sábado, 17 de abril de 2010

Blogs: Facas e Facadas

Tem crescido no mundo as redes sociais, fruto da presença da Internet no cotidiano das pessoas. Blogs, orkuts, twitters, são os novos formatos que invadiram o mundo virtual. E como tudo o que é pessoal, cada um usa a sua maneira, de acordo com a sua cultura, sua formação, jeito de ver a vida e as coisas. Nada mais natural e democrático.
Em Poços de Caldas, não é diferente. Os blogs chegam onde a mídia tradicional (jornais, emissoras de rádio e televisão) tem dificuldades para alcançar. A velocidade, a facilidade de postagem de comentários, baixo custo e a interatividade são características que auxiliam o crescimento, leitura e audiência dos blogs.
Este instrumento se tornou então, um espaço de discussão e reflexão de muitos assuntos: literatura, política, esporte, comportamento, saúde etc. Os blogs têm contribuído para ampliar o conhecimento, a pluralizar a informação e principalmente, a formar redes de pessoas que possuam interesses comuns. Assim, se gosto de futebol e crio um blog sobre o assunto, em pouco tempo, inúmeros outros amantes do esporte estarão se comunicando comigo e neste contato, cria-se o que se pode chamar de inteligência coletiva, fruto da soma dos conhecimentos.
Daí a importância dos blogs nos dias atuais. Veículos de informação e formação cultural, científica, de cidadania até, através do convívio salutar entre opiniões divergentes.
O blog assim é faca que auxilia a cortar alimentos diferenciados formando uma “salada mista” salutar para a sociedade, pelas cores contrastantes, diversificação e pluralidade dos nutrientes.
Porém, se muitos que criam e utilizam os blogs têm esta concepção, outros infelizmente, se valem do mesmo instrumento como “arma branca” com o objetivo de alimentar desavenças, inimizades, semear inverdades e maledicências.
Atrás de um anonimato intencional ou de um codinome, se aproveitam de blogs de maior audiência e utilizam o espaço para caluniar, difamar e macular a imagem de pessoas e instituições.
Infelizmente, não há o que fazer, já que cada um usa a linguagem de acordo com a sua ética, sua moral e (in) compreensão do mundo.
Cabe ao leitor, pelo menos àqueles que acreditam no blog como instrumento do saber e do crescimento coletivo, separar o “joio do trigo”, norteado pela sabedoria milenar que nos ensina que “pessoas inteligentes discutem idéias, outras medianas discutem eventos e outras ainda discutem pessoas”.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A vida editada

Se cada um de nós tivesse gravado todos os momentos da própria vida, provavelmente, faríamos alguns cortes. Ou seja, sentaríamos em uma mesa de edição de imagens e eliminaríamos alguns momentos que não foram lá muito felizes. Algumas ações que nos prejudicaram e também aos outros. O acidente provocado por um gole a mais, um não que dissemos quando queríamos dizer sim e vice versa. Uma resposta errada, uma agressão física, uma mentira, enfim, uma decisão errônea que tomamos em determinado momento e que só posteriormente percebemos que foi equivocada. Nesta edição, logicamente, muito mais sintetizada, mostraríamos todos os momentos felizes, ou mesmo, faríamos vários filmes curtos, retirados do mesmo roteiro, com objetivos específicos. Um filme com final feliz, outro dramático, outro de suspense, um fato trágico. Estes seriam utilizados em ocasiões diferentes, e normalmente, repare você, já fazemos isto no cotidiano. Quando queremos emocionar, por exemplo, passamos o filme do nascimento do filho. Quando queremos criticar, citamos um fato em que nos sentimos prejudicados e assim por diante.
O que ocorre, porém, é que a vida é construída, dia após dia, e neste filme, não se permitem cortes. Há uma sequência que envolve muitos personagens, que compromete todo o roteiro e que não podemos “escolher” o que mais no interessa em determinado momento. Infelizmente, não podemos editar a vida. Mas, espere aí. Esta frase última pode ser editada aqui mesmo neste espaço, retirando o “in” e o “não “e ela ficaria assim: Felizmente podemos editar a vida.
Meus caros amigos, telespectadores, ouvintes e leitores, existe sim uma possibilidade de edição da vida: a mídia. Através das matérias que são veiculadas nos jornais, rádios, televisões, internet, podemos fracionar determinado assunto e veicular da forma com que imaginamos, ou, como imaginam e querem os repórteres, redatores, produtores, editores, proprietários dos veículos de comunicação etc.
Você concedeu entrevista a uma emissora de televisão e falou durante vários minutos sobre determinado assunto. Quando você foi assistir a reportagem, o que aconteceu? Cortaram muito do que você disse e colocaram apenas uma frase e que na verdade, não traduzia, no contexto, aquilo que você pensava.
Não fique triste. Isto já aconteceu na história da humanidade. Karl Marx, por exemplo, paga um preço muito caro até hoje, por ter dito, que “a religião é o ópio do povo”, quando no contexto, queria chamar a atenção das pessoas para os problemas gerados pelo capitalismo selvagem.
Naturalmente, existem outros lados da mesma moeda. Os meios de comunicação trabalham com as limitações do tempo e do espaço. Isto faz com que muito do material bruto seja cortado pela impossibilidade física de veiculação. Outro dado importante é que estes meios são empresas como quaisquer outras e enfrentam problemas: a competitividade acirrada, recursos humanos, impostos, atendimento às necessidades de clientes cada vez mais exigentes etc.
De qualquer forma (e que não me editem e nem distorçam o pensamento) é importante refletir como usuários (todos nós) dos meios de comunicação que nem tudo o que é veiculado corresponde à total veracidade dos fatos. Existem programas que, muitas vezes manipulam os fatos, que comprometem a vida de um profissional, de uma instituição, de uma pessoa, de uma comunidade, por fragmentarem inescrupulosamente a realidade. Geralmente são programas bem produzidos, inteligentes, mas que falham na ética, pois acreditam, literalmente, que os fins justificam os meios, custe o que custar. Mesmo que vidas sejam destruídas, empresas sejam extintas e uma comunidade seja exposta em rede nacional apenas por uma face de sua história.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O "caminhão" e o sonho

