segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

ATENÇÃO SENHORES PASSAGEIROS

Estaremos dentro de alguns momentos começando mais uma viagem com um tempo previsto em todo o trajeto de 365 dias. Carimbem o passaporte, definam o destino e embarquem na plataforma 2013. Quem tiver mágoas, ressentimentos, pendências e tristezas antigas na bagagem, favor descarregá-las no Balcão 2012, ao lado dos banheiros. Recomendamos o uso dos sapatos da boa vontade e as camisas do otimismo, evitando, durante a viagem, as saias justas da competitividade insana e os nós da gravata da ambição desenfreada. Os passageiros que portarem sorriso nos lábios, coração aberto e mãos prontas a construir terão assento preferencial ao lado da janela da felicidade. Solicitamos a todos que apertem o cinto da esperança e recomendamos que ninguém, em hipótese alguma, utilize a saída de emergência durante a viagem. Caso haja períodos de turbulência, mantenham a calma e a confiança no piloto desta aeronave, o Grande Comandante Universal. Em qualquer situação de medo ou desespero contem também com nosso atendimento de bordo realizado permanentemente por nossos anjos do espaço que estarão ao lado de cada passageiro. Recomendamos, durante todo o trajeto, atitudes de solidariedade, de atenção e carinho, principalmente com as crianças e idosos, o que garante a participação em nosso programa de milhagem. O ar das cabines, em virtude das ações do homem, está extremamente seco, por isto, sugerimos a ingestão de água durante toda a viagem. Além disto, moderação com as bebidas alcoólicas e alimentos gordurosos. Recomendamos também exercícios físicos como exercitar as pernas, braços e pés, evitando os inchaços prejudiciais à saúde. Importante lembrar que embora tenhamos pessoas viajando em classes diferentes nada assegura que na próxima viagem os passageiros terão direito aos mesmos assentos. Portanto, respeito e bom relacionamento com cada companheiro de viagem, independente da classe a qual pertença, será motivo de avaliação no momento do check-out. Para isto lembramos utilizarem o crachá da amizade e palavras de agradecimento e compreensão. Teremos, como já é de conhecimento, muitas escalas durante o trajeto, o que implica na necessária entrada e saída de pessoas, valendo recordar em todos os momentos da contínua confiança no Grande Comandante Universal.


A todos, uma excelente viagem!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Feicibuque

Estamos atrás de uma tela e observamos o mundo inteiro ao redor. Abrimos a janela e espiamos o reality show do cotidiano. Milhões de seres se entrelaçam em uma grande rede cibernética e a vida se faz compartilhada. Somos todos peixes no grande aquário universal. Ficamos sabendo que Marcos perdeu seu cachorro, Juliana acordou com dor de cabeça, Paulo está fazendo aniversário e Lili casou-se com J Pinto Fernandes e eles moram em Itabira, Minas Gerais.

Precisamos contar tudo para todos e dizer sim, existe vida por detrás dos muros da nossa solidão. Compartilhamos nossas emoções, tanto as banais, como tomar café em uma manhã de segunda feira, quanto às de arranjar um novo emprego. Abraçamos virtualmente os sempre amigos, os quase amigos, os que nunca vimos e aqueles que, provavelmente, nunca veremos. Quando estamos “down” fazemos o download, quando “up”, o upload. Sorrimos no kkkkk, hehehe, ahahaha, rsrsrsrs e se precisamos demonstrar outros sentimentos utilizamos as centenas de imagens do “Emoticons”.
Na vida nada se perde, tudo se posta. Na linha do tempo somos literalmente uma grande família e de mãos dadas navegamos juntos pelas teclas de um computador. Assistimos, curtimos, insistimos, existimos, resistimos.
Nossos vizinhos moram ali ao lado, a milhões de quilômetros de distância. Eles nunca nos viram em carne e osso, mas sabem muito sobre nós. Já nos viram sorrindo em festas e que gostamos de “pão de queijo”, “caipirinha” e “feijoada” e muitos se perguntam:- “O que será que tudo isto quer dizer? “.
No fundo, no fundo, no rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo, temos consciência da nossa incompletude nesta infinita Via Láctea. Gritamos em uníssono nossas limitações, nossos anseios, nossos medos tão iguais e que precisamos do outro para testemunhar a nossa existência.
Paradoxalmente utilizamos hardwares e softwares confesssando que somos geneticamente sensíveis, hereditariamente emotivos e amorosos. Nos descobrimos enfim, humanos, demasiadamente humanos.

