domingo, 7 de julho de 2013

O BRASIL NA UTI



Há tempos vivemos um Brasil doente. Anos de corrupção generalizada, desmandos, impunidades, licitações ilícitas, superfaturamentos, jeitinhos, falcatruas, incompetências, nepotismos, desvio de verbas resultaram na falência múltipla dos órgãos públicos, partidos políticos, instituições governamentais e não governamentais, dezenas de empresas públicas e privadas e veículos de comunicação.  
As recentes crises econômicas nos Estados Unidos e na Europa maquiaram a nossa realidade. O brasileiro comum teve acesso aos eletrodomésticos, ao primeiro carro, ao apartamento nos conjuntos habitacionais. Assistimos a ascensão da classe C e foi possível viajar de avião para o exterior. Parecíamos saudáveis.
Contudo, a facilidade de consumo apenas camuflava a metástase que se espalhava por todo o organismo social.  Aos poucos, os sintomas foram aparecendo: inadimplência em alta, criminalidade sem controle e a inflação refletida nas etiquetas dos produtos nos supermercados mostraram enfim, nossa verdadeira cara. “Brasil mostra tua cara quero ver quem paga pra gente ficar assim”. (Brasil – Cazuza)
As tentativas de manter o país em tratamento paliativo somente comprovaram que remédios caseiros como Bolsas e Cotas têm prazo de validade. Verdadeiros placebos governamentais que colocam o paciente por mais tempo vivo em respiração artificial.  
O país necessitava de algo mais forte que pudesse amenizar aquela dor civil que, embora dissimulada, nos tornava amorfos, anêmicos, apáticos e depressivos.
Foi aí então que algo aconteceu. Assim como uma simples faísca pode detonar um barril de pólvora, redescobrimos que éramos cidadãos e não consumidores e que havia um lugar para ser a vitrine do nosso descontentamento coletivo contra a política de gabinetes: as ruas, praças, avenidas e rodovias. Um pequeno riacho então se avolumou e se transformou em um tsunami de cidadania. Milhões de pessoas saindo de suas casas pelas mais diversas causas, gritando o seu não conformismo, incomodados com a acomodação das nossas autoridades. Faixas e cartazes utilizavam frases imperativas de ordem como “Desculpe o transtorno. Estamos mudando o Brasil”. A nação vivendo a indignação na primeira dose de quimioterapia social, depois de anos de silêncio de uma ditadura partidária que também se travestiu de democracia para se autodenominar a voz do povo.  Mas não foi sem dor. Atos de vandalismo, tentativas de apropriação partidária dos movimentos, perdas de vidas humanas e prejuízos financeiros nos ensinaram que nos processos de cura há contraindicações.
Apesar de tudo que estamos vendo e vivendo, importante lembrar que não estamos curados. Os movimentos sociais enfrentam uma doença degenerativa que há dezenas de anos comprometem o funcionamento do corpo social. Necessário fortalecer nosso sistema imunológico contra os vírus, bactérias e parasitas que há anos estão impedindo nossas melhorias. Necessário continuar com o tratamento intensivo, eliminando células malignas que insistem em destruir as esperanças de um Brasil mais vivo, mais forte e mais livre.
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia, você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia”. (Chico Buarque -Apesar de você)