segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Monotrilho: obesidade mórbida

Um domingo destes acordei cedo e ao fazer minha higiene corporal (que coisa meiga!) reparei ao olhar no espelho que minha silhueta (ops) estava um pouco protuberante (leia-se barriguinha avantajada). Mais que depressa como todo cara de meia idade (seja lá o que isto signifique) coloquei meu jogging (nome fresco para calça de moletom) e fui praticar Cooper (nome fresco para caminhar) na Avenida João Pinheiro.
Durante a caminhada notei que tal avenida possuía duas faces totalmente diferentes. Até um determinado trecho, a avenida é bem cuidada, várias empresas inclusive têm ali sua propaganda e são muitas as pessoas que por ali caminham ou mesmo pedalam a sua bike (nome fresco para bicicleta). Aliás, não é por acaso que somente em determinado trecho é que existe ciclovia. Percebi que nestes trechos de boa forma, muitas pessoas que circulam são realmente atletas. Têm cara de atleta, corpos de atleta, barrigas de atleta e eu... apenas pé de atleta.
Foi com esta percepção que notei a grande diferença, a mesma que existia entre mim e os sarados, entre trechos da avenida. Alguns trajetos de ambos os lados da avenida têm perfil de atleta, parecem mais ágeis, têm cara de saúde e muita gente caminhando. Já outros trechos da mesma artéria (que devem realmente estar entupidos) são diferentes: mal tratados, parecem esquecidos, cheios de mato e árvores opulentas, com pouca gente trafegando. Pensei então, qual seria a causa?
Se você, andarilho errante, disse; “o monotrilho”, acertou na mosca. Com esta mesma descoberta, como um médico que examina um paciente, já aviei o diagnóstico: o monotrilho sofre de obesidade mórbida. Um problema crônico de excesso de peso, geralmente mal tratado e com muitas causas, principalmente o fator sedentarismo. Ora, o monotrilho está há anos sem atividade, carrega um peso de muitas toneladas em seus 6 quilômetros de extensão e segundo dizem, tem na sua genética, ou seja, na lei que autorizou a sua construção, alguns equívocos.
Mas, continuando a minha caminhada, refleti, como muitos: qual a solução, o tratamento adequado para a obesidade mórbida do monotrilho? É certo que muita coisa pesa na balança e qualquer solução precisaria de muita fibra. Uma possibilidade seria a reativação do monotrilho. Mas, o investimento a ser feito consumiria muitos recursos e se este voltasse a operar provavelmente seria deficitário. Outra saída seria um tratamento alternativo: criar nova função para o monotrilho. Mas as indicações surgidas até o momento parecem inócuas, como a de manter um paciente vivo respirando com a ajuda de aparelhos. Outra solução definitiva seria o tratamento cirúrgico, ou seja, a demolição. Porém, isto também necessitaria de altos investimentos e sem retorno político.
Quem sabe então, refleti caminhando, que o melhor mesmo seria não fazer absolutamente nada, deixar como está para ver como fica. Seguir a sabedoria popular que preconiza “o que não tem remédio, remediado está”. Talvez somente uma junta médica, formada por vários profissionais, arquitetos, engenheiros, psicólogos, técnicos de transportes e a comunidade podem encontrar a melhor solução.
Mas, voltando à minha barriguinha, sabe que, olhando bem, até estou achando ela sexy...