 

domingo, 2 de dezembro de 2012

LIVRO 'VER A CIDADE"


Amigos deste blog, este final de semana fiz o lançamento do livro "Ver a cidade", uma compilação de com 85 crônicas escritas ao longo de anos, muitas delas publicadas aqui. Quem se interessar pelo livro, ele se encontra à venda na Livraria Nobel de Poços de Caldas ou mesmo pelo contato em meu email: wiliam.oliveira@uol.com.br

sábado, 24 de novembro de 2012

Antes que o mundo acabe


Confesso: sempre tive dificuldade em me envolver com assuntos metafísicos, espirituais, místicos, sobrenaturais ou qualquer outro nome que se dê para aquilo que não é “material”. Como São Tomé sempre acreditei em algo ou em alguém, depois de ver, filmar, fotografar, documentar e, nos dias atuais, postar no Facebook.
Algumas vezes fiz até cursos rápidos buscando o alinhamento com os planetas. Minha dificuldade nestes cursos começava quando era solicitado a ficar na posição de lótus (que eu sempre ligava com a equipe do Emerson Fittipaldi na Fórmula Um). Ou mesmo “entrar em alfa”, que eu sempre me imaginava entrando em um automóvel Alfa Romeo de ultima geração. Além disso,  era um sacrifício hercúleo ficar sentado sem apoio nas costas e, ao mesmo tempo, tentando cruzar uma perna sobre a outra. Ficava ainda mais nervoso ao escutar em background uma música calma e alguém com voz doce e melodiosa dizendo: “feche os olhos... desligue agora toda a sua mente...imagine-se em uma praia e as gaivotas batendo as asas suaaaaaavemente sobre o mar azul...”  Tais palavras tinham o poder abstrato de me devolver ao mundo concreto  e com um olho aberto e outro fechado, ficava segurando a minha vontade de rir para não atrapalhar o “vamos a La praia” dos meus colegas. Diacho!  Por que todos estavam felizes e sorridentes na praia com as gaivotas e eu ali, entre quatro paredes, de calça comprida e sapato, indo enfrentar apresssssadamente mais um dia de trabalho convivendo com os “urubus” do mercado capitalista?
Fiz toda esta introdução do meu histórico ateu para dizer que ando a toa e preocupado com o final do mundo, que, segundo dizem, acontecerá em dia 21-12-2012. Embora não acredite nesta possibilidade, vai que...
Com este pensamento, comecei a imaginar o que fazer com o “the end of the world” e como aproveitar o restinho que me resta. Escrevi em uma folha a primeira atitude, um acerto de contas com o passado: ir para a praia e encontrar as gaivotas que suaaaavemente batem suas asas sobre o mar azul.A segunda atitude seria comprar uma fantasia de anjo, pensando, claro em confundir os guardas celestes e evitar ir para um lugar infernal.  Depois disso, mais concentrado, escrevi outra atitude: ficar mais próximo das pessoas que realmente amo. Curtir cada minuto ao lado delas e dizer da importância que sempre tiveram em minha vida. Dividir o meu tempo com outras pessoas: visitar um asilo para sugar a experiência, que por vezes subestimei, daqueles que ultrapassaram os 60,70, 80 anos.  De outra ponta, ir a um orfanato para, no contato com as crianças, tentar ressuscitar em mim, o doce sabor da infância. Em legras garrafais, sublinhei “RETOMAR O ROMANTISMO” escrevendo poesias sobre o amor e os sonhos, o dia e a noite, “o sabor das massas e das maçãs”. Ler mais Guilherme de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina. Colher flores e entrega-las ao carteiro, à menina da padaria, ao zelador do meu prédio.  Cantar debaixo do chuveiro aquelas músicas que fizeram parte da minha história. Buscar a reconciliação com alguém que me causou ou que causei alguma mágoa. Ir para o alto da montanha, fazer uma fogueira, e, ao seu redor, reunir os amigos e, assim, juntos, de mãos dadas, em um grande círculo, elevar ao céu uma oração, celebrando e agradecendo a beleza da lua.
Ao finalizar refleti que o mundo acaba todos os dias pelas ações que não realizamos, pelas pessoas que não valorizamos e os sonhos que adiamos. O nosso mundo se desalinha cada vez mais por acreditarmos mais nos números revelados em nossos cartões de crédito que nas revelações existentes no incontável número das estrelas do universo.
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muita vez desperto. E abro as janelas, pálido de espanto

