segunda-feira, 20 de junho de 2011

Blá, blá, blá

“Atenção emissoras para o top de 5 segundos. Dentro de instantes, transmissão da Propaganda Política Obrigatória reservada ao Partido...”
É assim, ou quase, que nós brasileiros somos “convidados” a permanecer na poltrona (ô da poltrona) para assistir ou ouvir a propaganda obrigatória dos partidos políticos.
Particularmente, confesso que, como milhares de pessoas, faço o maior esforço para ouvir o que os políticos têm a dizer, na esperança e na torcida para que algo ou alguém me surpreenda, mas... ”eu presto atenção no que eles dizem e eles não dizem nada”.
Daí vem às perguntas obrigatórias e gratuitas: Por quê? Para quê? Para quem?
Ora, está mais que provado (e reprovado) que a maioria das pessoas, ou quase, muda de canal, desliga a televisão, vai pra cozinha, vai ao banheiro, liga para a sogra, discute com o marido, liga a internet, tenta dar conselhos ao filho mais novo, quando se anuncia a transmissão do programa político.
As razões são óbvias. Além da descrença com a classe política, o cidadão está cansado, saturado, enfastiado, de ouvir discursos repetitivos, mal redigidos, vazios e inconsistentes.
Chega até ser simplório, ver deputados e outros, se utilizarem do teleprompter – equipamento acoplado às câmeras que auxilia a leitura- para pronunciar 40 palavrinhas preparadas anteriormente, sem o mínimo de objetividade.
Fala-se muito em “programa propositivo” em uma tentativa de passar ao cidadão que “existem propostas para os graves problemas nacionais”. Balela. Continua existindo, isto sim, uma chuva de chavões como “lutamos pelos ideais do nosso partido, que é o bem estar da população menos assistida”. Ou “o nosso partido é o Brasil e não abrimos mão de exigir melhores condições de saúde, educação e moradia para a comunidade”.
Embora proibido, o que se observa é um palanque eleitoral ou mesmo a possibilidade de se exaltar determinado “figurões” dos partidos para alavancar votos e novos ingressantes.
O pluripartidarismo nos legou a análise combinatória dos “Pês”, a ausência de ideologias e os discursos sem “cursos”.
Por outro lado, nos conformamos. Ficaria realmente difícil, senão impossível, os partidos apresentarem conteúdo na TV e no rádio, pois ninguém dá o que não tem. Em outras palavras, o que a maioria dos partidos leva para seus programas na TV e no rádio, é o que eles, infelizmente, têm a oferecer: nada.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Compromessas" de governo

A política é a arte da mudança. Muda-se de partido, “de lado”, de ideologia, de “companheiros”, de opinião e de linguagem. Com relação à linguagem, a política é também, a arte da retórica. Aqui cabe lembrar que a retórica é elemento essencial para a publicidade, buscando convencer o consumidor que determinado produto é o melhor. No “politiquês”, a retórica busca convencer o eleitor, principalmente durante as campanhas eleitorais, que tal candidato é o mais indicado para exercer determinado cargo.
Mas, se reparamos bem, ao longo do tempo houve mudanças na linguagem, embora o “produto” que as pessoas comumente recebem é o mesmo. Tempos atrás, a linguagem do político era a do “eu prometo”. Prometiam-se tudo: casas, empregos, postos de saúde, hospitais, creches e cargos. Tudo era válido para se conquistar o voto e o devoto. Porém, como as promessas geralmente não eram cumpridas e o cidadão começou a perceber o engodo, mudou-se a forma de falar a mesma coisa. As promessas então, se tornaram “compromissos de governo”. Na verdade, são realizados “planos de governo” baseados, geralmente, em pesquisas pré-eleitorais junto à população. Depois disto, atende-se a demanda com propostas (outra palavrinha nova) para determinada cidade, estado ou federação. Passado algum tempo da posse do eleito, como ninguém mais se lembra das “propostas” (nem o eleitor, e, muito menos o eleito), fica tudo combinado e nada resolvido. Ou seja, se o eleitor cobrar as “promessas”, o eleito dirá que eram apenas “propostas” e daí, “empatemo, não ganhemo, nem perdemo, assinado NIcodemo”.
Contudo, (ainda bem que neste caso há a conjunção adversativa) existe já em 23 municípios brasileiros (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro), um túnel no final da luz: a lei das metas. Uma emenda à lei orgânica do município que exige que os prefeitos apresentem, em geral até 90 dias após a posse, um plano de metas quantitativas e qualitativas para a sua gestão com base nas “propostas” da campanha eleitoral. Tal projeto foi inspirado em “Bogotá Como Vamos”, criado em 1997 na capital da Colômbia. Pela lei, os prefeitos são obrigados a apresentar periodicamente relatórios de desempenho. São Paulo, por exemplo, a avaliação das 223 metas do plano ocorre semestralmente e pode ser conferida pela internet. Não há punição legal contra os que não entregam o “proposto”, mas, pelo menos, os cidadãos terão uma “régua” para medir o que foi prometido (ops) e não foi cumprido.
Claro que não se resolve a situação com a existência da lei, ainda mais em um país onde existem leis que “pegam” e as que “não pegam”. Necessita-se do comprometimento do executivo municipal e de cobrança por parte dos cidadãos. No mínimo, é um avanço de gestão, quando na maioria dos municípios brasileiros, o eleitor sofre com a “indigestão” pública.