segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ai se eu te pego

Estou convencido que o mundo se divide em duas partes distintas: os despertos e os adormecidos. Os despertos (majoritariamente sem o prefixo des) fazem o máximo para não despertar mais gente. Quanto menor o número de acordados, maior o lucro acordado. É a velha máxima: poucos com a corda toda e muitos com a corda no pescoço.
Vivemos em um acordo comum de poucos médicos e muitos pacientes. Os primeiros aplicando a anestesia, os outros, anestesiados. Vale lembrar que a palavra anestesia vem do grego significando ausência de sensação. Melhor não sentir, melhor aliviar a dor para vivermos felizes.
As drogas do mundo moderno estão aí, não somente nas baladas, mas, embaladas em todos os campos do (des) conhecimento humano: na política, no comércio, nas artes, na religião, na ciência, na comunicação, no campus universitário, no hipocampo, no Campo do Meio e no meio do campo.
A sutileza é inebriante: a droga, em suas diversas embalagens, é injetada lentamente na corrente sanguínea e, sem percebermos, somos induzidos a um estado letárgico, de sonolência e apatia. O objetivo é ter um único padrão de conduta e uniformidade e, se a unanimidade é burra, os acordados não são. E para que a padronização seja levada e louvada pelo maior número de pessoas, são utilizados eficazes instrumentos anestésicos. Entre estes, a tela da TV continua como a mais forte caixa de ressonância determinando o que é belo, o que é certo, o que é justo, o que é bom.
Tudo é fantástico no show da vida. O entretenimento é a ferramenta que alivia o sofrimento, o remédio genérico, a pílula para todos os males. (“Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar, do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar, lá, lá, lá, lá...”).
Todavia, a alegria tem custos e o baú da felicidade precisa vender. Assim, um dos exemplos mais simbólicos deste pacote de ofertas é o BBB, que nada tem de bom, nem de bonito, nem de barato. O Big Brother Brasil comercializa comportamentos, idéias, produtos e marcas, através de homens e mulheres atraentes em um doce far-niente sem culpa nenhuma. Chega a ser patético ver o jornalista Pedro Bial declamando textos, citando poetas e pensadores, tentando combinar flexões abdominais com reflexões sociais e comportamentais. Claro, isto também faz parte da bula e atrai, seduz e paralisa. Os telespectadores, sem que percebam, é que estão no paredão. Vende-se pelo contraste: a ilha da fantasia onde residem a beleza, o dinheiro e o prazer, anestesia a luta diária do assalariado no reality show do cotidiano. Melhor espiar a vida dos outros que olhar para a nossa. Melhor pensar em quem será o novo líder que liderar o próprio destino.
Mas, o show tem que continuar e ficamos estarrecidos ao ver na TV, dependentes químicos morando na Cracolândia. As imagens dos que estão doentes pelo crack nos seqüestram a capacidade de refletir que nós também estamos doentes e drogados em uma “Disneylândia” de consumismo, imagem e poder. Onde se encontra a saída?
Mas, quando tudo parece escuro, eis que, senão, quando, uma luz nos chega através dos intérpretes e decodificadores do momento contemporâneo. Os que estão acordados finalmente nos despertam para a verdade. Dentre eles, se destaca o efêmero filósofo Michel Teló, guru dos novos tempos e capa recente em uma revista de informação e circulação nacional. Para Teló, o mundo atual vive impondo valores, martelando regras como um aspirador a subornar mentes e a padronizar condutas sociais. Muitos até buscam uma saída para não serem absorvidos pelo consumismo e pela indústria cultural. Mas, o ”ai se eu te pego” nos encontra na TV, no rádio, no carro de som e no som do carro, na Internet, no cantarolar do nosso vizinho. O nosso esforço é impotente para vencer o sistema. É pau, é pedra, é o fim do caminho. O jeito então é se adaptar? Se conformar? Se ajustar? Novamente, o sábio Teló nos auxilia. Segundo ele, o único jeito é dar uma “fugidinha...”. Socorro!