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Facilidade e Felicidade

“Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades” proclamava o Barão de Itararé, personagem de autoria do escritor Apparício Torelly (1895-1971). No mundo em que vivemos e até onde podemos perceber, a tendência comportamental sinaliza a opção generalizada pelo fácil e suas variáveis: o mais fácil, o facílimo e o facinho, facinho. Quer coisa mais fácil, “tremendamente fácil pra você, e eu e todo mundo” que cantar e tocar “Fácil” da banda mineira Jota Quest?
Responda rápido, se você tiver que perder peso, você escolhe: 1) Malhar durante meses na academia 2) Tomar um “milagroso” chá emagrecedor 3) fazer uma lipoaspiração. Para uma pergunta tão fácil como esta não é difícil imaginar que a maioria das pessoas dificilmente escolheria a opção 1.  Continuemos o teste: ler um livro ou ver um filme? Estudar ou colar? Criar ou copiar? Trabalhar ou corromper? Educar os filhos ou dar um computador de presente? Fazer o certo ou “dar um jeitinho”? Passar pelas etapas ou “pular” os degraus?
Vivemos em busca do método mais rápido, da maneira mais fácil de aprender inglês, de tocar um instrumento, ou de fazer um prato saboroso. A pergunta que fazemos em todos os momentos é: como alcançar com mais facilidade, em menor tempo, com menor custo, sem muito trabalho, tudo o que geralmente só se conquista com muito investimento, esforço e dedicação?
Vemos isto em atos simples do cotidiano: é mais fácil jogar o lixo no chão que procurar uma lixeira; passar com o carro no sinal fechado que esperar o verde; usar de influência pessoal para “cortar” filas que aguardar a vez.
Conhecemos pessoas que reclamam que a natureza é imperfeita, pois o ovo já deveria vir frito, o coco com canudinho e a laranja descascada.
A tecnologia tem grande parcela de responsabilidade. São novos instrumentos, novos sistemas, tudo feito para nos dar mais comodidade, retirar o esforço e, dizem, simplificar a vida.
O governo por sua vez optou por “facilitar” as coisas através das cotas e bolsas. É mais fácil oferecer cotas que investir na qualidade de ensino das escolas públicas. É mais fácil oferecer bolsas que investir na capacitação das pessoas e na geração de empregos. É mais fácil investir no “circo” que ensinar a produzir o próprio pão.
O notório é que as “facilidades” têm nos sequestrado a felicidade da conquista e desvirtuado a importância das vitórias obtidas pelo empenho e garra. Tanto que se torna cada vez mais difícil encontrar espaços livres nas agendas dos consultórios médicos.
Materializamos os sonhos: o ter (carro, casa, eletrodomésticos etc) assumiu o lugar do ser (encanador, pedreiro, professor etc).
Por falar em felicidade e sonhos, voltamos ao Barão de Itararé: "Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra". Fácil, não?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Bullying


Descobri: sou uma das vítimas desse tal de bullying. Explico. Quando criança por ter a pele clara e cabelos loiros,  meus colegas de escola me chamavam de “branquelo”, “alemão”, “bicho de goiaba”, “jaleco de médico” e por aí afora. Uma vez fui de excursão para a praia e um amigo me disse: “Vi você na praia e Luzia”. Eu disse: mas eu tava sozinho. E ele: “É que você “luzia” de tão branco”. Hehehe! Não achei graça nenhuma. Porém, quantas vezes tomei sol passando aqueles bronzeadores caseiros só para ficar mais “moreninho”. Aí é que a situação piorava ainda mais: -“Ô pimentão!”.
Hoje sei que muito dos meus problemas atuais, cientificamente comprovados, foram frutos das gozações, quer dizer das “bullinzadas” que recebi na infância, inclusive o fato de não conseguir comer goiaba, principalmente aquelas brancas que têm bicho dentro. Quer mais: fico nervoso só de ver médico de jaleco e também nunca comprei carro alemão. Agora eu pergunto: quem é que vai se responsabilizar por todos estes traumas que até hoje afetam a minha vida? Fala aí, ô dona Mônica, digo, dona Dilma. Quero ver se a senhora tem café no bullying, quer dizer,  no bule, para resolver isso.
Estou pensando seriamente em processar judicialmente o governo, afinal, fui aluno de escola pública. Refletindo bem, melhor não. De repente alguém se lembra que eu o chamei de “negão”, “gordinho”, “poste”, “bafo de onça”, “chulé”, “polegar”, “dumbo”, “meio vort”, “quatrozóio”...deixa quieto. De qualquer maneira, foi bom descobrir que aqueles apelidos que eu tinha, ganharam hoje um apelido diferente, mais bonito, americanizado: bullying.
Tá certo. O mundo ficou muito sério e coisas que antes eram consideradas meras brincadeiras de criança, perderam a graça e passaram a ser problema para os adultos analisarem e resolverem.
Antigamente a rua nos ensinava a vida: ralávamos o joelho na pelada, quebrávamos o braço andando de bicicleta, ficávamos esfolados e doloridos pelas brigas para, no outro dia, tudo ser esquecido.
Xingávamos e éramos xingados. Zombávamos e éramos zombados. Respeitávamos e éramos respeitados. Desde criança aprendíamos que viver era conviver com os conflitos e os choques e contusões faziam parte da convivência, nada mais. Por sermos tão desprotegidos pelas leis dos homens, aprendíamos a nos proteger pelas leis das crianças, aquela que em seu primeiro artigo dizia: “tudo será permitido, desde que seja de brincadeira”. E naquela época, daquele jeito, fomos felizes para sempre.
Vivemos hoje um mundo de mais regras e menos responsabilidades. Mais garantias por decreto, mais inseguranças no concreto. Pais culturalmente amparados, filhos socialmente desamparados. Somos filhos de um  governo que incentiva o ter e na mesma medida desqualifica o ser.
Legalizamos tudo e nada está legal. As crianças se tornando mais adultas e os adultos, menos crianças.
Alguém disse um dia que a nudez era um mal e precisávamos cobrir o corpo. E assim foi feito.
Precisamos sim combater o bullying, agora que o descobrimos.

