segunda-feira, 20 de abril de 2009

Monotralha

Poços de Caldas, pelo que se sabe, é o único município no Brasil que possui o monocarril. Rimou, mas tem muita gente fazendo outra rima, que não cabe citar nos trilhos deste texto, pois o monotrilho (ou monocarril) é hoje, infelizmente, um “trem bolho” que se estende desde o Terminal de Linhas Urbanas até o Terminal Turístico e Rodoviário. A palavra terminal é significativa, pois representa verdadeiramente o estado em que se encontra tal “meio de transporte “na cidade.
O monotrilho possui vários comboios. Aliás, qualquer semelhança com outro veículo que funciona com bois não tem procedência, já que o carro de boi funciona e faz tempo e o citado monotrilho não funciona e faz tempo também. Estes comboios têm capacidade para 36 passageiros, lembrando que tudo na vida é passageiro, menos o motorista, o cobrador e agora, o monotrilho que está se tornando um problema permanente.
São seis quilômetros de vias suspensas (que estão realmente com as atividades suspensas) cujas vigas de concreto, hoje se encontram em condições abstratas, já que não têm, por assim dizer, utilidade concreta.
O monotrilho (hoje, monotralha), teve sim, seus momentos de glória. Isto na década de 80, em sua fundação (hoje, afundação) quando trazia a esperança de ser um moderno veículo de transporte de massa (que acabou em pizza) e que se tornaria também uma atração inédita para os turistas (está inédita até hoje). No trajeto da sua história, por volta do ano 2000, um tremor de terra de 0,00005 graus na escala Richter, relatado até por um internauta , derrubou parte da sua estrutura. Além disso, anos atrás, estavam fazendo testes para o início das operações e houve um descarrilamento, que só não provocou danos maiores pois não existia ninguém no seu interior, exatamente como hoje.
Diga-se também de passagem (nem de ida nem de volta) que o monotrilho traz uma visão futurística que contrasta (ou seria com traste?) com alguns prédios públicos vizinhos e já tombados pelo patrimônio público como o Palace Casino e a Urca. Sobre o mesmo tema, há quem defenda o tombamento, ou derrubamento, ou mesmo o desmanchamento do referido elefante branco.
O certo é que ninguém sabe qual será a solução para o problema. Algumas idéias já foram dadas, como o de transformar os trilhos em pista elevatória de Cooper, ou mesmo plantar flores nos trilhos para transformá-los em uma espécie de Jardim Suspenso. Tais idéias foram consideradas fora da bitola, quer dizer, bitoladas, e não deverão ser aproveitadas. Por tudo, parece que a cidade terá que se conformar e conviver durante um bom tempo ainda com o monotrilho que não funciona. Dizem também que ele não funciona porque é mono, pois se fosse estéreo...
O monotrilho de Poços é um problema que nem o ministério público consegue resolver. Na verdade é um mistério público mesmo, já que existe um contrato entre a prefeitura e os construtores da obra, porém, ninguém parece saber onde está o referido contrato e qual o seu teor. Cabe ressaltar ainda, que o monotrilho é uma iniciativa pública realizada pela privada.
Mas enquanto nada se resolve, o monotrilho se entrelaça com as árvores das avenidas João Pinheiro e Francisco Salles, e se algum pintor resolvesse retratar tal encontro em uma tela, com certeza, seria literalmente, uma pintura de natureza morta.
Mas, daqui a centenas ou milhares de anos, quem poderá dizer, alguns arqueólogos estarão no mesmo local onde hoje se encontra o monotrilho. E ao realizarem as suas escavações, encontrarão uma placa amarelada pelo tempo, com os seguintes dizeres: “Aqui jaz o Monotrilho, que foi sem nunca ter sido”.