sexta-feira, 22 de abril de 2016

Interrompemos nossa programação

Ligo a televisão. “Interrompemos nossa programação para o pronunciamento da excelentíssima presidenta da republica Dilma Rousseff. 
“Brasileiros e brasileiras.
O que venho dizer a toda nação é muito difícil para mim enquanto presidenta do Brasil, porém, extremamente necessário para a cidadã, para a mulher, para o ser humano Dilma Rousseff. Espero chegar ao final destas minhas palavras, movida pela força e a garra que sempre me destacaram e com a consciência de ter feito o melhor.
Prezados brasileiros. O Partido dos Trabalhadores, do qual tenho orgulho de pertencer, tem espaço reservado na história deste país. Ao longo da sua trajetória, o PT conseguiu obter muitas conquistas e é inegável que o partido é responsável por muitos avanços sociais que estão aí na saúde, na educação, na habitação, enfim, nos mais diversos setores.
Contudo, se cometemos muitos acertos, temos que admitir que também erramos demais. Talvez, o maior destes nossos erros, foi o de, ao longo dos anos, irmos nos afastando, a cada dia, das nossas ideologias, deixando nos encantar pelas benesses do poder. Infelizmente, muitos dos nossos companheiros, inclusive algumas das nossas principais lideranças, acabaram por se envolver em atos ilícitos e a corrupção, que já não era pequena, se alastrou por todas as nossas instituições. Importante afirmar que não é só o Partido dos Trabalhadores que possui pessoas corruptas no seu quadro, mas temos compromissos conosco e devemos responder pelos nossos atos, ao invés de ficar nos comparando com outros partidos.
Um outro grande erro nosso foi criar programas sociais que não tinham lastros financeiros para a sua realização. Assim, desde quando o ex-presidente Lula assumiu o governo, isto em 2003, e também, em minha administração, fomos assumindo compromissos sem a preocupação com o respaldo financeiro. Em 2015, durante a minha reeleição, sabia que as coisas não iam bem, mas, pelo meus laços partidários e a exigência e a pressão de continuar no poder, escondemos da nação os problemas que já estávamos enfrentando e que certamente iriam piorar ainda mais. Posso afirmar, com convicção, que não fui desonesta, pois não roubei, nem tirei proveitos próprios das situações que passei. Contudo, tenho o compromisso de assumir meus erros e neste sentido, sabia de muitas coisas que estavam acontecendo ao meu redor, mas tive que fazer vista grossa para não comprometer o partido e também o meu governo. Acreditava que muito daquilo que estava fazendo, embora não fosse legal do ponto de vista orçamentário, outros também fizeram. Então, me senti à vontade para abrir créditos suplementares, mesmo sem a aprovação do parlamento de modo a garantir que as metas de superávit no orçamento fossem atingidas. O mesmo ocorreu com as operações de crédito, as chamadas pedaladas fiscais que também cometi, a exemplo de outros governos que me antecederam. Se não participei diretamente de muitos atos, como aqueles ligados à Petrobrás, sabia da falta de limites e do superfaturamento. Acreditava, no entanto, que tudo aquilo era transitório e que daríamos um jeito depois, o que não ocorreu.
Brasileiros e brasileiras. Por todos os meus acertos e pelos meus inúmeros erros. Por ter a convicção de que o Brasil é muito maior que o PT e qualquer um de seus representantes. Por ter a consciência de que na vida, existem momentos de vitórias e derrotas, de chegar e partir, de exercer o poder e de, se necessário, abdicar dele em função dos interesses da pátria. Por saber que o maior ato de um ser humano é quando ele descobre que já está na hora de parar, em benefício da renovação e da continuidade do desenvolvimento, é que estou informando a todos os senhores e senhoras, da minha renúncia ao cargo de presidente da república. Sou uma mulher de luta, mas tenho a consciência de que, neste momento, lutar para me manter no poder, seria um ato individual e de um grupo político e o que país precisa é de lutas coletivas. Vou continuar sim lutando pelo Brasil e a minha maior luta neste momento é contra mim mesma, em benefício desta nação. Obrigado a todos aqueles que depositaram seu voto de confiança em mim. Conto com a compreensão também de todos dos meu partido. Seguiremos juntos por um país melhor. Muito obrigado!”
- Acorda aí cara! Você dormiu aqui no sofá com a TV ligada. O feriado acabou e amanhã é dia de voltar ao batente. Acorda véio! A crise tá pegando...

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Antes, socialistas. Hoje, socialites.