Você, com certeza, já enfrentou a seguinte situação: está de carro em uma rodovia e na sua frente trafega um caminhão. A rodovia é de pista única e a faixa contínua sinaliza que é proibida a ultrapassagem. O que fazer? Seguindo os princípios da direção defensiva, o melhor é reduzir a velocidade para estar compatível com a do caminhão e aguardar o momento propício e legal para realizar a ultrapassagem.
A administração pública (federal, estadual e municipal) é um caminhão pesado, pois carrega vários departamentos, secretarias, milhões de servidores e que deve trafegar em uma velocidade compatível com as leis de responsabilidade fiscal, diretrizes orçamentárias, licitação etc.
Desta forma, são muitas as pessoas que reclamam da burocracia e da conseqüente lentidão da administração pública, incluindo os próprios servidores públicos. Não é raro encontrar pelos corredores, servidores lamentando que não conseguem resolver determinado problema dado à velocidade do “caminhão”.
No início da carreira seja como concursado ou mesmo exercendo cargo de confiança, os servidores bens intencionados buscam aumentar a velocidade, agilizando processos, dinamizando as ações, criando alternativas. Surge até o “servidor voluntário”- aquele que tenta resolver os problemas trazendo de sua própria residência, algum equipamento ou ferramenta necessária ao melhor desempenho de sua função. Começam também a surgir os primeiros conflitos com outros servidores já acostumados (ou acomodados) à lentidão e a pouca resolubilidade do “caminhão”. Estes servidores bem intencionados se descabelam, discutem com outros do mesmo local de trabalho, começam a ter problemas de saúde, entram em depressão e pedem até afastamento temporário.
Tais fases são como as dos sintomas do luto, definidas pela psicologia: o choque, a negação, a raiva, a depressão e, por fim, a aceitação com o “modus operandis” do “caminhão”. O servidor percebe que não pode ultrapassar o caminhão (as leis não permitem), que se tentar aumentar a velocidade irá bater na traseira do caminhão (ter problemas de saúde) e que lhe cabe apenas reduzir a velocidade, ou seja, se adaptar com o tráfego lento da rodovia (se acomodar com a situação).
Os “motoristas” dos caminhões, por sua vez, passam também pelas mesmas frustrações: não conseguem dirigir na velocidade que esperavam (os tacógrafos não permitem), não têm o combustível (dinheiro) que imaginavam e ainda enfrentam as pressões naturais (ou não) da função, isto para não mencionar os “caronas” do poder.
O próprio ambiente público gera insatisfações. O servidor concursado a cada quatro anos é obrigado a conviver com um novo chefe, uma nova administração e novas diretrizes. Ao longo do tempo, este mesmo servidor já nem se incomoda mais e fica anestesiado e apático com as mudanças. Além disso, há uma competitividade entre os “cargos de confiança” para ver quem ganha a “confiança” do chefe e isto causa desconfianças e inseguranças no setor.
O assunto é amplo, o debate é nacional e as soluções são complexas. O descrédito é geral e os desanimados são em grande número. Porém, é necessário acreditar em novas formas de gestão pública para que os “caminhões” trafeguem mais rapidamente pela rodovia do desenvolvimento. Para muitos que há anos estão no serviço público e que já passaram por dezenas de vezes pelos mesmos problemas, isto não passa de utopia, um sonho impossível, pois, “nada vai mudar, a máquina pública é assim mesmo”.
É necessário acreditar na possibilidade concreta, no planejamento e em estudos, para que, mesmo em longo prazo se realize a troca dos pneus, com o caminhão em movimento.
A máquina pública está com as suas engrenagens enferrujadas consumindo as iniciativas e limitando as atitudes. Sem atitudes concretas, o sonho pode ficar cada vez mais distante tornando real a ironia observada em frase colocada no pára-choque de um caminhão: “O sonho não acabou. E ainda temos pão doce, maria-mole e queijadinha”.