no nome Marina. Perceba que estão o Mar e o ar juntos. Em tempos, onde a falta de água se faz presente, seria isto um sinal celeste?
Chame isto de insanidade ou fantasia, elucubrações de quem não tem nada para fazer no domingo e que isto é pior que o Fantástico. Mister M está de volta. Sou obrigado a concordar. Viajei na maionese. Pirei na batatinha. Estou ficando TAM, TAM. Mas, vou continuar, avisando aos desavisados que não é uma defesa de candidatura. Até porque é muito cedo prever quem pousará na cadeira presidencial em Brasília. Por falar nisto, a capital federal, tem como um das suas características, o Plano Piloto, arquitetado por Lúcio Costa, que divide a capital federal, em Asas Sul e Norte. Não parece muita coincidência, o avião ser um elemento simbólico de um país que foi berço do seu inventor, Santos Dumont? E que o avião caiu em Santos, Dumont?
Ok, vou parando por aqui, antes que pensem que cheirei cola de sapateiro e eleição é coisa séria. Afinal, vamos decidir quem irá pilotar os destinos deste país. Cabe então, torcer para que o próximo piloto conduza esta nação para um melhor destino, quiçá, um céu de brigadeiro.  Estamos cansados de viver nas turbulências da corrupção, sempre a apertar os cintos, na impressão permanente de que o piloto, verdadeiramente, sumiu. 

domingo, 24 de agosto de 2014

Disque-reclamação


Saímos às ruas e encontramos muita gente no corre-corre do dia a dia. Em tempos atuais, em conversas nas esquinas ou nos cafés, ficamos com a sensação de que o mundo virou um balcão de reclamações.
Reclama-se do síndico e da reunião, do marido ou da esposa, do patrão e do empregado, da fila do banco e do ordenado. Reclama-se da professora e do aluno, da falta de educação, do rumo sem nau e da nau sem rumo. Do governo e da falta dele. Do frio e do calor, do lençol e do cobertor. Reclama-se de Deus e dos homens, da vida e da morte, do excesso de azar e da falta de sorte.
Não tem o que dizer para puxar uma conversa? Não tem problema.  Saque do bolso a sua listinha de reclamações e tão logo você der uma brechinha, o seu interlocutor fará o mesmo e daí o previsível acontecerá. Você não resolverá a sua reclamação, mas irá desabafar e fazer o seu comercial. Sairá daquele bate-papo (e o negócio é bater mesmo) empapuçado com sua reclamação e a do outro.
Tudo bem, dirão muitos, sem reclamação não há solução. Estão aí o Procon e os Serviços de Atendimento ao Cliente (SAC), estes últimos, sujeitos a muitas reclamações.
Aliás, se é verdade, diz o marketing, que enquanto uns morrem, outros vendem lenços, pensamos em implantar um Disque-reclamação, onde centenas ou milhares de atendentes estariam atendendo milhões de reclamantes. Talvez, não seja lá uma boa ideia, já que muitos, com certeza, irão reclamar do serviço.  Aliás, só de falar em telefonia no Brasil dá vontade de reclamar (com justificativas) das operadoras.
Contudo, muitas vezes reclamamos com a tendência em acreditar que a culpa é sempre do outro, seja ele quem for. É como aquele marido que diz passar boa parte do tempo resolvendo problemas no relacionamento com a esposa, que ele não teria se não tivesse casado.
De verdade, nas relações humanas, seja do patrão com o empregado, do aluno com a professora, da esposa com o marido, do síndico com os condôminos e até da relação nossa com a natureza, haverá sempre o conflito e este, na maioria das vezes, não é nosso inimigo. É a febre que registra a existência da infecção.
A natureza ensina que só existe luz, no conflito entre o pólo positivo e o negativo. Os orientais orientam os desorientados que crise, ou conflito, é a grande oportunidade de melhoria que a vida oferece. Assim, de nada adianta colocar um conflito debaixo do tapete como se ele não existisse, ou como se a solução dependesse do outro. A conversa frente a frente, sem medos, sem censura, assertiva, pode ser o início de um novo começo e claro, na mesma ordem, o início do fim. Um conflito não resolvido, diz o filósofo, é um disco arranhado a nos impedir que passemos para a próxima música.

Por tudo, talvez este texto não altere muito o panorama, isto porque até o redator deste texto, veja só, reclama aqui do excesso de reclamação. E vale lembrar, se não gostou deste texto, ou se ele lhe provocou algum conflito, infelizmente, não estamos aceitando reclamações, nem devoluções. Diriam os mais antigos: Vá reclamar com o bispo!

Libertas: sem audiência

O rádio foi o primeiro veículo de comunicação de massa no mundo.
É inegável sua força ao longo da história para o bem e para o mal, utilizado inclusive por Joseph Goebbels, ministro de Hitler para espalhar o antissemitismo pela Alemanha durante a Segunda Grande Guerra.
Ao longo do tempo, houve o aparecimento da TV e hoje, a Internet reúne todos os veículos naquilo que se reconhece como convergência digital. Apesar desta evolução tecnológica, incluindo as rádios-web, as emissoras de rádio continuam fortes conquistando milhões de ouvintes em todo o mundo. 
Pena que em Poços de Caldas, no sul das Gerais, uma emissora como a Rádio Libertas, não receba da atual administração e vale dizer, de outros governos municipais que a antecederam, a audiência necessária. 
Pena que não se enxergue na Libertas a força que o veiculo já teve na divulgação das belezas da cidade, como elemento importante de entretenimento e informação ao cidadão. 
Pena que se permita a dilapidação deste patrimônio cultural e que os microfones da Libertas não alcancem o prédio, agora amarelo, da área central da cidade. 
Pena que não se busque uma sintonia entre o passado memorável da emissora com os dias atuais e que se deixe fora do ar, como acontece na atualidade, a Libertas de todos os poços-caldenses, de tantas histórias, de tantos locutores que já passaram e ainda estão na emissora.
Irão dizer que investir em saúde e educação é muito mais importante. Mera desculpa de quem não sabe dimensionar que o rádio pode ser sim, instrumento de divulgação de bons hábitos de higiene e cuidados com a saúde, além de propagador da arte e da cultura de um país, de um município. 
Infelizmente, o Complexo Santa Cruz que abriga as instalações da emissora, um local esquecido, sujo, sem as mínimas condições de higiene e segurança, é o retrato fidedigno daquela que foi uma das primeiras e mais importantes emissoras de freqüência modulada do interior do país.
Cabe alertar, finalmente, que o presente texto poderá até ser lido, mas, fica a impressão de que nenhuma autoridade lhe dará ouvidos. Exatamente como acontece com a Libertas, o que, vamos combinar, é muito pior.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ter e não ser: eis a questão


