segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Estamos todos grávidos

A vida se arrasta ao final do ano. Tiramos o pé do acelerador e vivemos em câmera lenta. Neste período pré-natal estamos realmente grávidos e talvez, em função disto, Papai Noel seja uma figura obesa. É o tempo da concepção. Os nossos hormônios são alterados e o nosso corpo começa a se preparar para receber um novo óvulo, sinalizado pelas efemérides na folhinha da parede da cozinha. Ficamos mais cansados, sonolentos, contemplativos e hipersensíveis. É comum a mudança de humor ocasionado pelas contrações entre o fim e o início de uma nova etapa. Muitos se isolam a experimentar o resguardo e o enjôo neste período é sintoma freqüente. Outros se mostram ansiosos e felizes, como espermatozóides a buscar a fecundação. Não dá é para ficar indiferente, quando lojas e casas trazem mais luzes que as usuais, como um grande berçário a esperar a chegada de um novo ser. A luz é na verdade, o elemento simbólico deste período que encontra sua representatividade pelo uso comum da frase, “dar a luz”. Neste período gestacional, os desejos perante o futuro são também fortemente manifestados: é a casa própria, um novo emprego, a saúde restabelecida. São idéias, planos e vontades que ficam dentro da gente, nos incomodando, nos “chutando”, teimando em nascer.
As diversas reuniões e festas de confraternização nos fazem ganhar mais peso e nos lembram o quanto somos coletivamente amigos secretos, irmãos gêmeos da mesma família universal, embora durante 12 meses estivéssemos ocupados em semear nossas individualidades.
Também, durante este período, o material e o espiritual ficam em relevo como elementos integrantes do mesmo cordão umbilical que nos remete à Criação.
É tempo de lembrar que o outro faz parte da nossa história, mesmo que ele não esteja no nosso álbum de fotografias. Assim, a solidariedade se intensifica nas campanhas beneficentes e o enxoval se manifesta na troca de presentes.
Para os mais religiosos, é tempo de preparar o nascimento do menino Deus com orações e celebração em família. Para os céticos, o momento é de passar a régua, pedir a conta ao garçom e avaliar a colheita, planejando o nascimento de um novo embrião.
Enfim, a fertilidade da existência humana se revela durante o final de cada ano e cada ser à sua maneira, vivencia esta gestação. Resta a todos, torcer para que o parto seja natural e que o ano novo nasça feliz e saudável,amamentado pelos seios da nossa esperança de um futuro melhor.