sábado, 23 de maio de 2015

Universitários sem universo

Outro dia, estando em reunião pedagógica, em meio a discussões, papéis, relatórios, avaliações, planejamentos de aula, números e metas, refleti sobre o que estava ocorrendo e me questionei: Onde foram parar os nossos sonhos?
Dias depois, ainda incomodado com tal pergunta, percebi que os sonhos continuam existindo sim, porém, eles parecem estar se tornando cada vez mais individuais, mercadológicos, por vezes, mesquinhos, repetindo o bordão do ter para ser.
Assim, talvez não existam mais tantos sonhos de buscar a cura das pessoas. Mas, os de possuir uma bela casa, um lindo carro na garagem, viagens para o exterior, ao se tornar um médico. Talvez não exista mais o médico da família e tão somente a família do médico.
Talvez não tenhamos mais tantos sonhos de lutar por justiça social, por “um mundo melhor”, cobrando das autoridades que apliquem bem os recursos públicos. Mas, o “sonho” de ser reconhecido pela sociedade, de aparecer na “telinha”, de poder dar “carteirada” em eventos, sendo jornalista. Talvez não exista mais o “porta voz” do social, mas apenas as janelas do individual.
Talvez não percebamos mais tantos sonhos que abracem causas coletivas, já que a lei da sobrevivência a qualquer custo, a busca pelos padrões impostos da tão decantada “qualidade de vida”, nos retire a qualidade devida de buscar a consciência universal de que todos somos um.
E foi assim, pensando em sonhos coletivos, que refleti sobre o Fies- o programa de financiamento estudantil criado pela nossa “pátria educadora”. É triste ver os sonhos interrompidos e desfeitos de tantos jovens e de tantas famílias pela impossibilidade de acesso a um curso superior. É desanimador sentir a forma desumana e insensível de cuidar dos sonhos de um governo que “alimentou” esta possibilidade, e, depois deixou milhares com “fome”.
Mas, o que mais incomodou é ver a passividade, a letargia dos universitários que já asseguraram o seu acesso aos bancos de uma faculdade. Esperava eu, em minha já cansada dor civil, ver estudantes de todo o país nas ruas. “Caras pintadas” exigindo o cumprimento do que foi prometido, sensibilizados com aqueles que foram alijados de forma tão abrupta dos bancos do ensino superior. Imaginava assistir pelas emissoras de televisão, jovens de todo o país iluminados pela causa, gritando palavras de apoio, expondo faixas com mensagens de solidariedade aos “colegas de classe”.
Senti então, este silêncio apático e o cansaço de jovens já tão velhos. Este outono frio e sem sol, quando o verão dos anos deveria convidar para o movimento. Senti corpos cheios de vida e vazios de lutas. Sarados por fora e tão debilitados em seu interior.
Universitários sem universo.