Não sejamos hipócritas.  Desejar ter as coisas, desde um simples carro até um jatinho executivo, ou mesmo um apartamento na periferia até a mansão em uma ilha paradisíaca, traduzem o que é ser feliz para a maioria dos seres humanos no planeta Terra, com raríssimas exceções.
O conceito de que “dinheiro não traz felicidade” só existe na cabeça das pessoas que já possuem muito e podem se dar ao luxo de serem “tristes” por opção.  Claro, existem pessoas (seres extraterrenos?) que pregam exatamente o contrário, como os monges tibetanos que afirmam ser o desejo, a fonte de todo nosso sofrimento. Tudo bem.
 Mas, enquanto lá, eles praticam o budismo, aqui se pratica o “bermudismo”, ou seja, ser feliz é ficar de bermuda em uma praia tomando cerveja e o vento a favor. Enquanto lá eles veneram o Lama (“o mestre”), por aqui viver na lama é tudo o que se tenta evitar.  Enfim, como dizia o saudoso mestre Joãosinho Trinta, “quem gosta de pobreza é intelectual”. Alias, existem os intelectuais que discorrem sobre a alienação das massas na mesa de um refinado restaurante degustando um macarrão ao molho pesto com tomates cereja acompanhado de saboroso vinho tinto espanhol, exatamente como relata o escritor Rodrigo Constantino em seu “Esquerda Caviar”.
Nada contra o ter. O acesso às boas coisas da vida em uma visão positiva significa ter sucesso profissional e pessoal, resultado do esforço e do desempenho no trabalho. Vamos combinar, nem só de pão vive o homem e ter um patê de ervas para passar no pão é tudo de bom.
Assim caminha a humanidade e em nosso país, a coisa, desde Pero Vaz, caminha assim: a maioria dos brasileiros não tinha (e não tem) casa própria, não tinha (e não tem)carro, não tinha (e não tem) pra ter, nem patê. Daí, o governo federal nos últimos tempos resolveu dar uma mãozinha, duas mãozinhas, três mãozinhas. Assim nasceram as “bolsas” e tantos projetos que objetivam “dar” coisas a quem nunca teve. Seria um gesto humanitário e providencial se por detrás não se escondesse uma questão maquiavélica: ao propositalmente fortalecer o ter, o governo enfraqueceu o ser para se manter no poder. Uma rima que nos leva a uma alienação às avessas. Aliena-se e manipula-se não somente pela inacessibilidade do trabalhador aos bens, como apregoou Karl Marx, mas também quando preenchemos os desejos de casa e comida, pão e circo. O pássaro se prende não é pela gaiola, mas pelo alpiste que o alimenta.
Quando ouvimos o ex-presidente Lula afirmar ter chegado aonde chegou (uma fortuna considerável) sem ter estudado, significa que no Brasil é possível ter coisas, sem ter aprendido, se esforçado,  ou mesmo, trabalhado para isto.  É possível, em nosso país, ter sem ser.  
A atitude é tão sutil e dissimulada que passa imperceptível e conta com o apoio popular. O “antes eu não tinha e agora tenho” avaliza as ações governamentais e estamos conversados. 
Em outro exemplo de engodo, o governo afirma buscar tirar a maconha dos jovens, porém, não faz a sua lição de casa, muito mais complexa, que é tirar os jovens da maconha. Parece simples jogo de palavras, mas existe uma diferença abissal entre as atitudes.
No Brasil de hoje, socializamos as facilidades, democratizamos o desconhecimento, repartimos a ignorância, pois, segundo o governo e algumas denominações religiosas, somos o que possuímos.
Contudo, mais cedo ou mais tarde, a conta chega.
Estamos e, só não vê quem não enxerga, começando a pagar o resultado de nossas escolhas.
O ter, que tanto nos inebriou e nos creditou a falência do ser, começa, aos poucos, a ser vítima de si mesmo e ter sua própria falência decretada com a possibilidade de chegarmos a uma equação inexeqüível: nem teremos, nem seremos.  
O homem é por natureza ignorante, mas a natureza é sábia.
Maktub no youtube. 
Ao semear vento, colhemos a tempestade.

“O pais não descoberto, de cujos confins, jamais voltou nenhum viajante, nos confunde a vontade nos faz preferir e suportar os males que já temos a fugirmos pra outros que desconhecemos? -(Hamlet-Wiliam Shakespeare)

Ah, não! Dunga na seleção?