 

domingo, 4 de novembro de 2012

POÇOS: O FUTURO LHE ESPERA E DAÍ?

Em 06 de novembro de 1872 nascia oficialmente o município de Poços de Caldas. Naquele mesmo ano o Brasil de Dom Pedro II realizava seu primeiro censo contabilizando pouco mais de 10 milhões de habitantes. De lá para cá, o Brasil cresceu muito e Poços, por sua vez, passou por diversas fases relacionadas ao turismo e ao seu desenvolvimento industrial, comercial e cultural. Em uma linha do tempo sem cientificidade e com licença poética dos historiadores, podemos destacar alguns acontecimentos: o turismo das águas com o balneário dos Macacos e da Thermas; o turismo dos cassinos com o Palace Casino e o Palace Hotel; o turismo da lua de mel com o crescimento da rede hoteleira; o desenvolvimento industrial com a Alcoa e outras empresas; o cultural com a Urca e a chegada das universidades; o comercial com as modernas lojas da área central e a inauguração do shopping. Na área pública com a mesma régua, apenas para registro e sem juízos de valor, o planejamento viário das ruas largas e jardins, o saneamento básico com o DMAE, a energia elétrica com o DME, a inauguração do Terminal de Linhas Urbanas e a Rodoviária, o Hospital da Santa Casa e a Policlínica. Junto a estas ações citadas apenas como exemplos poderiam se agregar muitas outras se não houvesse limitação de tempo, espaço e memória.  Se o passado nos traz páginas de inúmeras conquistas qual o futuro estamos escrevendo para esta cidade que completa 140 anos de histórias?
Precisamos pensar no presente. Temos problemas no trânsito com o aumento diário no número de veículos e congestionamentos cada vez mais frequentes; o transporte coletivo com tarifa alta e desequilíbrio operacional; a saúde que, apesar dos esforços, não acompanha as necessidades da população e nem se mantém saudável para os profissionais do setor; o turismo sem diretrizes em longo prazo; a cultura carente de política específica para a sua sustentabilidade; a energia elétrica e o saneamento básico sem energia para o crescimento; o volume de lixo gerado sem o tratamento devido; a prefeitura sem estrutura física e forma ultrapassada de gestão; as drogas invadindo as famílias. Como buscar soluções na atualidade para todas estas questões sem comprometer o futuro?
Inexistem claro receitas prontas e nem fórmulas mágicas. Muito menos acreditar que uma única andorinha é que fará o verão. Porém, criatividade, planejamento, parcerias e pessoal qualificado são pilares que não podem faltar na busca pelas soluções. Se continuarmos a cuidar “das doenças” sem buscar conhecer suas causas, estaremos no círculo vicioso da repetição de erros, que tem sido, infelizmente, característica das últimas administrações. Podemos afirmar sem medo de errar que o desenvolvimento de Poços é inevitável, mas os problemas oriundos podem ser evitados ou, pelo menos, tendo seus impactos reduzidos. O “furacão” se aproxima e os “registros meteorológicos” apontam que os “estragos” poderão ser grandes, se não houver medidas efetivas de combate. A inteligência precisa tomar o lugar do improviso; os estudos técnicos expulsarem os “achismos”; o planejamento nascer antes do “fazejamento”; as funções virem antes dos cargos e dos interesses político-partidários.
Enfim, para preservar a nossa sede de desenvolvimento, necessitamos pensar no futuro que acontece em cada ação no tempo presente. Se não for assim, corremos o risco de nos afogar com o excesso, ou mesmo, morrer de sede em frente a tantos mananciais.
Saúde Poços. Hoje e sempre!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

