domingo, 16 de março de 2014

INDIGNAI-VOS

Há anos assistimos à cansativa, exaustiva, enjoativa e repetitiva resposta para a ausência de resolução, a ineficiência e a morosidade da administração pública: o excesso de burocracia.
“Gostaríamos de ter mais agilidade para resolver este problema, mas, você sabe né? tudo na administração pública é moroso, é difícil, é complicado”. Esta é a frase mais utilizada pelos gestores públicos para as ditas “perguntas indesejáveis”, sejam elas feitas por jornalistas que precisam de informações para repassá-las à população, ou mesmo, endereçadas a um morador que necessita saber sobre a solução para os buracos existentes em sua rua. 
A frase é um antídoto que nada explica, mas que todo mundo tem que engolir goela abaixo. Fazer o quê? Acabamos, todos nós, por aceitar o inaceitável.  Faltou medicamento na farmácia popular? A culpa é da doença da burocracia.  O buraco da rua continua a fazer suas vítimas? O buraco é mais embaixo, é a burocracia.  Não conseguiu se resolver o problema do trânsito? Sabe como é a burocracia congestiona a rapidez das soluções.
Você é gestor público e não tem uma resposta conclusiva para um problema, não sabe o que vai dizer, a pressão popular aumentou?  Simples.  Use o antídoto. “Nós estamos juntando todos os nossos esforços para tentar resolver o problema. Porém, sabe como é, a máquina pública, o orçamento, a hierarquia, os processos, a impossibilidade da quebra de paradigmas, a lei de licitação, o capitalismo, a questão partidária, o aquecimento global...”  
O excesso de burocracia passou a ser justificativa para tudo o que acontece e o que deixa de acontecer. Algo crônico, insolúvel, irremediável.  Está na genética da administração pública de nosso país desde a república velha.
Como ninguém parece conseguir resolver e como também não aparece nenhum administrador público disposto realmente a isto, a burocracia se tornou este ente intangível, algo impalpável, abstrato e difuso- a resposta inquestionável para as nossas mazelas sociais.
A pergunta continua e já faz tempo:
Será que precisaremos de um milagre?


 (Cansado de assistir aos desmandos dos homens, Ele voltou à Terra Prometida. E foi realizando palestras, pregando à Palavra para todas as pessoas, principalmente para aqueles que, refestelados, se escondiam nos gabinetes. Dizia Ele. “Vós que estais à frente das comunidades, que têm o poder para a transformação, não vos acomodais com aquilo que possa prejudicar a vida e a dignidade do ser humano. Empenhai-vos e dedicai-vos verdadeiramente na resolução das questões que afligem, notadamente, todos aqueles que necessitam das ações públicas. Tirai vossas bundas das cadeiras palacianas, sejais luz e não vos conformeis com este mundo. Vigiai para não justificardes a vossa inoperância com palavras pomposas, destituídas de real significado. Lutais contra o inimigo. Indignai-vos!”).