quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Atenção senhores passageiros

Estaremos dentro de pouco tempo, começando mais uma viagem, com um tempo previsto em todo o trajeto de 365 dias. Carimbem o passaporte, definam o destino e embarquem na plataforma 2011. Quem tiver mágoas, ressentimentos, pendências e tristezas antigas na bagagem, favor descarregá-las no Balcão 2010, ao lado dos banheiros. Recomendamos o uso dos sapatos da boa vontade e as camisas do otimismo, evitando, durante a viagem, as saias justas da competitividade insana e os nós da gravata da ambição desenfreada. Os passageiros que portarem sorriso nos lábios, coração aberto e mãos prontas a construir terão assento preferencial ao lado da janela da felicidade. Solicitamos a todos que apertem o cinto da esperança e recomendamos que ninguém, em hipótese alguma, utilize a saída de emergência durante a viagem. Caso haja períodos de turbulência, mantenham a calma e a confiança no piloto desta aeronave, o Grande Comandante Universal. Em qualquer situação de medo ou desespero, contem também com nosso atendimento de bordo realizado permanentemente por nossos anjos do espaço que estarão ao lado de cada passageiro. Recomendamos durante todo o trajeto, atitudes de solidariedade, de atenção e carinho, principalmente, com as crianças e idosos, o que garante a participação em nosso programa de milhagem. O ar das cabines, em virtude das ações do homem, está extremamente seco, por isto, sugerimos a ingestão de água durante toda a viagem. Além disto, moderação com as bebidas alcoólicas e alimentos gordurosos. Recomendamos também exercícios físicos como exercitar as pernas, braços e pés, evitando os inchaços prejudiciais à saúde. Importante lembrar, que embora tenhamos pessoas viajando em classes diferentes, nada assegura que na próxima viagem os passageiros terão direito aos mesmos assentos. Portanto, respeito e bom relacionamento com cada companheiro de viagem, independente da classe a qual pertença, será motivo de avaliação no momento do check-out. Para isto lembramos utilizarem o crachá da amizade e palavras de agradecimento e compreensão. Teremos, como já é de conhecimento de todos, muitas escalas durante o trajeto, o que implica na necessária entrada e saída de pessoas, valendo recordar em todos os momentos da contínua confiança no Grande Comandante Universal.
A todos, uma excelente viagem!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

R$ 26.700,00

O número é sempre um referencial de valor concreto ou abstrato, utilizado como diz o “Dizcionário” para descrever quantidade, ordem ou medida. O 1, por exemplo, lido como primeiro pode dar o significado de o melhor, aquele que superou os seus adversários, o campeão. Usar a camisa 10 em um time de futebol carrega o peso, imortalizado por Pelé, de ser, geralmente o craque do time. O mesmo número dado à prova de um aluno nos diz que ele foi aprovado com a nota máxima. O numero 100 acompanhado de porcentagem (100%) carrega também significados múltiplos dependendo do contexto em que a porcentagem está inserida. Enfim, os exemplos são inúmeros (opps): o 13 significa azar ou zebra, o 7 é numero de mentiroso, 18 é a maioridade, 33 a idade de cristo, 51 é a boa idéia, 22 dois patinhos na lagoa, 69 é...deixa prá lá. Bingo! E uma curiosidade que encontrei na Internet e que pode mudar a sua vida: uma pessoa levaria doze dias para contar de 1 até 1 milhão, se demorasse apenas um segundo em cada número. Para chegar a 1 bilhão, ela precisaria de 32 anos. (Se tiver com tempo, pode começar agora).
Consultando os sábios, Pitágoras dizia que o número é o princípio e a essência de todas as coisas. Para Aristóteles, o movimento acelerado ou retardado. “Número é a classe de todas as classes equivalente a uma dada classe”. (Bertrand Russel)- Não entendi esta última pois estava fora da classe neste dia.
Enfim, nossa vida é orientada por números: da carteira de identidade à conta no banco, da senha no cartão de crédito ao numero do celular. Além do concreto, o número signfica uma forma de enxergar as coisas, um posicionamento, a (in) compreensão de uma situação.
Mas, hoje, um número, uma cifra, chamou a minha atenção e a dos milhões de brasileiros: R$ 26,7 mil. Esse o novo salário para deputados, senadores, presidente e vice e ministros de Estados, a vigorar a partir de fevereiro, se o projeto passar pelo Senado e se receber a sancão do presidente da república. Quer outro número ligado ao tema: no caso dos deputados significa um reajuste de 62,5 por cento sobre os atuais vencimentos que estão sem alteração desde 2007. A inflação deste mesmo período (2007-2010)? 20%. Lembrando ainda que o reajuste terá efeito cascata sobre os salários dos deputados estaduais e vereadores. Tudo legal e aprovado em tempo recorde para um projeto de tamanha extensão: menos de 4 horas. Um outro número revelador.
Se tudo sempre fica obscuro nos depoimentos dos nossos representantes, os números decodificam o que as palavras proferidas em entrevistas e nos pulpitos tentam dissimular. Mais uma vez, temos a prova dos 9, da falta de sensibilidade e da compreensão da realidade brasileira. O salário requerido e considerado “justo” pela maioria dos deputados, não faz justiça aos milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. Se os deputados possuem legalmente a possibilidade de aumentar os seus próprios salários, o que se espera sempre é dignidade e zelo com o dinheiro público. Os números não mentem, mas os deputados...
Não é vergonha ganhar bem. Vergonha é não ter saneamento básico, acesso à educação de qualidade, moradia e outros instrumentos que deveriam compor a “cesta básica” de todo brasileiro na busca de uma vida digna.
Muitas vezes um número nos provoca vergonha. Pena que quem deveria sentir isto, faz de conta que não vê e utiliza sempre a própria calculadora para aumentar os seus vencimentos.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Com ou sem emoção?

