terça-feira, 31 de maio de 2011

Drogas S/A

Invariavelmente, um assunto faz parte do cotidiano de todos os meios de comunicação: crimes relacionados ao consumo de drogas. Se atentarmos para os conceitos capitalistas e mercadológicos da oferta e da procura, de quem produz e quem consome, a droga é hoje a grande indústria mundial. A Organização das Nações Unidas estima que o tráfico movimente 400 bilhões de dólares no mundo, em comparação com a indústria farmacêutica global que fatura 300 bilhões; a do tabaco, 204 bilhões, e, a do álcool, 252 bilhões.
Temos de um lado, os produtores, desde pequenos de ”fundo de quintal” até os grandes da rede internacional do narcotráfico. Na relação entre quem produz e quem consome, uma complexa rede de distribuição, que envolve desde pequenos traficantes, os chamados “mulas”, até os “colarinhos brancos”, estes últimos geralmente oriundos de classe média alta.
Mas, tal indústria não existiria se, na outra ponta da cadeia, não estivessem os consumidores, os usuários, dependentes e co-dependentes que mantêm o comércio de compra e venda para alimentar o próprio consumo. Some-se a isto, a falência de nossas instituições agravada pela corrupção de policiais, morosidade da justiça e um sistema penal que favorece a escola do crime.
Como fator importante no mercado tem-se um meio ambiente propício. Se de um lado, o sistema incita ao consumo, de outro, segrega as pessoas, ampliando as injustiças e o crescimento da miséria social.
Seguindo ainda leis de mercado, a indústria das drogas lança a cada dia um novo produto (atualmente é o óxi) e uma nova unidade é inaugurada periodicamente em cada bairro de qualquer cidade do mundo.
Por tudo, são muitos especialistas e lideres mundiais que afirmam que o mundo já perdeu esta guerra, pois, as drogas estão mais baratas, mais puras e acessíveis, com progressão geométrica no número de “clientes”. Assim, a descriminalização e até a legalização das drogas são indicadas como “remédios” para uma civilização doente. Particularmente, a percepção é de que se não temos soluções, “aceitar e legalizar” é a única saída, o que não acreditamos.
Como deter a indústria da droga é a pergunta que se faz sem resposta convincente.
Alguns pontos, porém, parecem ser inquestionáveis. A necessidade de uma tomada de decisão realmente séria e profunda sobre o tema. A soma de várias frentes de combate: políticas, sociais, judiciárias e criminais. E, principalmente, como pilar de todas as atitudes, o que sugerimos denominar de EPI: Educação, Prevenção e Informação.
Importante é refletir que a Drogas S/A recebe a cada dia grandes investidores, resultado de um longo período de perda na Bolsa de Valores Humanos e da queda crescente nas ações de combate efetivo do problema.
Precisamos envolver todos os setores sociais: empresas públicas e privadas, instituições governamentais e não governamentais e, em conjunto com a comunidade, decretar a nossa concordata no presente, para que, no futuro, não tenhamos que admitir a falência do ser humano.