AS MIL E UMA MORTES



A gente, pra nascer, só existe um jeito,

Mas pra morrer, meu irmão, não existe preceito


Morre-se de câncer ou então, de canseira

Morre-se com ciência, ou então, de bobeira



Morre-se queimado e também afogado

Assim e assado, assaltado, assassinado



Morre-se esquisito na esquistossomose

Morre-se lépido na leptospirose



Morre-se pela bolinha, ou pela Ébola

De sarampo, varíola e também catapora


Morre-se no carro, no mar e na moto

Na terra e no ar, furacão, maremoto



Magro ou gordo, não importa a caloria

Enterra-se com AIDS e com disenteria



Meningite, diverticulite e até apendicite

Morre-se assim, ali e aqui, lá em New York City



Morre-se pelo tóxico, ou pela toxoplasmose

Morre-se de anemia e também de overdose



Morre-se de infecção hospitalar, a septicemia

De enfisema pulmonar em pleno ar do dia



Ninguém sabe o dia ou a hora exata

É um dengoso mosquito que pica e que mata


Morre-se do coração que parou de repente

Ou no ataque de um cão que parecia inocente



Morre-se ao nascer ou pelo muito viver

Morre-se de rir, ou de tanto sofrer



Morre-se de amor, diz o romântico poeta

Morre-se no ódio da religião do profeta 



Enfim, a gente morre por tudo, com tudo, ou por nada

De doença fatal, ou por uma unha encravada



Mas não se descobrindo a causa quando a morte convida

- Morreu de quê?

- Ah! Morreu de morte morrida.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

GERAÇÃO CESARIANA




César é um adolescente instável, muito dependente dos pais, tem dificuldade de tomar suas próprias decisões, não gosta de sair de casa e vive no computador. Já Ana tem opinião própria, quer ser arquiteta, busca sempre novos desafios e usa o computador com moderação. César e Ana são irmãos, ela tem 17 anos e ele, 15. Um detalhe: ele nasceu de cesariana e ela de parto normal.

Anos atrás a maioria dos brasileiros nascia de parto normal, com o auxílio de parteiras, pessoas simples e humildes que tinham a sabedoria herdada de fazer “vir ao mundo” milhares de pessoas. Então, no momento do parto, percebia-se o esforço físico de três pessoas: a mãe, a parteira e o bebê. Este último inclusive que fez sua primeira escolha na vida: a data do seu nascimento. Ao longo da vida, as pessoas continuaram a “parir” o seu destino: começaram a trabalhar cedo, fizeram “muita força” para alcançar o que queriam, enfrentaram muitos desafios e aprenderam que não existem “atalhos” e aquilo que se chama de “menor esforço” resulta sempre em perdas no futuro.

Hoje, vivemos a síndrome da “geração cesariana”.  O objetivo é “pular degraus”, descobrir “atalhos”, facilitar ao máximo a conquista de tudo. Os exemplos são inúmeros e têm no governo federal a sua “maternidade” no excesso de “bolsas” e de “cotas”, seduzindo as pessoas para a posse de bens materiais como se isto fosse o “passaporte” para a cidadania e a justiça social.  Passa também pelos pais que buscam “dar tudo” aos filhos, sem exigir deles, o mínimo esforço, sequestrando deles o insubstituível sabor da conquista pessoal. O resultado: jovens sem criatividade, sem  perspectivas,  sem sonhos. Ninguém quer “correr atrás”, mas todo mundo quer chegar “na frente”, de preferência, na “banguela”, sem esforço, sem luta.

Triste olhar para jovens tristes, escondidos atrás das telas virtuais, com medo do futuro, dos outros e de si mesmos. A “geração cesariana” corre o risco, desde o nascimento, de não gerar seus próprios caminhos, e ao não enfrentar as pedras, não chegar ao topo da montanha, que exige esforço, persistência e garra, mas que possibilita a sensação indescritível da missão cumprida de quem chegou onde queria.

 Segundo a Organização Mundial Saúde, o Brasil o é o campeão mundial de cesarianas. Enquanto o percentual recomendado é de 15%, a média nacional é de 52,2%.A cesariana é um parto cirúrgico indicado apenas quando a mamãe ou o bebê correm algum risco. No parto normal, a recuperação é mais rápida e o bebê sofre menos riscos de problemas respiratórios ao forçar o pulmão em sua primeira respiração. A questão envolve ainda aspectos financeiros e de agendamento médico.

Sobre as nossas personagens do início deste texto: César teve recentemente problemas de postura corporal e está em tratamento em uma clínica de fisioterapia. Quanto a Ana, ela vai muito bem, obrigada.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PROFESSONHOS

