terça-feira, 17 de julho de 2012

Embalagem x Conteúdo


O sol e a lua, o dia e a noite, o claro e o escuro, a luz e a sombra.  A natureza nos ensina a dualidade das coisas e a beleza que existe pela integridade dos opostos.  A filosofia chinesa representa isto através do yin e yang- duas forças complementares que propõem o equilíbrio dinâmico de tudo o que existe. Assim o positivo não é bom ou mau, é apenas o complemento do negativo.  Filosofias à parte, o que isto teria a ver com a política?
 Se no Brasil, em tempos não tão remotos, a política se dividia entre a esquerda versus direita, a implantação do pluripartidarismo e as coligações colocaram um ponto final nestes conceitos e voltamos para outra forma de divisão, qual seja, situação versus oposição. Assim, a situação (quem está no exercício do poder) disputa o espaço político com a oposição (os que pretendem alcançar o poder).  Na disputa eleitoral, o que se propõe ao eleitor é a dualidade: a escolha entre a continuidade ou a mudança, em outras palavras, o que já existe e o que se propõe a ser novo. Todos estes rótulos (situação x oposição, continuidade x mudança, antigo x novo) pretendem a separação através dos rótulos e diluem o conteúdo, aquilo que realmente deveria interessar: a solução dos problemas da comunidade, notadamente daqueles que dependem mais das ações públicas. 
Se todos os partidos querem (é o que apregoam) o bem estar da população, a solução dos problemas, o desenvolvimento da cidade, qual a razão da divisão? Dirão que é a maneira de solucionar, a forma de gestão. Balela. Os programas de governo em sua maioria são montados tempos antes das eleições, muitos retirados da Internet e  se tornaram commodities, ou seja, comum a todas as cidades: educação, saúde, habitação, emprego...Depois faz-se um bem bolado e ajusta-se com alguma coisa específica da comunidade e pronto: saí um programa de governo fast food.
Por  outra análise, embora sejam instrumentos importantes para a construção democrática, os partidos políticos (embalagens) são tantos que a ideologia (conteúdo) se diluiu. Então, ser contra ou a favor não está baseado em nenhum conceito ideológico, forma de gestão ou existência de valores, dependendo apenas das contingências. O contra é aquele que hoje não está ocupando um cargo público eletivo. De novo, a solução dos problemas fica em segundo plano, já que o importante é o exercício e as benesses do poder.  
Em se falando de Poços de Caldas, alguns políticos locais se referem ao que denominam de PPC - “Partido de Poços de Caldas”, que filosoficamente seria a convivência em harmonia daqueles que embora com posicionamentos diferentes, tenham um objetivo comum: melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Seriam os prótons e elétrons unidos com o mesmo objetivo em seu resultado: a luz. Claro que ninguém é tão ingênuo de crer que isto seja factível, pois não chegamos ainda a este grau de evolução. Porém, como o sonho e a realidade também são complementares, por que não acreditar que isto possa acontecer um dia?
Enfim, independente de quem sejam os futuros escolhidos para as cadeiras do executivo e do legislativo em nosso município,  esperamos que estas funções possam ser ocupadas por aqueles que verdadeiramente busquem,  além dos rótulos, das amizades e das imposições partidárias,  a melhoria da vida dos cidadãos e a preservação deste nosso “santuário ecológico”.  Que além do barulho das propagandas políticas, cada eleitor possa escolher no silêncio da sua consciência, aqueles que possuírem o  melhor conteúdo e não somente a melhor embalagem.  Assim seja!