Há anos assistimos
à cansativa, exaustiva, enjoativa e repetitiva resposta para a ausência de
resolução, a ineficiência e a morosidade da administração pública: o excesso de
burocracia.
“Gostaríamos
de ter mais agilidade para resolver este problema, mas, você sabe né? tudo na
administração pública é moroso, é difícil, é complicado”. Esta é a frase mais
utilizada pelos gestores públicos para as ditas “perguntas indesejáveis”, sejam
elas feitas por jornalistas que precisam de informações para repassá-las à
população, ou mesmo, endereçadas a um morador que necessita saber sobre a
solução para os buracos existentes em sua rua.
A frase é um
antídoto que nada explica, mas que todo mundo tem que engolir goela abaixo.
Fazer o quê? Acabamos, todos nós, por aceitar o inaceitável. Faltou medicamento na farmácia popular? A
culpa é da doença da burocracia. O
buraco da rua continua a fazer suas vítimas? O buraco é mais embaixo, é a
burocracia. Não conseguiu se resolver o
problema do trânsito? Sabe como é a burocracia congestiona a rapidez das
soluções.
Você é
gestor público e não tem uma resposta conclusiva para um problema, não sabe o
que vai dizer, a pressão popular aumentou?
Simples. Use o antídoto. “Nós
estamos juntando todos os nossos esforços para tentar resolver o problema. Porém,
sabe como é, a máquina pública, o orçamento, a hierarquia, os processos, a
impossibilidade da quebra de paradigmas, a lei de licitação, o capitalismo, a
questão partidária, o aquecimento global...”
O excesso de
burocracia passou a ser justificativa para tudo o que acontece e o que deixa de
acontecer. Algo crônico, insolúvel, irremediável. Está na genética da administração pública de
nosso país desde a república velha.
Como ninguém
parece conseguir resolver e como também não aparece nenhum administrador
público disposto realmente a isto, a burocracia se tornou este ente intangível,
algo impalpável, abstrato e difuso- a resposta inquestionável para as nossas
mazelas sociais.
A pergunta
continua e já faz tempo:
Será que
precisaremos de um milagre?
(Cansado de assistir
aos desmandos dos homens, Ele voltou à Terra Prometida. E foi realizando
palestras, pregando à Palavra para todas as pessoas, principalmente para aqueles
que, refestelados, se escondiam nos gabinetes. Dizia Ele. “Vós que estais à
frente das comunidades, que têm o poder para a transformação, não vos acomodais
com aquilo que possa prejudicar a vida e a dignidade do ser humano. Empenhai-vos
e dedicai-vos verdadeiramente na resolução das questões que afligem, notadamente,
todos aqueles que necessitam das ações públicas. Tirai vossas bundas das cadeiras
palacianas, sejais luz e não vos conformeis com este mundo. Vigiai para não
justificardes a vossa inoperância com palavras pomposas, destituídas de real
significado. Lutais contra o inimigo. Indignai-vos!”).