Estou pensando seriamente em escrever um livro cujo nome já defini: “Antes, socialistas. Hoje, socialites”. Tenho a convicção que material para isto não faltará devido ao número de políticos que outrora se posicionavam como socialistas e hoje, continuam até defendendo a mesma bandeira, porém, fazem isto deitados em uma rede de um lindo tríplex localizado em um bairro chique ou mesmo na orla de uma grande metrópole brasileira.
Um dos fatos inspiradores a escrever tal livro foi assistir dias atrás na TV Senado, o pronunciamento da senadora pelo Amazonas, Vanessa Graziottin, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Ela fazia um “aparte” ao pronunciamento do senador Lindberg Farias do Partido dos Trabalhadores(PT). O “aparte” era recheado de elogios ao senador petista, antecedidos sempre pelo “Vossa Excelência” para cá e “Vossa Excelência” para lá.
A cena me trouxe à lembrança o início de minha “carreira jornalística” no final da década de 1980 na capital paulista. Ainda como “foca” (jornalista iniciante) arrumei uma vaguinha (que não durou muito, pois o jornal foi ‘lacrado”) no “Voz da Unidade”, periódico do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Minha função, não remunerada, era escrever sobre o calendário comunista. O referido jornal, salvo engano, durou até o início da década de 1990.
Ao ver a senadora na TV foi inevitável a comparação com os comunistas e socialistas daquele período. As mulheres, em sua maioria, eram jovens “ripongas” de calças jeans e tênis, camisetas brancas estampadas com a célebre foto de Che Guevara. Os homens, de camisa social por sobre a calça preta, sapatos pretos, cabelos desalinhados e barba por fazer. Me lembro até do Lindberg que naquela época iniciava sua trajetória política como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Ao confrontar a imagem da senadora do PCdoB, toda vistosa e cheia de “excelências”, com os socialistas e comunistas daquela época, de roupas rotas e linguajar ferino, foi como, sem juízo de valor, comparar um poodle de madame a um “tomba saco” de rua. Nada contra a classe, a beleza, a postura e as roupas da senadora, mas que a diferença é abismal, não tenho a menor dúvida.
A senadora me fez pensar sobre os inúmeros políticos brasileiros que, décadas atrás, bradavam contra o capitalismo tendo debaixo dos braços um exemplar de “O Capital” de Karl Marx e hoje, muito menos enfáticos, continuam a falar sobre a “direita golpista”, a luta de classes, a mais valia, porém, não abdicam de se alimentar do luxo e das benesses do sistema. Interessante perceber ainda que tecem críticas ferrenhas contra a elite que é exatamente a classe à qual pertencem na atualidade, embora nunca admitam.
Comentar sobre a miséria humana, legislar sobre justiça social, defender as minorias e os excluídos, fica muito mais eloquente e saboroso, durante um jantar à luz de velas em um restaurante parisiense, degustando um salmão e deliciando-se com uma geladíssima champagne Moet & Chandon.
Muitos intelectuais que se auto consideram de esquerda são como cientistas de laboratório. De posse de um microscópio em um ambiente controlado, analisam as causas da existência dos marginalizados sociais, indignando-se com as injustiças geralmente provocadas pelo poder do capital. Contudo, minutos depois, retornam para as suas mansões palacianas e lavam suas mãos com álcool em gel.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

SER JORNALISTA É:

 
- Crer que as palavras (poucas ou muitas, velhas ou novas, tortas ou direitas, erradas ou certas) podem mudar o mundo;
- Saber da inexistência do jornalismo imparcial, mas tentar incansavelmente ser imparcial na prática jornalística. Buscar a verdade sempre acreditando que ninguém é dono dela. 
- Reconhecer que a remuneração, embora essencial, é por vezes muito pequena, tendo a certeza que a vida em sua essência é muito maior que o dinheiro;
- Pensar que cada palavra falada ou escrita, tem a força da transformação e que nenhum jornalista terá o direito de usar um microfone no rádio ou na TV, um espaço em um jornal ou revista ou mesmo em um blog na internet, sem saber-se antes como um educador;
- Ter a noção clara do poder da informação, mas, nunca usar a informação como poder;
- Desconfiar de todas as informações recebidas, acreditando muito na comunicação a ser emitida;
- Acreditar na inocência de um político, contudo, se ele afirmar que é inocente, começar a crer em sua culpa;
- Desconfiar sempre do sucesso, do tapinhas nas costas, de um voto de louvor, discernindo que substantivos são fundamentais e adjetivos, circunstanciais;
- Sabendo-se imperfeito, tentar a todo custo, ser cada dia mais humano, para se sensibilizar com a dor e sorrir com as conquistas. 
Finalmente, exercitar diariamente a coragem civil e como porta-voz de uma comunidade, reconhecer que para ser grande como jornalista, é necessário nunca perder a consciência de ser muito pequeno perante a vida.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ainda dói

Sei. Você disfarça, desconversa,
muda de assunto,
mas, a verdade é... ainda dói.
Sim, no corpo ficou apenas a casquinha da ferida,
uma leve cicatriz revelando o antigo machucado,
mas, você sabe, lá no fundo, ainda dói.
Claro, os anos passaram,
você seguiu em frente,
“vai levando” como dizem, contudo,
quando você para, sente, ainda dói.
Certo, o trabalho exige muito,
são tantas as contas
para pagar, o dia-a-dia adia o encontro,
mas no final do dia,
a cabeça ao travesseiro,
só você sabe, ainda dói.
Você sai, encontra amigos,
quem sabe até um novo alguém,
uma cerveja, música ao fundo,
mas ao voltar para o seu mundo,
descobre, poxa vida, como ainda dói.
E você segue assim,
vivendo sóis, morrendo luas,
e só sua alma, quem sabe, poderá dizer,
o porquê o tempo ainda não curou,
aquilo que, teima em doer.