domingo, 6 de julho de 2014

Traição



Depois de tanto tempo convivendo juntos, não imaginava que aconteceria.  Afinal, sempre fomos tão próximos. Ela nunca saiu da minha cabeça e é responsável por muitas lembranças inesquecíveis.  
O primeiro encontro, o primeiro beijo, o casamento, as viagens...
Como isto pode ocorrer?  Eu sempre confiei nela.
Irão dizer para tentar me consolar: “olha acontece com todo mundo e mais cedo ou mais tarde iria acontecer com você”. Sei que é verdade.
Mas, qual o motivo?
Será que é o fato de já não ser mais tão jovem?
Será que não cuidei dela como deveria?
Perguntaram-me se continuaremos a viver juntos.
E vou fazer o quê, se ela faz parte de mim.
Sem ela, não sei quem sou, nem o que fiz.
 Vamos continuar vivendo juntos, mesmo tendo a certeza que, a qualquer momento, poderá ocorrer novamente. 
Se isto aconteceu uma vez, não tenho dúvida que a situação poderá piorar ainda mais com o passar do tempo.
Qual o remédio?
Sinceramente não sei. 
Talvez eu vá procurar um médico, ou, quem sabe, amanhã já terei esquecido...
O fato é: o que fazer quando somos traídos pela memória?

Die götter sagen amen


Quiseram, os “Deuses do Futebol”, que em 1950, o Brasil perdesse a Copa do Mundo para o Uruguai em pleno Maracanã.
Quiseram, os mesmos “Deuses”, que em 1962, o ainda garoto Pelé, saísse da Copa por contusão e desse espaço às pernas tortas de Garrincha para nos levar ao título. Deuses escrevem certo por pernas tortas.
Em 1986, os “Deuses” tramaram e o grande Zico perdeu o pênalti e o Brasil foi eliminado. Oito anos depois, os “Deuses“ resolveram e o italiano Roberto Baggio chutou a bola nas alturas e ganhamos a Copa de 1994.
Agora em 2014, os “Deuses do Futebol” decretaram e a trave nos salvou em duas oportunidades contra o Chile.  Mas, como Eles seguem suas próprias leis e nós humanos desconhecemos, impuseram agora, a nós brasileiros, ironicamente, a perda de uma das principais “vértebras” da nossa seleção. Aquele que de certa forma, acreditávamos, levaria o Brasil nas “costas” até o título. Aquele que mesmo não estando no melhor de suas apresentações, nos dava a esperança de que a qualquer momento inventaria algo divino e mágico e mudaria o nosso destino.
Alguns dirão que o Brasil sem Neimar é o mesmo que a Argentina sem o Messi, ou Portugal sem Cristiano Ronaldo. Não é.
Somos incomparavelmente um “país de chuteiras” e o futebol representa para nós muito mais que um esporte. O futebol é a nossa essência, o DNA de nossa auto-estima. O único capaz de fazer com que coloquemos a bandeira do Brasil em nossas casas e em nossos carros, que cantemos o hino nacional à capella, vistamos as cores verde e amarela e gritemos ao mundo ser brasileiro, com muito orgulho e muito amor, apesar de nossa indignação com todos aqueles que, nascidos aqui, não têm o mesmo sentimento, nas jogadas sórdidas da corrupção.
Contudo, se Neimar é a flexibilidade, o jogo de cintura da criação e não podemos mais contar com ele, David Luiz se tornou a espinha dorsal do time, com a garra, o talento e um jeito de bater na bola (10 para as 2) que nem os deuses conseguem explicar.
Perguntamos aos “Deuses do futebol”, o que irá acontecer?  Como faremos sem Neimar? Quem irá substituí-lo?
Humanamente, sabemos, não temos condições de responder com exatidão, de prever o futuro. Mas, talvez seja isto. Quem sabe, Neimar será sim substituído pela maior garra, maior vontade de vencer, mais disposição de todos os jogadores, que têm agora um motivo a mais para vencer.  Dar ao “amigo do peito”, um presente especial: o título de campeão do mundo.  
A força da amizade poderá ser nossa grande bandeira rumo ao hexa.
Die götter sagen amen. Que os “Deuses” digam amém.