sábado, 21 de maio de 2011

Os Palácios de Palocci

No Brasil, país de grande fosso social entre ricos e pobres, existe certo preconceito (ou pósconceito) em relação aos milionários. Com uma população de maioria cristã, somos amedrontados também pelo ideia de que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus”. Interessante pensar que o empresário Silvio Santos aproveitou para subir no assento do camelo e como camelô, construir sua fortuna. Contudo, existe sempre certa desconfiança de que algum crime foi ou está sendo cometido pelos afortunados. Afinal, se milhões recebem pouco e poucos recebem milhões, alguma coisa deve estar errada, principalmente, quando esses mi(bi)lionários são políticos e ocupam cargos públicos de destaque. Entre tantos (e entretantos) que construíram fortunas, o “Tio Patinhas” da atualidade é o ministro Antonio Palocci. Onde já se viu um ministro do Palácio, quer dizer, da Casa Civil, faturar 10 milhões em apenas dois meses, através da sua empresa de consultoria? Como explicar que, após a sua posse no governo, tenha havido tamanho crescimento de suas posses na vida particular?
Sobre o assunto, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, disse com justiça, que há “muita fumaça e poucos fatos apresentados”. É verdade. Palocci tem realmente um passado cheio de “fumaça” e que vive saindo pelas chaminés das casas que ele freqüenta. Em 2006, um “caseiro” inconveniente, Francenildo Santos Costa, foi testemunha de acusação contra Palocci, no caso da casa do lobby, a ex-mansão do atual ministro, que serviria de sede para reuniões de lobistas e encontros com prostitutas, na chamada República de Ribeirão Preto. Agora, em outra moradia, na Casa Civil, uma nuvem de “fumaça”, parece indicar mais uma vez, que o fogo existe. O “rei” se tornou réu e as perguntas são muitas.
É ilegal um ministro de governo, ter, paralelamente uma empresa de consultoria? Se, antes de sua função no governo, ele já possuía a empresa, deveria ter sido convidado pela presidente Dilma para exercer uma função pública?
O que parece é que Palocci, mais uma vez, deverá ser inocentado e continuará como “inquilino” de luxo do governo. Alegará, com certeza, que já possuía a empresa e que, preservando a sua ética ministerial, nem atuava mais como consultor. E, se, as organizações utilizam a marca “Palocci” nas negociações com o governo e fora dele, que “culpa” tem ele?
Somos a favor do ministro. A “culpa” não é dele.
A culpa é de todo brasileiro que ainda preserva a reflexão de que muita coisa “legal” é por natureza, imoral. Que muita coisa licita, não edifica. Que ainda é preferível morar em um casebre, que viver em um “palácio” construído sob os pilares da corrupção e do desmando.

domingo, 15 de maio de 2011

Penso, logo, resisto

Um mercado cada vez mais competitivo.
Empresas públicas e privadas, pessoas físicas e jurídicas necessitando tomar decisões cada vez mais rápidas para atender cidadãos e clientes cada vez mais exigentes. Este é o cenário.
Mas, o que se percebe comumente na maioria das empresas públicas e privadas? A resposta: ações emergenciais, rotineiras ou improvisadas.
O “erro e acerto”, sem estudos, nem análise criteriosa de tendências e embasamento técnico.
A quem interessa?
Nas administrações públicas, o fator político determinando as decisões, maquiados pela tentativa de repassar a opinião pública de que o conceito foi “priorizar o técnico”.
Nas administrações privadas, o pensamento de “precisamos matar um leão por dia”, escondendo o desconhecimento de ”quantos leões existem” e se outras soluções não evitariam, em longo prazo, a falência do “zoológico”.
A quem interessa?
Planejamento é palavra muito falada e pouco exercitada por pessoas e organizações. Exige objetivos claros, metas definidas e estratégias adequadas. Exige investimentos e seres pensantes.
A quem interessa?
O cotidiano nos ocupa e o fazer se torna urgente.
Tornamo-nos operacionais. Máquinas a serviço da produtividade. Padronizamos nossos comportamentos e o relógio é o bedel a nos obrigar a cumprir nossas tarefas.
Não criamos, repetimos. Não pensamos, agimos.
Mas, não nos enganamos. Haverá sempre alguém que planeja e reflete em como aumentar seus lucros ou como se manter no poder. Para isto, buscará sempre manter ocupados os eleitores ou colaboradores para que estes não tenham tempo para pensar e nem planejar.
Pior. Para que não tenhamos tempo, nem consciência, nem meios, nem recursos para questionar a nossa falta de tempo, a nossa inconsciência, a nossa falta de instrumentos, nossa ausência de recursos.
Encanta-nos com o ter, ao mesmo tempo em que nos apaga o ser. Elimina idéias, ideais e ideologias. Somos figurantes pagos para aplaudir. O palco tem os atores de sempre e o roteiro não muda.
A quem interessa?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A culpa é do sistema

