segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Liberdade ainda que tardia

Todo sete de setembro, o Brasil comemora a independência do jugo de Portugal. Uma data cívica importante, mas não menos importante é lembrar que a ação de proclamar independência, não estabelece necessariamente a liberdade de uma nação. Não se liberta apenas por leis ou decretos. A Lei Áurea concedeu liberdade aos escravos, mas estes permaneceram presos durante anos aos seus tutores e ao sistema econômico, político e social. Um detento que sai do sistema prisional, ainda permanece preso nas ruas, na impossibilidade de conseguir um emprego e no preconceito social. Uma pessoa que saiba ler e escrever, pode não saber interpretar a sua própria realidade e estará dependente do patrão e do governo em suas várias esferas. Um pássaro acostumado a viver na gaiola, quando lhe concedem a liberdade, este não aprendeu a voar com suas próprias asas e nem a buscar o seu próprio sustento.
A liberdade vai muito além da constituição e a prisão não está somente nas algemas e nas celas. Libertar é possibilitar ao ser humano alcançar a sua dignidade, fruto do suor do seu rosto e do conhecimento.
Por extensão, um país só é verdadeiramente livre, quando, além da sua soberania, a sua gente tem condições de acesso à saúde, a educação e ao trabalho honesto. Um país só é verdadeiramente livre, quando assegura dignidade à sua população, não pelo assistencialismo que perpetua a miséria, mas pela possibilidade de cada cidadão gerar o seu próprio sustento. Um país só é verdadeiramente livre, independente e soberano, quando muito além da própria constituição, a justiça social se pratica no cotidiano.
E a educação tem papel fundamental na liberdade. Ela possibilita o conhecimento, que gera consciência e que promove a ação para uma vida melhor. Ela, a educação, gera a luz que permite enxergar o que acontece ao meu redor, em minha vida e na da sociedade onde atuo. A partir daí, posso ser um agente transformador, um cidadão em plenitude.
Mas, não somente a educação focada no profissional, no mercado de trabalho, que também pode ser escravizante. Mas, aquela que permite ao indivíduo, a reflexão, o raciocínio próprio e capacidade de escolha.
Com tudo isto, a liberdade assim pode ser ainda uma utopia. Mas, acreditar na utopia é também um exercício de liberdade.