Ao andar pelas ruas, repare na quantidade de sonhos que estão ali ao seu lado.
Vê aquele jovem que caminha apressado? Um sonho anda junto com ele: o de se tornar engenheiro.
E o daquela pessoa mais adulta ao telefone? Um sonho fala diariamente aos ouvidos dela: adquirir uma casa própria.
Perceba aquela senhora sentada no banco da praça.Um sonho está sentado ali ao lado dela: rever a sua cidade natal na Itália.
Vê aquela criança brincando no parque? O sonho dela é de ganhar uma boneca. Já o do pai que a acompanha: o de arrumar um emprego.
Aquela mulher solteira tem o sonho de se casar, e sua irmã casada, o de ter um filho.
O doente de se curar e o atleta o de bater um recorde.
Há quem sonhe em escrever um livro e quem persegue o de publicar um best seller.
O que sonha há anos em ter o seu primeiro carro e o que alimenta ter uma Ferrari.
É possível encontrar, sem preconceitos, gente que aspira um local para abrigar os moradores de ruas e pessoas sonhando em colocar silicone nos seios.
Mas, na múltipla, diversificada e interminável lista, há um lugar especial reservado àquelas que carregam na alma, o sonho de ser professor ou professora.
Mas, o que é ser professor senão, professar os sonhos dos outros. Acompanhar, orientar e desejar que a educação possa ser realmente o caminho para a realização concreta dos quem têm sonhos. Não deixar de acreditar nunca, ter a certeza da possibilidade concreta até dos sonhos ditos impossíveis. Enxergar aquela luz que brilha nos olhos de muitos e não deixar que ela se ofusque.
Ser professor é lutar contra o apagador de sonhos no quadro negro da injustiça social, que chega pelo caderno das nossas mazelas, pelas linhas da violência, da corrupção e da miséria.
Ser professor não é somente celebrar a vida. 

É comungar com ela, os sonhos de todos nós.
Ser professor enfim, é viver os sonhos, acreditar nos sonhos, alimentar os sonhos.
É ser professonho.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Poços: sob nova direção


Eloisio Lourenço será o novo prefeito de Poços de Caldas. Se alguém afirmasse isto há alguns meses atrás certamente seria ignorado. Mas o que muitos consideravam improvável aconteceu e o candidato do PT assumirá a prefeitura de Poços de Caldas a partir de 2013. Será que o 13 aqui foi mera coincidência?

Em uma eleição onde os prognósticos mudavam a cada semana e, ao que tudo indicava, a disputa ficaria entre o prefeito atual e o deputado federal, quem acabou sorrindo foi o dentista Eloísio. Pelo que consta é o terceiro dentista que Poços elege: o primeiro foi Sebastião Navarro, o segundo Geraldo Thadeu e agora o Eloísio. Sei não, mas quem quiser ser prefeito da cidade nas próximas eleições, melhor é começar já o curso de odontologia em alguma faculdade. Outra característica da eleição em Poços e que se manteve neste pleito é que nenhum prefeito desde David Benedito Otoni, em 1905, conseguiu ter dois mandatos consecutivos.

A vitória de Eloísio começou a ser construída no ano passado quando houve a implosão, a desconstrução, a ruptura política entre o prefeito atual e o grupo político que o apoiava. A partir daquele instante passou a ser viável uma terceira via, resultado ainda de pesquisas que apontavam o desejo de mudança pela população. Encarnando o slogan “a verdadeira mudança” e realizando uma campanha com tom discreto, sem grandes alardes, fugindo das brigas e discussões e com baixo índice de rejeição, Eloísio conseguiu puxar para a sua candidatura, um grande número de indecisos que passaram a apoiar o seu discurso e que fizeram a diferença na boca de urna. Alias, quer lugar mais apropriado para a vitória de um dentista que a boca de urna?

Ao que consta, o dentista Eloísio deverá assumir uma prefeitura com muitas dívidas e inúmeros problemas e terá que trabalhar muito para corresponder às expectativas da população.

Como poçoscaldenses ficamos na torcida para que o dentista Eloísio consiga realizar o que a cidade solicita: eliminando as cáries das ruas, implantando nova política administrativa na prefeitura, fazendo as restaurações no Turismo e os tratamentos de canais na Saúde, extraindo o que não contribui e auxiliando os dentes da engrenagem do desenvolvimento e da qualidade de vida.

Que o dentista Eloisio, além dos discursos estéticos, possa realizar as cirurgias estruturais que a cidade espera e que consiga o melhor resultado de um governo: fazer sorrir àqueles que mais necessitam das ações públicas.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Supermercado Eleitoral

O Brasil vive as eleições municipais. Momento de fundamental importância na lógica social, pois é a soma de todas as cidades que delineia a vida que o brasileiro tem em suas diversas nuances: saúde, educação, habitação, segurança, emprego.

Apesar disto, na maioria dos municípios o que se percebe é o desinteresse do eleitor, refletido pela indecisão na escolha dos candidatos a prefeito e a vereador. Como se estivesse em um “supermercado” lotado de produtos e mesmo bombardeado pela propaganda, o eleitor parece apático como se a eleição não fosse alterar a sua rotina, não parecendo disposto a “comprar” nada do que lhe oferecem.