Ah, não! Dunga na seleção?
Não fiquei Zangado, nem Feliz.
Também não me tirou o prazer de tirar uma Soneca.
Não acho realmente que ele seja um Mestre e também tenho receio do time ficar engripado novamente (Atchim) como nos 7 a 1. (7 anões e Branca de Neve?)
De qualquer forma, gozação a parte, prefiro um time Dungoso, a um time Dengoso, como foi com o Felipão.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Entre o vermelho e o vermelho


A dualidade da vida é notória. O dia e a noite, o céu e o inferno, a lua e o sol, a acusação e a defesa, a vida e a morte. Um só existe pela existência do outro. Os filósofos afirmam que um não se opõe ao outro, mas fazem parte de uma mesma unidade.  Frente e avesso são partes do mesmo tapete.  Assim, até Deus tem seu oposto e só não o citarei para não fazer propaganda do “outro” que tem se mostrado muito ativo nos últimos tempos.
Tal dualidade assegura o equilíbrio entre as coisas. Não é por outro motivo que somente valorizamos a luz, quando a escuridão mostra sua cara, lembrando que cientistas afirmam não existir a escuridão, tão somente a ausência de luz.
Então, podemos afirmar que a esquerda só existe se houver a direita? Bem, daí depende. Se a referência for relacionada à política brasileira nos dias atuais temos sérias dúvidas.
Isto porque, só não vê quem não quer, é fato público e notório, verdade verdadeira, que ao longo da última década a política nacional em seu pluripartidarismo de fachada, vive a ditadura de um único partido, resultado do silêncio, da conivência, do comodismo e da incapacidade de outras siglas partidárias para fazer o que se denomina oposição democrática.
A “ditalula” partidária buscou, através de vários instrumentos de controle da opinião popular e da “distribuição de bolsas”, transformar os eleitores em clientes, fato este, que, diga-se de passagem, não é lá muito criativo, pois já vivemos (e em alguns locais isto ainda acontece) o coronelismo, que trocava botas por votos. Percebe-se a verdade do dito popular, “é do couro que nasce... a vitória nas urnas, seja ela com as botas ou com as bolsas.
A articulação partidária monopolista, eufemismo para troca de favores ou clientelismo, avançou dos eleitores para as siglas partidárias, estas se transformando em verdadeiras “imobiliárias”, vendendo, trocando ou alugando votos nas tribunas, para validar as ações de um único partido.
A tão decantada reforma política não interessa (como também outras reformas, previdenciária, fiscal, tributária), pois uma única sigla determina o caminho a seguir, buscando apenas e tão somente, a permanência no poder a qualquer custo.
Fica difícil enxergar saídas, quando as entradas que provocam o debate e a reflexão, foram estrategicamente fechadas, quer na dominação dos  clientes populares (massa), quer pelo silêncio dos clientes governamentais (partidos).
O Brasil se caracterizou em toda sua história pela pluralidade e diversidade, seja ela racial, cultural, biológica, religiosa ou de ecossistema.
É triste ver um país assim tão cheio de cores, nos seus tons, semitons e mil tons geniais e ter que oPTar entre o vermelho e o vermelho.

Podres poderes. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Não temos que aprender a perder


Muitos querem transformar a derrota da seleção brasileira como “normal” e decididamente ela não foi. Não podemos normalizar as coisas, o que, diga-se de passagem, tem acontecido em outros campos no país, como a educação, a saúde, a segurança.  Tudo é normal, tudo acontece porque acontece e estamos conversados.
Ouvimos o técnico Felipão buscando explicar a derrota dizendo: “A Alemanha fez o melhor jogo da Copa e nós, o pior. A vida segue. A minha vida continua e a dos jogadores também”. Não, Felipão, não é tão simples assim.
O choro de milhões de crianças não merece explicações tão “lógicas” que não educam para o necessário aprendizado de uma derrota. Verdadeiramente, não se aprende com os erros. Aprendemos e muito, estudando, entendendo e corrigindo os erros.  Vamos ao aprendizado.
A Alemanha se preparou muito para a Copa. Encararam-na como uma competição. Estudaram cada jogador do time, definiram o esquema tático, respeitaram os adversários, fizeram planejamento, montaram as estratégias e focaram no objetivo, com a consciência de que os outros países fariam o mesmo. Tanto que ficaram surpresos com o placar, pois não sabiam verdadeiramente, que o futebol deles já estava adulto e o nosso ficou no moleque.  É tóis ou seria, é toys?  (brinquedos).
A Copa do Mundo aconteceria nos nossos teatros (estádios) e possuíamos os melhores atores (jogadores). O “nosso talento e a nossa arte” definiriam naturalmente o placar.  
Amargo aprendizado. A arte e o talento por si só não resolvem um jogo. Precisamos “baixar nossa bolinha” e aprender com os outros, já que a maioria dos nossos jogadores vive outros ambientes em seus times nos campeonatos pelo mundo. O Brasil necessita encarar a Copa como uma empresa que vive o mundo globalizado. Assim, planejamento, estudos numéricos qualitativos e quantitativos, análise de ambientes e mercados, organização, foco e determinação são essenciais. Não precisamos somente saber cantar o hino nacional.  Temos que aprender inglês, pois o futebol é hoje uma língua universal. Não dá mais para contar apenas com “técnicos boleiros”. Precisamos de lideres dentro e fora do campo.
A vitória ou a derrota começa a ocorrer antes do apito inicial e também não termina quando o jogo acaba. Não podemos viver do passado. Precisamos encarar os novos tempos, com novas estratégias, melhoria contínua, trazendo novas tecnologias, novas formas de pensar, em um universo onde tudo muda a cada segundo, com a consciência de não sermos mais os primeiros.
Neste sentido a derrota tão humilhante foi providencial. Se tivéssemos perdido por apenas 1 gol de diferença, continuaríamos acreditando em comentários ufanistas e propagandas ilusórias de televisão. Continuaríamos anestesiados e iludidos. O placar tão elástico demonstrou quantitativamente, realisticamente, literalmente, a enorme diferença entre a Alemanha e o Brasil.
Finalmente, o primeiro passo para a cura é reconhecer que estamos doentes. Definitivamente, então, não temos que aprender a perder.  Necessitamos aprender o porquê perdemos e o que temos que fazer daqui para frente para voltar a vencer.

