quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sou mineiro até debaixo da terra

Por mais que se tente disfarçar, um texto denuncia sempre a preferência do autor por determinado assunto, uma crença, uma escolha, uma pessoa. Não existem textos imparciais, nem mesmo aqueles com cunho jornalístico. Basta um pequeno descuido, uma entrelinha, uma forma de priorizar determinada situação, e não tem jeito: a preferência e a parcialidade se escancaram. Portanto, resolvi declarar, assim mesmo em primeira pessoa e de forma maiúscula, para não deixar dúvida, MINHA PAIXÃO POR SER MINEIRO. Concordo até que minha cidade natal, Poços de Caldas, pela proximidade geográfica com o estado de São Paulo (fica na divisa entre o sul de Minas e o leste paulista) já perdeu muito da sua “mineiridade”. Milhares de turistas freqüentam o município e esta característica cosmopolita, nos fez também ser múltiplos em nossas falas, gostos e hábitos. Não abrimos mão de um “pãozim” de queijo, mas temos em nossas praças, vendedores ambulantes comercializando churros (o paulista diria “tiurros”). Admiramos e falamos de “boca cheia” sobre a vida no campo, a simplicidade, mas não dispensamos o conforto e a ida a um shopping. Contudo, basta alguém perguntar onde fica a cidade e nos enchemos de orgulho para dizer: no sul de Minas. Isto para nós é um título de nobreza, um brasão no peito, uma credencial distinta.
E ser mineiro uai, é aproveitar situações que em princípio nada teriam a ver, para retratar e testemunhar o amor por Minas Gerais. Ao assistir o drama do resgate de 33 operários mineiros no Chile, a luta pela sobrevivência, o espírito de companheirismo, a alegria do reencontro com a família, me veio o desejo de, brincando com a palavra que nos remete a outro significado, resgatar a alegria de ter nascido em Minas Gerais. E vale lembrar que historicamente o nome do Estado (que dizem ser “um estado de espírito”) foi fruto da exploração das minas de ouro por milhares de mineiros ao longo de décadas. Ao escutar o brado patriótico dos chilenos, sobreveio trazer à tona, a declaração explícita de que ser mineiro é “bão demais, sô”, como Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Rubem Alves, que, com muito maior propriedade, refletiram o significado de ser das Gerais.
Oncotô? Minas Gerais. Proconvô? Minas Gerais. Doncosô? Sou mineiro até debaixo da terra.