Um das razões é que as eleições municipais se tornaram um “varejo” de duvidosa qualidade. A maioria dos candidatos a vereador apresenta propostas ilusórias, desconhece totalmente a função do legislativo municipal e não possui o “conteúdo” necessário para exercer a função. As mensagens que tentam passar nos segundos disponíveis no rádio e na TV parecem “promoção” de final de semana e quem precisa dar “desconto” é o eleitor, mais uma vez “embrulhado” pelos folhetos (santinhos) espalhados pela cidade.

O eleitor se depara nas “gôndolas” com candidatos desconhecidos e despreparados o que vem demonstrar que os partidos precisam mudar radicalmente a forma de seleção, embora eles próprios (os partidos) não tenham tanta credibilidade para fazer isto já que a ideologia partidária é “produto fora de linha”.

Falar dos candidatos a prefeito é refletir inicialmente que “planejamento” é mercadoria de difícil aceitação pelos partidos. Os nomes dos candidatos ao executivo municipal, com raríssimas exceções, são decididos em conversas de final de noite, dias antes das “portas” das eleições se abrirem ao público. A pergunta que se faz é onde está a seriedade tantas vezes repetida na campanha eleitoral se os partidos “brincam” na seleção de um candidato a prefeito? Mais uma vez vende-se muito a embalagem sem preocupação com o conteúdo.

Por outro corredor, a informatização nas nossas urnas eletrônicas com a apuração digitalizada tenta esconder um sistema eleitoral que já está com data de validade vencida. Repare na credibilidade das pesquisas eleitorais. Elas seguem uma série de normas técnicas para a sua divulgação, porém, não escapam de serem manipuladas em sua formatação e em seus critérios de amostragem. Particularmente defendemos que a Justiça Eleitoral deveria proibir a divulgação de pesquisas, pois estas perderam a sua autenticidade e veracidade, sendo instrumentos que favorecem determinada candidatura visando apenas confundir o eleitor. Elas poderiam ser feitas pelos partidos e coligações para identificar o diagnóstico do ambiente eleitoral e a temperatura da campanha, mas sem divulgação ao público.

Em outro setor, os debates no rádio e na TV se tornaram palco de disputas pessoais como um tribunal a discutir culpados e inocentes e uma plateia que mais parece torcida organizada, ávida por um “chute para fora” do concorrente. E o candidato? Suando em bicas para tentar formular uma pergunta “inteligente”, pensando na réplica e preocupando-se com a tréplica. Quem sabe ele consegue fazer uma apresentação épica?

Finalizando, este supermercado eleitoral precisa urgentemente de reformas, pois já não atende aos seus consumidores. O eleitor não encontra “os produtos” que deseja e não tem os serviços que merece. Assim, na hora do voto, na boca do caixa, acaba por pegar o primeiro que aparece, até descobrir, anos depois, que comprou “gato por lebre”. Mas aí vem outra eleição e a logística permanece a mesma.

Lembramo-nos de uma frase publicitária veiculada anos atrás que se referia a uma bolacha de consumo popular. “É fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho?”. Perguntamos: não temos bons candidatos porque não somos bons eleitores ou não somos bons eleitores porque não temos bons candidatos?



