sábado, 30 de maio de 2015

Love Story


Os filmes que assistimos.
 Hoje sei. 
Foram eles os culpados por esta certeza de que o amor chegaria fruto de um encontro fortuito em um improvável esbarrão numa esquina qualquer.
Encontrar-nos-ia em uma tarde chuvosa, quando um guarda chuva se enroscaria em uma sombrinha e aquele encontro nunca mais teria fim. Amor além da vida.
Aconteceria assim, quando, de tanto esperar, não mais esperássemos. 
Nasceria de um olhar despretensioso ou um sorriso fugaz. De repente, é amor.
De um jeito sem querer, o maior bem querer. Loucamente apaixonados.
Imaginávamos nas gôndolas em Veneza, nas pontes de Madison, em um lugar chamado Notting Hill. 
Outubro em Nova Iorque. Doce Novembro. Antes do amanhecer. 
Os corpos tão encaixados, os abraços tão abraçados, os beijos tão apaixonados.
Ah! O nosso desejo de desejar assim.
 E o vento levou...
The End.


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Viver para quês?


O Que, o Quando, o Quem e o Porquê se encontraram para discutir a razão de viver.

O Que afirmou:
- Para encontrar a razão da vida, o ser humano necessita descobrir o que ele veio fazer aqui.  Quando a pessoa descobre a sua missão, ou seja, o que ela veio fazer na Terra, tudo fica claro, pois descobriu a razão da sua existência. Tanto é assim que as pessoas somente se descobrem quando encontram sua verdadeira profissão e sentem-se felizes fazendo o que gostam.
O Quando, então, interveio:
- Me desculpe, mas, a coisa mais importante da vida é o tempo. Por isto, a existência do passado, do presente e do futuro. Muitos vivem no passado, outros desperdiçam o presente e tantos esperam o futuro que nunca chega. A maioria se esquece da importância do agora. Quem descobre o tempo certo de fazer cada coisa, estará descobrindo que a razão da vida é simplesmente vive-la a cada momento. A vida acontece no quando.
O Porquê, à sua maneira, filosofou:
- A razão de viver não tem uma resposta única. Ela é fruto da soma. Em cada situação, desde aquelas de maior relevância até a mais simples atitude, a pessoa necessita perguntar o porquê. E isto não quer dizer que ela irá encontrar a resposta. A curiosidade é que move a vida. Sem ela nada faz sentido. Quando alguém para de perguntar os porquês de tudo, verdadeiramente, perdeu a razão de viver. 
O Quem, por sua vez, replicou:
- Vocês estão discutindo o mundo exterior como se isto justificasse a existência humana. Conhecer a si mesmo é o mais importante. Quem se descobre, quem se reconhece, quem tem consciência da dimensão da vida interior, não se deixa abater pelas coisas terrenas e alcançará a vida em sua plenitude.  Vocês são apenas imagens do ter. A verdadeira realização, a razão de viver se encontra no interior de cada pessoa, no próprio ser.
E assim ficaram discutindo por várias horas sem chegar a uma conclusão. Até que passou por eles um senhor com cerca de 80 anos e ao saber do motivo da conversa, concluiu:
- Passei toda minha vida tentando descobrir o que vim fazer aqui na Terra. Questionando quem eu sou, quando seria a data da minha partida e o porquê da minha existência. Foi somente dias atrás que me foi revelada a razão da vida, o que estamos fazendo aqui, de onde viemos e pra onde vamos.  E a resposta para tudo isto é...
Neste instante, o senhor interrompe bruscamente sua fala e, suando em bicas, coloca a mão no peito e tem um infarto fulminante.

Moral da história: existem muitas histórias que, como esta, não têm moral nenhuma. 

