domingo, 21 de setembro de 2014

Se vira nos 15


Como conquistar o voto do cidadão em uma única mensagem veiculada pela televisão e pelo rádio em apenas 15 segundos? Como dizer algo que possa seduzir, encantar, convencer, persuadir o eleitor em tão pouco tempo?
Esta é a tarefa hercúlea, custosa, danosa, laboriosa, de milhares de candidatos a deputados estaduais e federais em todo o Brasil que, verdadeiramente, necessitam se virar nesta missão impossível.
A maioria segue o formato padrão falando genericamente sobre mudanças, contra a corrupção, a favor de reformas e por melhorias na saúde, na educação, na previdência além de “religiosos” que usam (indevidamente) o nome de Deus, buscando o auxílio da providência divina.
O próprio nome vira estratégia e assim “Ronaldinho Cover”, “Aécio Ribeirão das Neves”, “Lula Defensor”, “Escarlet Orrana” e “Mister M”  se misturam a tantos outros por todo o país.
Muitos tentam se diferenciar pela criatividade (discutível) utilizando frases de efeito, slogans, rimas e jingles.
 O humor é uma das armas e tem em Tiririca, “o abestado”, candidato novamente a deputado federal por São Paulo, um modelo que parece dar certo (está em primeiro lugar nas pesquisas de voto) embora este goze (realmente) de um tempo maior para dizer “tá com saco cheio da política, vote no Tiririca”, parodiando ainda uma das mais clássicas cenas do cinema em que Luke Skywalker retira a máscara de Darth Vader em “Stars Wars”.  Pegando carona no Tiririca, o candidato por Minas Gerais a deputado federal, Edson Moreira, afirma, enfaticamente, em sua mensagem: “Vote com segurança, se não, você vai morrer”.
Já o humorista Geraldo Magela, o Ceguinho, candidato pela primeira vez a deputado federal por Minas Gerais, brinca com sua deficiência visual dizendo: “Se o amor é cego, a Justiça é cega, e tivemos até presidente cego, por que não um deputado cego?”.
Em Pernambuco, seguindo a linha da graça (ou desgraça), o candidato “Dengue” aparece matando um mosquito com as mãos; “Jesus” (33333) de cabelos longos, coroa de “espinhos” e túnica branca pede o voto e paz para o Estado. Já o candidato Josafá Ribeiro com a mão no coração pede o voto para o eleitor, fechando, emocionado, a sua mensagem, dizendo: “Eu te amo”.
O jingle é outro instrumento utilizado e no Paraná, o candidato a deputado estadual Chik Jeitoso parodiou o hit “Tic Tic Nervoso” da banda Magazine, buscando seduzir o eleitor a votar no “Chik, chik, jeitoso”.
Os exemplos são inúmeros: um fala “passa a régua e ó, zap, neles”; outro diz que vai “estourar a boca do balão” e um boneco estoura um balão e “João Rasgado” usa a roupa rasgada no horário eleitoral.
Em meio a este palanque eleitoral midiático, percebe-se um eleitor confuso e indeciso  que, em poucos minutos, na urna eletrônica,  terá que escolher o presidente, o governador, o senador, o deputado federal e estadual de sua preferência.

Para os quase 143 milhões de eleitores brasileiros, apenas um conselho, em 2 segundos: Se vira!

sábado, 13 de setembro de 2014

O medo de ser infeliz

Anos atrás, mais precisamente em 1989, o Partido dos Trabalhadores na candidatura do ex-presidente Lula lançava o bordão que se espalhou pelo país, cantado em jingles, proclamado em comícios, inscrito em faixas. “Sem medo de ser feliz” era o lema que buscava convencer o povo a votar em Lula como aquele que poderia fazer feliz, os medrosos cidadãos brasileiros. Contudo, não seria ainda naquela eleição e somente em janeiro de 2003 que o bordão “a esperança venceu o medo” se faria valer no início do primeiro mandato do candidato do PT.
Chegamos em 2014 e o medo volta a ser inserido na campanha do Partido, porém, a conotação agora é bem diferente. O medo hoje brilha é na estrela, que teme perder o poder, largar o osso, deixar as benesses governamentais nas mãos de outra pessoa, seja ela, Marina Silva, Aécio Neves ou qualquer outro adversário.
Para enfrentar o medo de ser infeliz em uma provável derrota, vale espalhar o temor de que se o povo não votar na candidata do Partido, perderá as bolsas, as carteiras, o crédito, o pré-sal, o petróleo, o Fies, o emprego, a aposentadoria, a moradia. Maquiavelicamente e ”maquiavelmente” a esperança do partido agora, é que o medo vença o desejo de mudança.
Contudo, mesmo não sendo simpatizante do Partido, é triste constatar, mais uma vez, que o poder realmente corrompe ideais, seqüestra valores, macula ideologias, mata a esperança. Ao Partido dos Trabalhadores legou-se uma página importante de nossa vida social e política representada pela mudança, não somente de novos caminhos estruturais para o país, mas, principalmente de conceitos que a política brasileira havia esquecido, como a honestidade e o combate à corrupção.
É triste ver o mesmo do mesmo e assistir a mais uma página que fere ainda mais a nossa dor civil. É triste perceber que uma sigla partidária que teve a oportunidade de confirmar o que apregoava em sua bonita trajetória, deixe de lado a sua história, que a tantos brasileiros encantou, para se utilizar de instrumentos já, infelizmente, tão conhecidos e praticados por aqueles a quem a mesma sigla partidária combatia.
E vale lembrar um pouco desta história citando um pequeno trecho do discurso de posse do ex-presidente Lula em janeiro de 2003. “A reforma da Previdência, a reforma tributária, a reforma política, a reforma da legislação trabalhista, além da própria reforma agrária, esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo do desenvolvimento nacional. / O combate a corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes de meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida brasileira”.

É triste perceber que palavras de tamanha grandiosidade se deixaram morrer no cemitério do poder e que o medo seja agora mais uma página de desalento em nossa já tão desgastada esperança.