sábado, 11 de abril de 2009

Libertas FM: nas ondas de uma rádio pública

O rádio é o jornal de quem não sabe ler, é o mestre
de quem não pode ir à escola, é o divertimento
gratuito do pobre, é o animador de novas esperanças,
o consolador dos enfermos, o guia dos sãos- desde que
o realizem com espírito altruísta e elevado, pela cultura
dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil”.


As palavras acima são de Roquette-Pinto que em 1923 implantou a primeira emissora de rádio no Brasil, a PRA-2 Sociedade do Rio de Janeiro. Mesmo que nos dias atuais, a tecnologia tenha alterado significativamente o panorama da comunicação, não só no país, mas em todo o mundo, principalmente através da Internet, as palavras do “pai da radiofonia no Brasil” são significativas e indicam o papel que o rádio pode desempenhar em uma comunidade. Assim, nos parece, foram os princípios que motivaram a criação da Rádio Libertas FM em Poços de Caldas.
A implantação da emissora só se tornou possível graças à iniciativa de várias pessoas, dentre elas, a do ex-prefeito Ronaldo Junqueira, que em 1973, encaminhou um projeto para a Câmara Municipal, aprovado no mesmo ano, através da Lei Municipal 2.149, de 23 de dezembro de 1973. Feito isso, houve a compra dos equipamentos importados dos Estados Unidos destacando-se o esforço de Ary Bressane, secretário-executivo do então Conselho Municipal de Turismo. Assim, no dia 05 de novembro de 1975, os sinais da Rádio Libertas FM eram sintonizados pela primeira vez, divulgando principalmente o turismo de nossa cidade e nossas belezas naturais. O nome “Libertas” teria sido sugestão do presidente do Conselho, o saudoso Mário Benedictus Mourão, fortalecido pelo não menos saudoso Vinicius Bertozzi, funcionário do mesmo Conselho e pai do locutor Pedro Bertozzi Neto. Para alguns, o nome teria também uma conotação política, já que o país atravessava um período de ditadura militar.
Por ser uma das primeiras emissoras públicas de freqüência modulada do interior, ter transmissores de grande qualidade e potência localizados no alto da Serra de São Domingos, pela qualificação de seus locutores e de sua programação, a Libertas FM era reconhecidamente uma das emissoras de destaque na radiofonia nacional e um instrumento importante de divulgação do turismo local.

“Na década de 70, o lançamento do sistema de
FMs impulsiona o surgimento de rádio educativas:
em 1971, começou a operar a Rádio
Cultura da Fundação Padre Anchieta e emissoras
ligadas a prefeituras municipais, como a Rádio
Libertas FM de Poços de Caldas (MG) que iniciou
suas atividades em 1975...”

(O Rádio Educativo no Brasil: uma reflexão sobre
suas possibilidades e desafios-Profa. Dra. Ivete
Cardoso do Carmo Roldão-PUC-Campinas
).


Daquela época para os dias atuais, e que me perdoem os leitores pelo salto histórico, a Libertas FM passou por diversas fases, por muitas alterações e por várias administrações públicas. Registro as minhas desculpas por não nomear dezenas de pessoas que certamente auxiliaram com esforço e dedicação para que a emissora permanecesse no ar durante todos estes quase 34 anos. Sem dúvida, uma emissora pertencente ao município, com todos os entraves burocráticos que norteiam a atividade pública, só se torna viável pela abnegação, pelo voluntarismo e pela dedicação de seus integrantes, e isso, com certeza, não faltou a quem já ocupou alguma função na emissora e não falta a todos que ainda estão nos quadros da Libertas FM.
A Libertas Hoje
A Libertas FM conta hoje com uma equipe de profissionais qualificados, sendo que a maioria está na emissora há mais de dez anos. Há alguns meses atrás, ações que ainda estão sendo investigadas pela polícia, danificaram o transmissor, e, por isso, os sinais da Libertas estão sendo captados apenas na área urbana do município. Em que pesem as dificuldades econômicas, um novo transmissor já está sendo providenciado pela atual administração, fruto principalmente, da compreensão do prefeito Paulo César Silva, que sabe reconhecer a importância da emissora para a comunidade, contando também com o apoio e o empenho do atual secretário de comunicação, Marco Antonio Dias de Paiva, ex-diretor da emissora.
Além disso, a mudança de local, qual seja, a saída do Complexo Santa Cruz para o centro da cidade, integrando-a às outras áreas da comunicação da prefeitura, é fator importante para que a rádio possa ser mais participativa e antenada literalmente com a vida do município.
Apesar de ser prematura qualquer análise sobre as mudanças, os desafios e o futuro da Rádio Libertas, é essencial enfatizar os princípios que norteiam uma emissora pública, sinalizados pela Associação das Rádios Publicas do Brasil (ARPUB), do qual a Libertas faz parte. “A missão institucional de uma rádio pública deve ser a de difundir, irradiar e produzir cultura, educação, cidadania, entretenimento, informação de qualidade e prestação de serviços, buscando atingir um público cada vez mais amplo de nossa sociedade”.
A Rádio Libertas é uma emissora pública, paga pelos impostos do cidadão poçoscaldense e que não visa lucros. O “lucro” que a Libertas FM pode dar ao cidadão é o “lucro social”, na veiculação de programas que cumpram função social, quer seja, através da formação, da informação ou da contribuição na divulgação dos valores e das necessidades da comunidade, indo ao encontro do que se reconhece como uma emissora educativa. Mais que locutores, a emissora deve ter em seu quadro de profissionais, rádio-educadores, compromissados com a informação e a formação dos cidadãos. Mais que o entretenimento que a música proporciona, a Libertas FM tem que cumprir sua função de transmitir cultura, através da veiculação de informações na área da saúde, da educação, da arte em suas diversas manifestações, entre outras ações.
A emissora, neste ponto de vista diferenciado, não pode furtar-se ao compromisso de divulgar as ações da prefeitura, não como propaganda de governo, mas, como um direito que o cidadão tem de saber onde está sendo gasto o dinheiro público, fruto dos impostos pagos pela comunidade. Neste sentido se faz necessário criar um padrão permanente para a emissora, possibilitando imunidade contra as mudanças cíclicas do mercado radiofônico comercial e as oriundas da gestão pública, valorizando ainda mais a Libertas FM, como uma “rádio cidadã”, verdadeiramente integrada em nossa comunidade.
Finalizando, a Rádio Libertas FM é um patrimônio público que deve contribuir com suas atividades para libertar o ser humano, através da informação, do entretenimento e do conhecimento, para que, a partir daí, o cidadão poçoscaldense seja um agente transformador e gerador de melhorias para a sua vida e de toda a sociedade.
Wiliam de Oliveira é jornalista (MTB 15.722) e atual diretor da Libertas FM.