Qualquer coisa, além disso, é admitir a derrota como se ela fosse tão normal como ver milhões de crianças chorando. 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Reflexões pós derrota

-O sonho não acabou- Pelo menos na padaria aqui perto de casa.
- Perdi o bolão- Marquei 8 a 1 para a Alemanha (timinho incompetente).
- Apesar da derrota, não mudarei meu voto. Continuarei votando na mulher: Angela Merkel para presidente do Brasil
- Fred tem personalidade- Não jogou nenhum jogo.
- O Felipão foi o melhor técnico da seleção brasileira de 2014.
- Poderia ser pior - Já imaginou 7 a 1 para a Argentina?
- O Hulk foi nosso herói. Pena que amarelou...
- No final do jogo, ouviu se no estádio o locutor dizer: The Oscar gols to (ou seria one?).
- O Neimar fez falta- Poderia ter sido 7 a 2. 
- A uva passa, o Parreira também.
- Ah, faltou o Robinho e também o Kaká! Se eles tivessem na seleção...nada teria mudado. 
- A culpa foi da numerologia- Mês 7, a soma de 2014 dá 7, e cometemos 7 pecados capitais: Na concentração, alimentamos a Luxúria; na Copa perdemos a Gula de gols;na organização permitimos a Avareza da Fifa; nos treinos praticamos a Soberba; na semifinal jogamos com muita Preguiça, provocamos a Ira do torcedor e terminamos com Inveja da Alemanha.
- Saímos da Copa. Agora é já pra cozinha. E o que tem de louça suja...
- A CBF informa: Sai a Brazuca, entra a Bazuca. ( Em Poços: o Buzuca)
-O Brasil foi desclassificado, mas não perca estes classificados: Vem aí o Campeonato Brasileiro. Estou vendendo minha televisão/ Troca se as costas do Neimar pela Costa do Marfim/ Vende se um centroavante que nem fred nem cheira/ Troca-se a taça Jules Rimet pela Bruna Marquesini. Tratar com Nei Marquesini./ Troca-se o Hulk por um tanque de lavar roupa suja
- Amanhã é segunda feira. #bora pagar os carnês...


domingo, 6 de julho de 2014

Traição



Depois de tanto tempo convivendo juntos, não imaginava que aconteceria.  Afinal, sempre fomos tão próximos. Ela nunca saiu da minha cabeça e é responsável por muitas lembranças inesquecíveis.  
O primeiro encontro, o primeiro beijo, o casamento, as viagens...
Como isto pode ocorrer?  Eu sempre confiei nela.
Irão dizer para tentar me consolar: “olha acontece com todo mundo e mais cedo ou mais tarde iria acontecer com você”. Sei que é verdade.
Mas, qual o motivo?
Será que é o fato de já não ser mais tão jovem?
Será que não cuidei dela como deveria?
Perguntaram-me se continuaremos a viver juntos.
E vou fazer o quê, se ela faz parte de mim.
Sem ela, não sei quem sou, nem o que fiz.
 Vamos continuar vivendo juntos, mesmo tendo a certeza que, a qualquer momento, poderá ocorrer novamente. 
Se isto aconteceu uma vez, não tenho dúvida que a situação poderá piorar ainda mais com o passar do tempo.
Qual o remédio?
Sinceramente não sei. 
Talvez eu vá procurar um médico, ou, quem sabe, amanhã já terei esquecido...
O fato é: o que fazer quando somos traídos pela memória?

Die götter sagen amen


Quiseram, os “Deuses do Futebol”, que em 1950, o Brasil perdesse a Copa do Mundo para o Uruguai em pleno Maracanã.
Quiseram, os mesmos “Deuses”, que em 1962, o ainda garoto Pelé, saísse da Copa por contusão e desse espaço às pernas tortas de Garrincha para nos levar ao título. Deuses escrevem certo por pernas tortas.
Em 1986, os “Deuses” tramaram e o grande Zico perdeu o pênalti e o Brasil foi eliminado. Oito anos depois, os “Deuses“ resolveram e o italiano Roberto Baggio chutou a bola nas alturas e ganhamos a Copa de 1994.
Agora em 2014, os “Deuses do Futebol” decretaram e a trave nos salvou em duas oportunidades contra o Chile.  Mas, como Eles seguem suas próprias leis e nós humanos desconhecemos, impuseram agora, a nós brasileiros, ironicamente, a perda de uma das principais “vértebras” da nossa seleção. Aquele que de certa forma, acreditávamos, levaria o Brasil nas “costas” até o título. Aquele que mesmo não estando no melhor de suas apresentações, nos dava a esperança de que a qualquer momento inventaria algo divino e mágico e mudaria o nosso destino.
Alguns dirão que o Brasil sem Neimar é o mesmo que a Argentina sem o Messi, ou Portugal sem Cristiano Ronaldo. Não é.
Somos incomparavelmente um “país de chuteiras” e o futebol representa para nós muito mais que um esporte. O futebol é a nossa essência, o DNA de nossa auto-estima. O único capaz de fazer com que coloquemos a bandeira do Brasil em nossas casas e em nossos carros, que cantemos o hino nacional à capella, vistamos as cores verde e amarela e gritemos ao mundo ser brasileiro, com muito orgulho e muito amor, apesar de nossa indignação com todos aqueles que, nascidos aqui, não têm o mesmo sentimento, nas jogadas sórdidas da corrupção.
Contudo, se Neimar é a flexibilidade, o jogo de cintura da criação e não podemos mais contar com ele, David Luiz se tornou a espinha dorsal do time, com a garra, o talento e um jeito de bater na bola (10 para as 2) que nem os deuses conseguem explicar.
Perguntamos aos “Deuses do futebol”, o que irá acontecer?  Como faremos sem Neimar? Quem irá substituí-lo?
Humanamente, sabemos, não temos condições de responder com exatidão, de prever o futuro. Mas, talvez seja isto. Quem sabe, Neimar será sim substituído pela maior garra, maior vontade de vencer, mais disposição de todos os jogadores, que têm agora um motivo a mais para vencer.  Dar ao “amigo do peito”, um presente especial: o título de campeão do mundo.  
A força da amizade poderá ser nossa grande bandeira rumo ao hexa.
Die götter sagen amen. Que os “Deuses” digam amém.