Recentemente fiquei sabendo que pertenço à geração “baby boomer” e pensei: como sobrevivi até os dias atuais sem saber disso?
Coisa de americano que busca colocar todas as coisas como produtos em gôndolas de supermercado. O baby boomers (me lembra nome de fralda) é a geração de pessoas que nasceram de uma “explosão populacional” nos Estados Unidos, entre os anos de 1946 e 1964 e que estão hoje próximas aos 60 anos de idade (“os sexo-genários”). Entre características e diferenças, uma identifica os boomers: foi a primeira geração que cresceu em frente à televisão. (“É que a televisão me deixou burro, muito burro demais”-Televisão-Titãs). Sem dúvida, isto mudou tudo. A imagem aliada ao som veio possibilitar o acesso a um mundo novo que chegou através das séries de TV: Bonanza, Jeannie é um gênio, Jornada nas Estrelas, Os Invasores, O Vigilante Rodoviário (nacional), entre tantos outros filmes e programas. (“Quando nascemos fomos programados pra receber o que vocês, nos empurram com os enlatados, dos U.S.A., de nove as seis”-Geração Coca-Cola- Renato Russo). Som e imagem enfim se encontravam (mesmo que em Black and White) em uma tecnologia que acessava novas emoções. Uma delas é que passamos a ter uma classe diferente de amigos, “os televizinhos”- pessoas que iam até a casa do vizinho para assistir a TV. Era uma festa regada a pipoca e a Crush (que não era uma série de TV, mas um refrigerante). Momentos de convivência e de aprofundamento nas relações, já que depois ficávamos horas a discutir o que vimos na telinha.
Hoje, nós boomers, partilhamos a existência com outras gerações: a X (a dos filhos dos boomers-nascidos entre os anos 1960 e 1980), a Y (nascidos entre os anos 1980 e 2000) e a Z (após o ano 2000). Todos convivendo nesta sopa de letrinhas do mundo atual. E tal como a televisão nos anos 1960, um ponto nos une (ou nos separa?): a tecnologia (o computador, a Internet, o iPod...), que mais que o som e a imagem, nos permite, entre outras coisas, o acesso à mobilidade e à virtualização. Isto também mudou tudo. Dias atrás, por exemplo, me espantei ao ver um jovem Z comentando que a conversa via telefone era muito pessoal. Fiquei de cara! O virtual, por vezes, parece um hacker a enviar uma espécie de vírus amedrontando as pessoas para um relacionamento real.
E a pergunta que, principalmente nós, “os tiozaõs”, fazemos diariamente é: a tecnologia está melhorando a nossa vida? Entre tantos questionamentos em um assunto tão complexo, me veio à lembrança os passeios de buggy ou de jipe realizados principalmente nas praias do litoral de Natal no Rio Grande do Norte, onde o condutor pergunta aos turistas que pretendem realizar o passeio: “Com ou sem emoção?”.
Talvez seja isto. A vida é esta viagem que nos oferece muitos instrumentos e a “emoção” é fruto das nossas escolhas. Particularmente, acredito que receber um cartão com o selo dos Correios enviado por uma pessoa amiga desejando Boas Festas, transmite mais emoção que receber um “e-mail” com a mesma mensagem em um “Undisclosed-Recipient”. Mas, paralelamente, não questiono a emoção de mães, ao verem pela Internet, a imagem e a voz em tempo real dos filhos que se encontram a quilômetros de distância. Ainda penso que o chat (a conversa virtual) não substitui a emoção do olho no olho, de um abraço coração a coração, da presença física das pessoas que queremos bem. Mas, será que internautas X,Y,Z não sentem também a mesma emoção em receber pela web aquelas carinhas com símbolos usados na Internet para expressar felicidade, tristeza e outros sentimentos, os chamados Emoticons?
Em um assunto que não se esgota, talvez caiba a cada um, independente da geração que pertença, aplicar o seu próprio antivírus, nas escolhas individuais e intransferíveis do cotidiano. Neste universo cibernético, onde a rapidez nos atropela, a vida é o buggie, o ambiente são as dunas, e a pergunta é a mesma: Com ou sem emoção?