Confesso. Achava verdadeira frescura quando em um
restaurante, ou mesmo em um evento, notava algumas pessoas com taças de vinho
na mão fazendo “caras e bocas”. Estariam
pensando em serem fotografadas para a revista Caras? Pensavam ser “esse cara
sou eu”? Certa vez, tive a pachorra, a paciência, em um restaurante de ficar
imitando um sujeitinho que em mesa próxima, ao saborear um vinho, fazia ares de
Humphrey Bogart no filme Casablanca. (alguém se lembra?).
Vinho para mim era para ser tomado (assim mesmo) como
qualquer outro tipo de bebida, e, preferencialmente no inverno. A única
diferença era o vasilhame (taça). Assim
como quem achava existir apenas 2 tipos de mulheres (as nacionais e as
estrangeiras) acreditava também existir apenas 2 tipos de vinho: o branco e o
tinto. O tal do vinho rose para mim era uma mistura indesejável do branco com o
tinto, apenas isto. Espumante era literalmente, um vinho com gás, tão somente
isto.
Se você pensa que comprei uma garrafa azul de Liefbraumilch
como se fosse o melhor vinho do mundo, você está totalmente enganado. Não
comprei apenas uma garrafa, comprei várias, inclusive presenteei amigos.
Afinal, verdadeiramente não existe presente melhor para amigos de verdade do que
um vinho de verdade. Naquela época, era verdadeiro também o seguinte: mesmo que
a gente não conseguisse pronunciar, quanto mais consoantes tivesse o nome do
vinho que a gente bebia, mais chique a gente se sentia.
Hoje, conheço ainda muito pouco desta bebida milenar.
Contudo, fruto de algumas palestras e cursos, já sei algumas diferenças entre o
branco, o tinto e o rose (que não é somente a cor) e reconheço a magia, o
encantamento e o prazer de degustar um vinho utilizando todos os recursos de
minhas papilas degustativas (eu nem sabia possuir este acessório na língua).
Certo, me falta muito para ser sommelier, um verdadeiro connaisseur
(para rimar e fazer biquinho em francês) do universo vinícola, mas quando vejo
alguém com uma taça de vinho na mão e percebo alguns gestos de quem está
gostando e degustando, sei que ali acontece bem mais que o ato de ingerir uma
bebida.
Começa ali um encontro, um momento especial, mágico e
lúdico. E posso hoje, compreender melhor, um cavalheiro que com uma taça de
vinho na mão fazia cara de Humphrey Bogart a esperar por sua Ingrid Bergman.