terça-feira, 24 de junho de 2014

Eu, o Vinho e Humphrey Bogart


Confesso. Achava verdadeira frescura quando em um restaurante, ou mesmo em um evento, notava algumas pessoas com taças de vinho na mão fazendo “caras e bocas”.  Estariam pensando em serem fotografadas para a revista Caras? Pensavam ser “esse cara sou eu”? Certa vez, tive a pachorra, a paciência, em um restaurante de ficar imitando um sujeitinho que em mesa próxima, ao saborear um vinho, fazia ares de Humphrey Bogart no filme Casablanca. (alguém se lembra?).  
Vinho para mim era para ser tomado (assim mesmo) como qualquer outro tipo de bebida, e, preferencialmente no inverno. A única diferença era o vasilhame (taça).  Assim como quem achava existir apenas 2 tipos de mulheres (as nacionais e as estrangeiras) acreditava também existir apenas 2 tipos de vinho: o branco e o tinto. O tal do vinho rose para mim era uma mistura indesejável do branco com o tinto, apenas isto. Espumante era literalmente, um vinho com gás, tão somente isto.
Se você pensa que comprei uma garrafa azul de Liefbraumilch como se fosse o melhor vinho do mundo, você está totalmente enganado. Não comprei apenas uma garrafa, comprei várias, inclusive presenteei amigos. Afinal, verdadeiramente não existe presente melhor para amigos de verdade do que um vinho de verdade. Naquela época, era verdadeiro também o seguinte: mesmo que a gente não conseguisse pronunciar, quanto mais consoantes tivesse o nome do vinho que a gente bebia, mais chique a gente se sentia.
Hoje, conheço ainda muito pouco desta bebida milenar. Contudo, fruto de algumas palestras e cursos, já sei algumas diferenças entre o branco, o tinto e o rose (que não é somente a cor) e reconheço a magia, o encantamento e o prazer de degustar um vinho utilizando todos os recursos de minhas papilas degustativas (eu nem sabia possuir este acessório na língua).
Certo, me falta muito para ser sommelier, um verdadeiro connaisseur (para rimar e fazer biquinho em francês) do universo vinícola, mas quando vejo alguém com uma taça de vinho na mão e percebo alguns gestos de quem está gostando e degustando, sei que ali acontece bem mais que o ato de ingerir uma bebida.

Começa ali um encontro, um momento especial, mágico e lúdico. E posso hoje, compreender melhor, um cavalheiro que com uma taça de vinho na mão fazia cara de Humphrey Bogart a esperar por sua Ingrid Bergman. 

Reflexões Matinais Rápidas



Algumas coisas em minha vida não deram lá muito certo. Talvez por desentendimento celestial em relação ao que eu estava querendo dizer. Dois exemplos ilustram isto. Um dos meus desejos era ir para a França e ver Paris do alto. Acabei em São Paulo no Alto do Pari. Recentemente, mais modesto, manifestei aos céus o meu desejo de conhecer o Chile. Não é que estes dias uns amigos de Poços marcaram um encontro comigo no bar Chili`s na Praça Pedro Sanches (nada contra). Ultimamente, tenho pensando muito em ir para Chicago, mas estou revendo este meu desejo, vai que...

terça-feira, 10 de junho de 2014

Brincar de outra coisa



Admiro (mas não posso dizer que me encanto) ouvir pessoas que sabem a Bíblia de “cor e salteado” e citam várias passagens da “Palavra de Deus”. Sinceramente, me cheira coisa de advogado que ao decorar o Código Penal, acredita ser excelente jurista. 
Mas, deixando tal considerando de lado e indo aos finalmente, quando ouço alguém citar aquela passagem de Jesus em sua fala “deixai vir a mim as crianças, porque delas é o reino dos Céus” (Mateus 19 ,13-15), tenho a certeza absoluta de que Ele queria é despertar a criança existente em cada um de nós.
Contudo, redescobrir o menino ou menina em meio a tanta “adultíce” para não dizer adultério, não é tarefa das mais fáceis. Por isto, por vezes, fico a reparar o comportamento das crianças buscando tirar delas algum ensinamento.
Assim, “ustrudia” estava eu a observar duas crianças brincando, quando em determinado momento o brinquedo que as divertia se quebrou. Observei então que elas até tentaram consertá-lo, mas, foi inútil. Não havia nada a fazer. Pensei - com minha cabeça de gente grande-: E agora, o que farão? Sairão correndo pra casa chorando e pedindo o auxílio dos pais?
A resposta veio no instante seguinte.
Uma delas virou para a outra e livremente proclamou: “Ah! Vamos brincar de outra coisa”.
E seguiram alegres como só elas sabiam ser.
Em determinada época de nossa vida, algo que parecia-nos o bem mais precioso, aquilo que nos fazia realmente felizes, se vai, se quebra, se despedaça em nossas mãos e tristes e apegados perguntamos aos céus: O que fazer?
O melhor ensinamento talvez seja este. O de ouvir a criança que existe em cada um de nós, seguir em frente e exclamar como quem descobriu a liberdade: - Ah! Vou brincar de outra coisa.

