quinta-feira, 28 de março de 2013

Felizes para sempre


Ao longo da vida conhecemos vários casais que estão juntos há 10, 20, 30 anos ou mais. Vivenciando longas-metragens ao invés de seguirem os curtas tão em moda nos dias atuais. E se perguntarmos a cada um como fizeram para permanecer juntos, apesar das diferenças, apesar dos problemas, apesar das discussões e dos conflitos, apesar do crescimento no número de separações, não iremos encontrar uma resposta única. Sim, porque existe um tempero próprio, um modo de fazer à moda da casa que resultou na cumplicidade, em um partilhar e compartilhar. A persistência venceu os problemas, a vontade de ficar junto venceu o cansaço.  O insistir venceu o desistir. Mas claro, não foi sem trabalho, não foi sem esforço. Porque amar também dá trabalho, exige paciência, requer cuidados e determinação. Não dá para dizer eu te amo e achar que tudo termina ali. Pelo contrário, tudo começa ali.
Dias atrás ouvimos uma pessoa afirmar que um relacionamento a dois só dá certo nas telas do cinema. Ousamos discordar. Conhecemos casais que estão juntos pela  aliança mútua de um compromisso firmado baseado em um roteiro de respeito e fidelidade. Casal perfeito? Longe disso, pois se reconhecem como humanos. Mas se esforçam diariamente para manter viva a chama em um universo onde tudo leva à descrença, à individualidade, ao egoísmo.
O monólogo, por vezes, é mais fácil. Ser o personagem principal sem precisar dividir as cenas, encanta e seduz. Por isto não são poucos os que pensam em viver tão somente o verão do encontro e paradoxalmente congelar os momentos felizes.  Sem receitas prontas, para vivenciar um verdadeiro filme de amor é essencial reconhecer que o inverno vai chegar e poderá fazer tremer o relacionamento. Por vezes, o outono fará cair às folhas. Contudo, insiste a esperança  que,, na sequência das cenas,  o calor voltará a aquecer os dias e os frutos virão ainda mais fortes.
Por tudo, ao receber um convite de casamento percebemos não ser um ato individual. É a oportunidade coletiva de renovar nossas crenças nas histórias de amor que acontecem diariamente na vida real por mais que nos pareça o contrário. 
O “Felizes para sempre” enfim, pode não ser apenas o título de filme romântico em cartaz nas telas de cinema. Pode ser realidade em plena luz do dia em uma segunda feira.  Basta querer e desejar profundo. Basta “seguir o roteiro” como, lá de cima, nos ensina o diretor. 

domingo, 10 de março de 2013

Fim da picada



Existem pequenas coisas que fazem parte da nossa vida há centenas, talvez milhares de anos, e que, compulsoriamente aprendemos a conviver, por mais que aquilo nos incomode. São coisinhas miúdas que talvez não merecessem estas linhas, mas hoje, não sei se por falta de assunto (ou porque o assunto em si me incomodou durante toda a noite) que resolvi logo de manhã redigir um pequeno texto, no tamanho da coisa. Inicialmente devo declarar que, ao longo dos anos, dei literalmente meu sangue para o assunto, prioritariamente ao sexo feminino, mesmo que contra a minha vontade. Em razão disso, imaginei um título para um filme do Zé do Caixão: “Só as fêmeas bebem nosso sangue”. Por outro lado, o esquerdo do cérebro lembrou-me do escritor polonês Kafka em “A Metaformose” e fiz um trocadilho infame (qual não é?) com “qué ficá”, um jeito mineiro de dizer que a coisa quer ficar vampirescamente ao nosso lado noite e dia. Nesta transfusão, o meu amigo “Gugol” revela a existência da probóscide (como é que vivi tantos anos sem esta informação?)- arma letal que perfura a pele e que contem substâncias anestésicas e anticoagulantes. Um verdadeiro exterminador do passado, presente e do futuro.
Embora a coisa ataque o nosso sistema nervoso, é preciso reconhecer sua biotecnologia: um sistema perfeito de canais internos faz o sangue circular livremente (o dele e principalmente, o nosso) e outro duto reaproveita 90% da água das fezes, algo que as cidades brasileiras deveriam aprender para melhorar o saneamento básico.
Mas o que mais chama a atenção, até porque sonoro (e também nos tira o sono) é a eficiência aerodinâmica (ou seria hemodinâmica?) das suas asas (azar o nosso). Durante o voo, as patas dianteiras ficam encolhidas e as traseiras são alongadas para trás e as turbinas são acionadas pelas asas em até 300 batidas por segundo. As patas longilíneas e leves auxiliam na aterrissagem. “Atenção senhores passageiros! Em poucos segundos, estaremos pousando na pele daquele cara ali. A hemobrás avisa e ANVISA: o sangue é nosso!”.
Você deve estar pensando: É o fim da picada, alguém perder tempo em escrever sobre isto. Também acho este texto, chato, cricri e pernilongo.  Mas espere um pouco.  Acabei de perceber um culex quinquefasciatus rondando minha cabeça. Agora ele, melhor dizendo, ela está na parede do quarto. Sangue do meu sangue. Vai ser um tapa só... é agora...Pá! 
- Ué, cadê o bicho?