- Bá tardi, moço. Eu vim tirá meus dicumento.
- Infelizmente senhor, não vai ter jeito. Estamos sem servidor.
- A prefeitura tá sem servidor? Ué, mais vi falá que tem inté genti demais...
- Vou explicar melhor. Na verdade, estamos esperando o sistema voltar.
- Ahnn...vou esperá um cadinho então. Oce sabe que horas que ele vorta?
- Não temos como responder. O sistema caiu faz umas 2 horas.
- Ahnn...oce me descurpe a indiscrição, mas ele caiu da onde? Machucou muito? Ele tá no hospitar?
- O senhor não me entendeu. Foi a rede que caiu.
- Ué mais ele num divia ta trabaiano, ao invés de tá na rede? Foi na hora do armoço que ele caiu?
- Acho que o senhor não está compreendendo. Estamos fora do ar.
- Péra aí moço.Oces fica fora do ar e por causa disso eu fico sem meus dicumento.
Discurpe falar, mais o qui é qui eu tenho co isso?
- O senhor não está me entendendo...
- Discurpe moço, mais o senhor ta me enrolano. Primeiro, o senhor falou que num tinha servidor. Dispois falou que o tar do sistema é que não tinha chegado ainda. Dispois falou que ele caiu da rede. Dispois teve a cara de pau de falá que ces tão fora do ar. Óia, eu tô com meu sistema nervoso abalado e num dá prá fica guentano desaforo não. Vou reclamá na rádio e na hora das eleição,o prefeito vai vê só!

O diálogo acima é uma “licença poética” e não tem outra intenção se não a de revelar a nossa dependência cibernética. O “sistema” é um sujeito indeterminado ou oculto que rege nossa vida cotidiana. Se ele cai, caímos todos. É um ser abstrato, inodoro, insípido e incolor. Não ouve ninguém, não aceita diálogo nem contestação, não responde as nossas dúvidas, mas, todo poder emana dele. Quando alguém diz que “o sistema ta fora do ar”, não há nada a fazer, a não ser conformar-se com a nossa impotência perante o inexorável.
Mas, não tem nada não. A vingança de todos nós, consumidores,está sendo preparada. E sabe o que irá acontecer “senhor sistema”? Nós vamos assumir o controle e daí então

(Putz! O sistema caiu!)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Era uma vez

Milhões de brasileiros se emocionaram com o casamento do príncipe Wiliam e a plebéia Kate. Sem a pretensão de levantar uma tese sociológica, a paixão do brasileiro por contos de fadas, reis e príncipes, castelos e palácios pode ser contada assim.
Era uma vez um navegante português que no ano de 1.500, a mando do rei, saiu pelo oceano em busca de encontrar um novo continente e outras riquezas para a corte. Na carta de um dos tripulantes, o Caminha, as naus portuguesas chegaram à denominada “Ilha de Vera Cruz”. Começava ali a história da Terra Brasilis e a nossa fantasia por palácios, reis e rainhas, príncipes e princesas. Basta lembrar que séculos depois foram criados vários palácios no Brasil para abrigar os nossos “príncipes governantes”, como o Palácio dos Leões no Maranhão, o Tiradentes em Minas Gerais, o Bandeirantes em São Paulo, e o Palácio da Alvorada, residência oficial da hoje, Rainha Dilma. Além disso, não é demais mencionar que no país do carnaval temos um Rei todos os anos: o Rei Momo.
Historicamente, na época do Brasil Império, tivemos o Imperador Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier Leocádio Miguel Rafael Gonzaga, conhecido também como Dom Pedro Segundo, o “defensor perpétuo do Brasil”. Nos dias atuais, o nosso Imperador é Adriano Leite Ribeiro, o atacante Adriano, jogador do Corinthians, que rompeu recentemente o tendão de Aquiles. Logo ele, o grego Aquiles, filho do rei Peleu e da rainha Tétis. Vivemos então, a monarquia até 1889 e, de lá pra cá, a maior anarquia, como uma república de estudantes.
Mas, a nossa paixão pela realeza continuou crescendo, através dos contos infantis que escutávamos e que ainda hoje repassamos aos nossos filhos. Como não pensar em se casar com um príncipe encantado? Tornar-se uma Cinderela, quem sabe uma Bela Adormecida, ou mesmo Branca de Neve? Não é irônico pensar ainda, que além destes contos infantis, uma de nossas primeiras moedas foi o conto de réis? E, que, atualmente, o Real é a nossa moeda?
Enfim, para a grande maioria dos brasileiros, o casamento entre uma plebéia e um príncipe, traz de volta ao coração, aquela centelha de esperança de que um dia uma nova história será escrita. Ela será simples e mágica como são todos os contos de fadas. Era uma vez em um grande reino, milhões de sapos, que num dia de céu azul e sol radiante, foram enfim, reconhecidos como príncipes. E a partir daquele dia, tiveram direito então, como todos no reino, a uma vida mais justa, mais digna e igualitária e assim, viveram felizes para sempre.