sábado, 23 de maio de 2015

Universitários sem universo

Outro dia, estando em reunião pedagógica, em meio a discussões, papéis, relatórios, avaliações, planejamentos de aula, números e metas, refleti sobre o que estava ocorrendo e me questionei: Onde foram parar os nossos sonhos?
Dias depois, ainda incomodado com tal pergunta, percebi que os sonhos continuam existindo sim, porém, eles parecem estar se tornando cada vez mais individuais, mercadológicos, por vezes, mesquinhos, repetindo o bordão do ter para ser.
Assim, talvez não existam mais tantos sonhos de buscar a cura das pessoas. Mas, os de possuir uma bela casa, um lindo carro na garagem, viagens para o exterior, ao se tornar um médico. Talvez não exista mais o médico da família e tão somente a família do médico.
Talvez não tenhamos mais tantos sonhos de lutar por justiça social, por “um mundo melhor”, cobrando das autoridades que apliquem bem os recursos públicos. Mas, o “sonho” de ser reconhecido pela sociedade, de aparecer na “telinha”, de poder dar “carteirada” em eventos, sendo jornalista. Talvez não exista mais o “porta voz” do social, mas apenas as janelas do individual.
Talvez não percebamos mais tantos sonhos que abracem causas coletivas, já que a lei da sobrevivência a qualquer custo, a busca pelos padrões impostos da tão decantada “qualidade de vida”, nos retire a qualidade devida de buscar a consciência universal de que todos somos um.
E foi assim, pensando em sonhos coletivos, que refleti sobre o Fies- o programa de financiamento estudantil criado pela nossa “pátria educadora”. É triste ver os sonhos interrompidos e desfeitos de tantos jovens e de tantas famílias pela impossibilidade de acesso a um curso superior. É desanimador sentir a forma desumana e insensível de cuidar dos sonhos de um governo que “alimentou” esta possibilidade, e, depois deixou milhares com “fome”.
Mas, o que mais incomodou é ver a passividade, a letargia dos universitários que já asseguraram o seu acesso aos bancos de uma faculdade. Esperava eu, em minha já cansada dor civil, ver estudantes de todo o país nas ruas. “Caras pintadas” exigindo o cumprimento do que foi prometido, sensibilizados com aqueles que foram alijados de forma tão abrupta dos bancos do ensino superior. Imaginava assistir pelas emissoras de televisão, jovens de todo o país iluminados pela causa, gritando palavras de apoio, expondo faixas com mensagens de solidariedade aos “colegas de classe”.
Senti então, este silêncio apático e o cansaço de jovens já tão velhos. Este outono frio e sem sol, quando o verão dos anos deveria convidar para o movimento. Senti corpos cheios de vida e vazios de lutas. Sarados por fora e tão debilitados em seu interior.
Universitários sem universo.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Baseado em fatos reais




- Cidinha, eu tenho uma bomba pra te falar...
- O que foi Cleusa? Qual é o babado?
- É sobre o Paulo, o marido da Vera...
(Cidinha faz cara de reconhecer o casal embora não tivesse a mínima ideia de quem a amiga estava falando)
- O que é que tem? Ele morreu?
- Pior que isto...quer dizer, nada disso. Você não vai acreditar...
- Para com este suspense Cleusa e conta logo...
- Eu custei a acreditar quando fiquei sabendo...
- Se você não disser logo, eu juro que vai haver um assassinato aqui...
- O Paulo tá preeeeso Cidinha!
- Como assim?Preso? Ele sempre me pareceu um cara honesto.
- Não é por isto não. Ele deu uma baita de uma surra na Vera e foi preso pela Lei Maria da Penha.
(Cidinha continua fingindo saber de quem se trata)
- Deus do Céu! Coitada da Vera.
- Pois é, menina. E a gente pensava que eles formavam um casal perfeito.
- É amiga. A gente nunca sabe o que acontece entre quatro paredes.
- Verdade. Mas a mim, o Paulo nunca me enganou. Ele tem um jeitão meio esquisito...um ar meio violento.
- Eu também sempre achei ele com cara de poucos amigos. Mas, quem é que te contou esta história?
- Ninguém. Fiquei sabendo pelo Facebook.
- Pera aí, Cleusa. Você tem certeza que esta história é verdadeira?
- Certeza, certeza...não tenho não. Mas onde há fumaça, há fogo.
- Sei não...vai que isto é fuxico. Tem gente que não tem nada pra fazer e fica falando mal da vida dos outros.
- Com certeza. Conheço gente que nem conhece as pessoas e fala como se conhecesse de muito tempo.
(Cidinha dá uma tossida forçada)
- Tem razão amiga. Eu tenho horror deste tipo de gente.
- Eu também não suporto quem fica cuidando da vida alheia. Ô falta de serviço!
- É coisa de quem tem tempo pra fofoca. Mas, se ficou sabendo da Márcia? Menina eu nem te conto...