domingo, 19 de julho de 2009

Drogas do cotidiano

Existem drogas que toda a sociedade conhece de uso ilegal no Brasil: a maconha, o crack, a cocaína. Responsáveis por dizimar sonhos, por assassinar ideais, por desconstruir famílias.
Mas, existem outras tão letais quanto estas, mas que são legalmente inaladas e absorvidas pelos usuários, cidadãos comuns de uma sociedade doente.
Uma delas vem embrulhada em papel de presente. Droga estimulante muito citada em livros, revistas técnicas e em palestras proferidas pelas inteligências do mundo moderno: a competitividade. Esta droga nos força a ser super-heróis, a considerar todos a nossa volta como adversários. Torna maior também as nossas exigências sobre nossos filhos, empregados ou colegas de trabalho. A competitividade do "Você Sociedade Anônima", dos treinamentos que se rotulam como motivadores do ser, quando na verdade, incitam ao ter. A competitividade em casa, na escola, no trabalho. Qual é o nosso diferencial competitivo? Como vencer nossos oponentes? O que nos faz melhor que os outros? Como alcançar o sucesso?
Outra droga tem também embalagem atraente, sedutora, como subproduto da competição: a droga do consumo. É o carro X, o celular Y, o mais novo lançamento. Aquele produto que trará um novo status, a ascensão social, a aceitação e o reconhecimento de todos e que nos deixa depressivos quando não conseguimos atender ao convite do "Compre! Aproveite! Não perca esta promoção!".
Existe outro alucinógeno mortal que modifica comportamentos e que na maioria das vezes, se veste de terno e gravata, e freqüenta, principalmente, o meio político causando profunda dependência. A droga do poder. O poder do cargo, da pena, do ato, o poder da ordem. O que manda e desmanda, o que passa por cima, o que infringe leis, o que humilha e que subverte, o poder que corrompe. A droga do poder tem efeitos duradouros e colaterais, na miséria da sociedade, na inacessibilidade da educação e da cultura, na preservação do fosso social.
O poder, o consumo e a competitividade são combustíveis que alimentam uma sociedade capitalista. Infelizmente, se torna extremamente difícil, senão impossível, reverter um quadro em que todos nós somos, por assim dizer, dependentes crônicos.