sábado, 7 de junho de 2014

A Copa e a Cozinha


Impossível ficar apático. Basta andar pelas ruas, conversar com as pessoas, ouvir o noticiário. O país passa por uma situação difícil e nós brasileiros estamos inseguros com o presente e incrédulos com o futuro. E não há nada pior que perder a fé no amanhã. Irão dizer que faz tempo que as coisas estão assim em uma tentativa de diluir os acontecimentos, tirardeles a força, reduzir seus impactos. Irão dizer que tal fala é um golpe para enfraquecer a democracia, impedir o desenvolvimento, sabotar determinada candidatura. O discurso vazio chega como fumaça para tentar impedir a visibilidade do momento que atravessamos. Os fatos se sobrepõem às ideologias, descortinam a retórica, evidenciam os eufemismos, denunciam as dissimulações.
O Brasil vive a fantasia da Copa do Mundo e os malabares do circo buscam nos tirar o foco da realidade. Contudo, não reduz a dor civil de um país que se desgoverna no cotidiano. É a corrupção crescente, a crise na Petrobrás, a violência e as drogas nas ruas, a inflação que volta a ameaçar e, o que é pior, as instituições políticas, criminais, legislativas e judiciárias sem a credibilidade necessária para minimizar os impactos sociais e econômicos que o país sofre.
Sim, claro, iremos agitar nossas bandeiras, ficaremos com os olhos grudados na televisão torcendo para a seleção brasileira ou estaremos nos estádios assistindo aos jogos. Contudo, a Copa não esconde a cozinha. São pilhas de pratos e talheres sujos acumulados há anos e tão logo o evento mundial acabe, voltaremos novamente a pensar em quem poderá arruma-la. Ganhar a Copa do Mundo poderá nos deixar eufóricos e alegres por algum tempo, como uma droga que inebria e camufla a realidade. Perder a Copa nos fará voltar mais cedo para casa e dar de cara novamente com a nossa cozinha. O brasileiro comum está então dividido entre o entretenimento que a Copa proporciona e alivia um pouco a dor e os tantos carnês que necessita saldar, em meio à violência e a saúde tão debilitada.
Chegará então o momento eleitoral, que embora seja um instrumento democrático para depositar nosso voto de protesto ou mesmo de crença em algum partido ou pessoa, tem se constituído em mais um placebo para curar tantas doenças sociais, já que a descrença e o ceticismo assumiram o poder. E se o resultado da Copa nos parece incerto, embora exista quem afirme o contrário, o resultado das urnas infelizmente chegará com o sabor da apatia e da incredulidade da existência de vitoriosos.
Enfim, todos juntos vamos, prá frente Brasil, Brasil, salve a seleção. A Copa chegou, mas não esqueçamos que a cozinha nos espera tão logo o evento termine.

Amargor



Chega um tempo em que os olhos acordam lívidos, frios, sólidos.
Somente enxergam o que enxergam. 
A pedra é uma pedra, a flor é uma flor, a semente, semente. 
Tempo de não querer colher, por não querer plantar.
De não querer vencer, por não querer lutar. 
Tempo em que se aceita a existência do imutável.
O peixe aceita o anzol, o cavalo o laço, o pulso, a algema. 
Tempo de emudecer, resignar, aquietar. 
Jogar a toalha, já que a seca chegou.
Aceitar a navalha, já que a dor se instalou. 
Um tempo cético. Um tempo ateu. 
Chega um tempo em que o próprio tempo diz 
Chega.



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sabe de nada inocente


A Copa do Mundo é nossa e com o brasileiro não há quem possa. 
O país vive a expectativa de um evento mundial que será reflexo do que estamos construindo (ou destruindo?) ao longo do tempo. É notório que não conseguimos cumprir com toda a infra-estrutura necessária para realizar o evento. Mas e daí? O que isto vem demonstrar?  Nada que seja diferente do que há anos o brasileiro vivencia no seu dia-a-dia, pois também não conseguimos cumprir nossas metas na educação, na saúde, na segurança... E na Copa do Mundo seríamos outro país no padrão FIFA? Sabe de nada inocente.
Assistimos as greves, as paralisações, os movimentos sociais nas ruas. É notório como são desorganizados, sem metas claras, sem propostas factíveis, sem estrutura, sem líderes. Mas e daí? Sabe de nada inocente. Eles são reflexos da nossa própria desorganização diária, da ausência de ideais, da falta de lideranças, da nossa incompreensão da realidade. Perdemos nossa identidade e não sabemos quem somos nem para onde estamos indo. Transformaram-nos em marionetes e quando vamos exercer nossa cidadania já não somos mais cidadãos.
Na seleção brasileira dos 23 convocados, 19 jogadores estão no exterior. Mas e daí? Sabe de nada inocente. Eles não são muito diferentes dos milhares de brasileiros que não encontram oportunidades aqui e o passaporte carimbado alimenta a esperança de ser “contratado” por outro país.
Mas e o futebol brasileiro que encantava o mundo?  Sabe de nada inocente. Times sem entrosamento, sem regularidade, sem padrão, muito menos FIFA.  Mas e daí? O futebol é apenas o replay dos gols contras que estamos marcando em diversas áreas, já que a corrupção generalizada, a impunidade, os mandos e desmandos nos deixaram mais tristes, menos criativos, sem autoestima. Pedala Robinho!
Mas tudo bem. Após a Copa teremos as eleições e vamos mudar este jogo.

Sabe de nada inocente. 

domingo, 4 de maio de 2014

S de Senna


Senna se solidarizava sempre. Sabia sua sina: ser símbolo social. Sendo sábio, soube ser simples.

Sincretizava sambas-sinfonias, silvas-shakeaspeares, subúrbios-soçaites.

Solidário sintonizava sentimentos: seríamos seres servis, subnutridos? Subdesenvolvidas sucatas subservientes?

Stop.

Senna sepultou segregações, silenciando soberanos senhores.

Sabiam? Somos sul-americanos, somos sol, sertanejos seculares, sofisticados seres singulares.

Senna sorria sinalizando seriedade.

Sabia ser simpático sem sequestrar sinceridade.

Soldado, seu suor significava sangue. Seu semblante sentenciava soluços, segredos, sedes, sombras.

