Saímos às
ruas e encontramos muita gente no corre-corre do dia a dia. Em tempos atuais, em
conversas nas esquinas ou nos cafés, ficamos com a sensação de que o mundo
virou um balcão de reclamações.
Reclama-se
do síndico e da reunião, do marido ou da esposa, do patrão e do empregado, da
fila do banco e do ordenado. Reclama-se da professora e do aluno, da falta de
educação, do rumo sem nau e da nau sem rumo. Do governo e da falta dele. Do frio
e do calor, do lençol e do cobertor. Reclama-se de Deus e dos homens, da vida e
da morte, do excesso de azar e da falta de sorte.
Não tem o
que dizer para puxar uma conversa? Não tem problema. Saque do bolso a sua listinha de reclamações
e tão logo você der uma brechinha, o seu interlocutor fará o mesmo e daí o
previsível acontecerá. Você não resolverá a sua reclamação, mas irá desabafar e
fazer o seu comercial. Sairá daquele bate-papo (e o negócio é bater mesmo)
empapuçado com sua reclamação e a do outro.
Tudo bem,
dirão muitos, sem reclamação não há solução. Estão aí o Procon e os Serviços de
Atendimento ao Cliente (SAC), estes últimos, sujeitos a muitas reclamações.
Aliás, se é
verdade, diz o marketing, que enquanto uns morrem, outros vendem lenços,
pensamos em implantar um Disque-reclamação, onde centenas ou milhares de
atendentes estariam atendendo milhões de reclamantes. Talvez, não seja lá uma
boa ideia, já que muitos, com certeza, irão reclamar do serviço. Aliás, só de falar em telefonia no Brasil dá
vontade de reclamar (com justificativas) das operadoras.
Contudo, muitas
vezes reclamamos com a tendência em acreditar que a culpa é sempre do outro,
seja ele quem for. É como aquele marido que diz passar boa parte do tempo
resolvendo problemas no relacionamento com a esposa, que ele não teria se não
tivesse casado.
De verdade,
nas relações humanas, seja do patrão com o empregado, do aluno com a
professora, da esposa com o marido, do síndico com os condôminos e até da
relação nossa com a natureza, haverá sempre o conflito e este, na maioria das
vezes, não é nosso inimigo. É a febre que registra a existência da infecção.
A natureza
ensina que só existe luz, no conflito entre o pólo positivo e o negativo. Os
orientais orientam os desorientados que crise, ou conflito, é a grande oportunidade
de melhoria que a vida oferece. Assim, de nada adianta colocar um conflito
debaixo do tapete como se ele não existisse, ou como se a solução dependesse do
outro. A conversa frente a frente, sem medos, sem censura, assertiva, pode ser
o início de um novo começo e claro, na mesma ordem, o início do fim. Um
conflito não resolvido, diz o filósofo, é um disco arranhado a nos impedir que
passemos para a próxima música.
Por tudo,
talvez este texto não altere muito o panorama, isto porque até o redator deste
texto, veja só, reclama aqui do excesso de reclamação. E vale lembrar, se não
gostou deste texto, ou se ele lhe provocou algum conflito, infelizmente, não estamos
aceitando reclamações, nem devoluções. Diriam os mais antigos: Vá reclamar com
o bispo!