Sim, Senna sofreu.

Simultaneamente, somava sucessos, semeando sonhos.

Senna soube sutilmente superar sortilégios.

Sobre Senna, sinceros sinônimos: sensacional, sedutor, superior. 

Sobressalto! 

Senna saiu. Senna subiu.

Sem Senna, sem saída, somos só sobreviventes.

Sem sundays, sofás, sons... somos só silêncio.

SOS.

Somos sós.

Saudades suas.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Doentes


 Saúde e beleza fazem parte da busca desenfreada de tantos terráqueos nos dias atuais.
A beleza é mais um ponto de vista, que depende muito da vista e também do ponto.
A saúde não. Ela é por natureza multidisciplinar. Ela é conseqüência e não causa. Ela é a matéria prima pra tudo o que ser humano pode produzir.  Ela não é necessariamente o oposto da doença, pois existem muitos doentes saudáveis.
Para se ter saúde, é necessário o emprego digno e honesto que possa comprar o alimento que assegure a energia necessária ao trabalho.
E no trabalho, valer-se de equipamentos e do ambiente buscando preservar nossa integridade física e contar também com um patrão que nos preserve a integridade psicológica.  O trabalho precisa ser saudável para a gente ter saúde.
Para se ter saúde é necessário um teto, uma casa. Mais que isto, um lar e uma família que nos acolha e nos queira bem. Para ter saúde, carecemos do amor da família.
E além do lar, nossa saúde depende de água tratada, esgoto tratado, transporte público, a creche, a escola, um supermercado e também é claro, um posto de saúde e um hospital que respirem saúde nas instalações e nos profissionais que lá trabalhem.
Para se ter saúde é imprescindível contar com segurança.  Aquela que garanta a ida e a volta, que nos traga tranqüilidade em tempos de tantos conflitos. Imponderavelmente, para termos saúde, precisamos de paz.
Para se ter saúde, necessitamos do papo com os amigos, do esporte com os amigos, do lazer com os amigos, do abraço e do sorriso dos amigos.  A saúde anda de mãos dadas com a amizade.
Assim, a saúde vai muito além do nosso corpo físico, dos exames de alta tecnologia, dos equipamentos de geração avançada ou do atendimento por médicos de excelente qualificação técnica, na tentativa de garantir a continuidade de nossa existência.

Por tudo, não é difícil perceber, por tantas dores dos dias atuais, como a falta de carinho e de afeto, a ausência do diálogo, o desrespeito e a insensibilidade, a corrupção e a impunidade, pelas drogas que brotam das ruas, pela desvalorização e desqualificação do ser humano, que estamos, todos nós, muito doentes. 

domingo, 16 de março de 2014

INDIGNAI-VOS

Há anos assistimos à cansativa, exaustiva, enjoativa e repetitiva resposta para a ausência de resolução, a ineficiência e a morosidade da administração pública: o excesso de burocracia.
“Gostaríamos de ter mais agilidade para resolver este problema, mas, você sabe né? tudo na administração pública é moroso, é difícil, é complicado”. Esta é a frase mais utilizada pelos gestores públicos para as ditas “perguntas indesejáveis”, sejam elas feitas por jornalistas que precisam de informações para repassá-las à população, ou mesmo, endereçadas a um morador que necessita saber sobre a solução para os buracos existentes em sua rua. 
A frase é um antídoto que nada explica, mas que todo mundo tem que engolir goela abaixo. Fazer o quê? Acabamos, todos nós, por aceitar o inaceitável.  Faltou medicamento na farmácia popular? A culpa é da doença da burocracia.  O buraco da rua continua a fazer suas vítimas? O buraco é mais embaixo, é a burocracia.  Não conseguiu se resolver o problema do trânsito? Sabe como é a burocracia congestiona a rapidez das soluções.
Você é gestor público e não tem uma resposta conclusiva para um problema, não sabe o que vai dizer, a pressão popular aumentou?  Simples.  Use o antídoto. “Nós estamos juntando todos os nossos esforços para tentar resolver o problema. Porém, sabe como é, a máquina pública, o orçamento, a hierarquia, os processos, a impossibilidade da quebra de paradigmas, a lei de licitação, o capitalismo, a questão partidária, o aquecimento global...”  
O excesso de burocracia passou a ser justificativa para tudo o que acontece e o que deixa de acontecer. Algo crônico, insolúvel, irremediável.  Está na genética da administração pública de nosso país desde a república velha.
Como ninguém parece conseguir resolver e como também não aparece nenhum administrador público disposto realmente a isto, a burocracia se tornou este ente intangível, algo impalpável, abstrato e difuso- a resposta inquestionável para as nossas mazelas sociais.
A pergunta continua e já faz tempo:
Será que precisaremos de um milagre?


 (Cansado de assistir aos desmandos dos homens, Ele voltou à Terra Prometida. E foi realizando palestras, pregando à Palavra para todas as pessoas, principalmente para aqueles que, refestelados, se escondiam nos gabinetes. Dizia Ele. “Vós que estais à frente das comunidades, que têm o poder para a transformação, não vos acomodais com aquilo que possa prejudicar a vida e a dignidade do ser humano. Empenhai-vos e dedicai-vos verdadeiramente na resolução das questões que afligem, notadamente, todos aqueles que necessitam das ações públicas. Tirai vossas bundas das cadeiras palacianas, sejais luz e não vos conformeis com este mundo. Vigiai para não justificardes a vossa inoperância com palavras pomposas, destituídas de real significado. Lutais contra o inimigo. Indignai-vos!”).

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A você que passou dos 80



A você que traz nas ruas da face, as rugas do tempo.
Você que muito pouco ouve e muito poucos o ouvem também.
Que tem tanto a dizer, mas se aquieta em meio a tantas vozes que não sabem o que dizem.
A você que caminha lento e soluça de solidão nas manhãs de domingo.
Que tanto já viu e hoje ninguém mais vê.
Que ainda espera e, por vezes, se desespera de tanto esperar.
A você que plantou as sementes ou não teve sequer um chão pra plantar.
Que vive de recordações e de quem ninguém se recorda mais.  
Você que vive em asilo ou no exílio de um lar.  
Você que muito doou e hoje vive na espreita do verbo doar.
Que revela no olhar o sorriso do primeiro encontro,
o último abraço de um grande amigo,
 a lágrima e o riso,
o canto e o desencanto de viver.
Uma única palavra:

Perdão!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A beleza


Externa:

atrai,
 distrai,
trai
cai
esvai.

 Interna:

tece,
 aquece,
fortalece,
   amadurece,
   permanece.


Perdas e danos



É inimaginável a dor de um pai pela perda irreparável da vida de um filho. Mais que isto, como mensurar o tamanho deste sofrimento, se este pai acredita que a perda foi provocada por erros médicos? 
É incalculável o dano social provocado pela paralisação de serviços de transplantes de órgãos em uma cidade. Como calcular a perda de vidas humanas que poderiam ter sido salvas pelo ato voluntário da doação?
É impossível dimensionar a dor de médicos que têm sua credibilidade atingida e que de repente se vêem impedidos do exercício da profissão, presos em celas, suspeitos de terem cometido um crime? Como avaliar o dano moral e espiritual da perda da liberdade? Como colocar algemas em mãos que, livres, tinham o compromisso de salvar vidas?
É indescritível o dano provocado à imagem de uma cidade que tenha seu nome veiculado em todas as redes sociais e mídias tradicionais por supostamente abrigar uma rede clandestina de transplantes. Como medir o que isto afeta a idoneidade da classe médica deste município?
Sim, claro, temos a Justiça que tarda, mas não falha, ou que exatamente por tardar é falha. Tentamos acreditar que ela (a Justiça) se fará presente e dará o veredicto para tal situação. Contudo, quer isto aconteça ou não, cabe contabilizar que o vaso se quebrou e as partes coladas já não representam o mesmo vaso. 
Perdemos todos: os pais, os médicos, os doentes na fila de transplantes, a sociedade. 
O que nos resta? 
Apenas lamentar tanto sofrimento e calar nossa vontade imperiosa de julgar o certo e o errado. Refrear nossos inquestionáveis argumentos de absolvição ou condenação. Deter nossa pretensão de sentenciar a culpabilidade de alguém. 
Neste caso, o silêncio talvez seja nossa maior expressão de lamento. Não é omissão, é impotência. Silenciar, por vezes, é uma forma de pranto. É o grito contido de desalento entre tantas perdas e danos.

domingo, 19 de janeiro de 2014

"Armoço"

As ruas de uma cidade contam muito sobre o desenvolvimento, o crescimento comercial, a situação econômica de determinada comunidade. Mas, sobretudo, nos revelam, sociologicamente, como as pessoas vivem, seus hábitos, comportamentos e até, se mais atentos, o que elas pensam e sentem.
 A Rua Assis Figueiredo em Poços de Caldas é o termômetro do município. O  espelho de quanto à cidade cresceu nas últimas décadas. É possível detectar, nas fachadas das lojas, na chegada dos grandes magazines, no número cada vez maior de veículos e no passo apressado dos transeuntes que aquela Poços bucólica de anos atrás existe apenas em fotos amareladas pelo tempo.
Hoje, por ali, diariamente se encontram e se esbarram, comerciantes e comerciários, empresários e empregadas domésticas, profissionais liberais e políticos de todos os partidos (incluindo os não liberais), muitos pais e filhos e muitos filhos sem pais, “mautoristas” e “mortociclistas”, donas de casas e madames, jovens idosos e idosos jovens, pessoas ligando e desligando o celular, gente que vai e vem, que entra e sai, que fica e vai.
Em meio a tudo isto, há anos, Carlos observava cotidianamente a multidão. Já de muletas, em razão de um problema de saúde, sua figura imóvel, encostada geralmente na parede de um estabelecimento, contrastava com o frenesi existente nas calçadas. Os da nova geração passavam por ele como se Carlos fosse um poste e alguns até, quando notavam sua presença, se desviavam para não serem incomodados por um suposto pedido. Afinal, aquele sujeito ainda jovem e meio gordo, de barba por fazer, de camisa xadrez, calça jeans, parecendo um caubói sem cavalo, não combinava em nada com a moda e os modos dos dias atuais. A pressa no passo nos faz apressar a falta de apreço. 
Por outro lado, Carlos era muito conhecido, principalmente por políticos de todos os partidos, incluindo os não liberais, que o cumprimentavam costumeiramente, sendo que muitos até liberavam um dinheirinho rapidamente, pois, se sabe, existem coisas muitos mais importantes a serem discutidas e resolvidas. Como ficar conversando com Carlos sobre cavalhadas (seu assunto predileto) se o trânsito está ficando caótico, se existem pessoas precisando de atenção nas escolas e hospitais, se as drogas invadem as ruas e lares e, a violência, por ser tão costumeira, já nos deixou de violentar? 
Ah, Carlos, você não sabia que o mundo mudou demais e sua presença, seus assuntos triviais, sua risada marota e até infantil, já não cabiam na Poços de hoje. Você teimava em viver na Rua Paraná, que hoje Carlos, se chama Rua Assis.
Na ultima sexta feira, Carlos Donizetti Cerezani, o popular “Armoço”, nos deixou. Com certeza, não será nome de rua e nem terá seu nome citado no Google. A Rua Assis continuará seu movimento frenético e ninguém por ali notará sua ausência.
Alguém lá de cima o chamou para conversar sobre Cavalhadas e hoje, honrosamente, Carlos, o “Armoço”, já faz parte da Ordem de Cavaleiros de São Jorge. Alguém dúvida?