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CURSO DE CALIGRAFIA

Temos observado o mundo através das janelas estreitas da nossa compreensão. São dezenas de perguntas sem respostas e dezenas de respostas que não atendem ao que perguntamos. Há uma consciência de que precisamos escrever as coisas de outra maneira, mas como fazer isto?
Como minúsculas células no corpo social, vivemos nos questionando se não estamos nos afastando por demais do que nos trouxe até aqui. Mas aí vêm outras indagações milenares sobre a razão da nossa existência nesta convivência tão passageira e fugaz. Sob este olhar filosófico e despretensioso nos permitimos refletir sobre a política eleitoral. Estamos repetindo há anos a mesma rotina: candidatos que buscam justificar o que fizeram enfrentando candidatos que buscam justificar que irão fazer melhor. Em meio a isto, eleitores cada vez mais apáticos, indiferentes, alienados por convicção porque já não acreditam mais nas causas e muito menos nas pessoas. Sim, tem gente manifestando a sua opinião nas redes sociais, porém, muitos escondidos nos fakes digitais, atrás das telas de um computador. No fundo temos medo. Medo de acreditar e nos decepcionar. Medo de colocar um adesivo de um partido ou de um candidato no peito ou mesmo em nossa casa ou veículo. Repare em sua rua, quantos são aqueles que, não sendo candidatos, estampam suas escolhas. Repare quantas pessoas se unem em torno de uma causa, quer seja o buraco na rua, a falta de creche ou mesmo para elogiar uma obra bem feita, uma ação bem realizada. Questionamos em outra pergunta se o sistema democrático que nos deu a liberdade da escolha, legou-nos também o medo de escolher e manifestar o que pensamos. Estamos livres ou nos aprisionamos em um processo que nos asfixia a reflexão? Ninguém declara seu voto abertamente, não porque o voto seja secreto, mais pelo receio de perder posteriormente uma amizade, um apoio, ou uma negociação futura. Em certo sentido nos alimentamos do mesmo prato dos políticos: sorrimos para todos porque no futuro podemos depender de um deles.
Estamos mais individualistas é fato, por já não crermos no coletivo, quer seja ele representado por um partido político, uma associação ou um sindicato. O governo faz a sua parte retroalimentando a nossa dependência quando nos ajuda no individual quer seja nas bolsas ou pelo sistema de cotas. Na melhor das hipóteses o governo pensa ser um pai acreditando que melhora a vida de um filho por lhe saciar todas as vontades. Na realidade nos retira ainda mais a causa. Se não existe guerra, para que existir soldados?
 O sistema é assim ele nos sacia individualmente para que percamos as causas coletivas. Retira-nos o tempo, quer no trânsito caótico, na busca pelo emprego, na ditadura da diversão, para que nos olvidemos de pertencer à mesma aldeia. Repare. Encontramo-nos cada vez menos e quando o fazemos temos menos tempo para refletir e na maioria das vezes, discutimos mais o que nos desune: a violência, a corrupção, os problemas de relacionamento.  Na verdade, estamos nos vendo cada vez mais em locais que representam a impossibilidade de outros encontros com alguém que nos era tão próximo e quando a vida nos faz conhecer o seu antônimo. Seguimos assim, com muitas dúvidas e repetindo conscientemente os mesmos erros neste livro do cotidiano.
Lembramo-nos do curso de caligrafia, hoje em versão on line, mas antigamente feito presencialmente por quem tinha a letra ruim ou ilegível. Era necessário escrever centenas de vezes no mesmo caderno a mesma palavra dentro da mesma forma. Talvez seja isto: somos aprendizes em um curso de caligrafia, cujo professor é a própria existência, e vamos tentando escrever melhor o nosso dia a dia. Estamos ainda rascunhando e precisamos rabiscar muito, milhares de vezes, do mesmo jeito, da mesma forma, as mesmas palavras, para, um dia nos formar, e então escrever com letras garrafais e legíveis, as melhores páginas de nossa própria história.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O osso

Os grandes cães (dobermanns, pitbulls, rotweillers) viviam ao lado dos cachorros médios e pequenos e, por vezes, até se misturavam. Mas tudo era muito “cãotrolado” e já fazia tempo, muitos anos, que os grandes, cuja idade era também mais avançada (alguns até com artrites, escolioses, lordoses e cifoses) estavam atentos e faziam grandes articulações para que o osso não caísse nas mãos, digo, bocas dos cachorros médios e menores. Ladravam eles: “o osso é nosso e não podemos de maneira alguma deixar que estes vira-latas, “cãomunistas” e “menorzinhos” (chihuahuas, bassets, poodles) o abocanhem. Cães grandes unidos jamais serão vencidos!”. 
O osso era realmente muito bom, tinha altas reservas minerais, principalmente enxofre, e qualidades protéicas e naturais que o tornavam diferenciado.
Alguns cachorros médios (labradores, dálmatas, pastores-alemães) observavam a “briga” pelo osso e questionavam quais seriam as verdadeiras rações, digo razões, que faziam com que os grandes não deixassem que ninguém mais tomasse conta do osso. Chegavam até, em determinadas épocas, a rosnarem. “Estes cachorrões são ossos duros de roer, verdadeiros lobos. Por que não querem largar o osso? Isto não pode continuar assim. Precisamos ir até o “cãogresso” e mudar esta situação”.  Mas, passada a eleicão, a vida voltava ao normal e tudo permanecia como antes “no quartel do Abrantes”.
E assim, os anos foram passando e a vida naquela “cãomunidade” não mudava. Mandava quem podia (os grandes cães) e obedecia quem tinha os cisos, ou caninos (pequenos e médios cachorros).
Mas e o osso? Ah! Este continuava forte, pois tinha, como já foi dito, uma estrutura molecular invejável e cartilagens que auxiliavam a reduzir os fortes atritos que o osso vinha enfrentando ao longo do tempo. Entretanto já se podiam notar pequenas fendas indicando problemas que os grandes tentavam esconder. O medo dos pequenos e médios era com a temível osteoporose. Era preciso fazer alguma coisa.
Foi então que, lentamente, de maneira não muito organizada, cachorros médios e pequenos passaram a se reunir nos terrenos baldios, em esquinas mal iluminadas, nas ruas esburacadas dos bairros da periferia. Os médios e pequenos estavam “mordidos” e foram tomando, sem que fossem notados, os espaços reservados aos grandes. E os latidos, antes tímidos, tornaram-se raivosos e barulhentos. Uma “revolucão” se configurou nas palavras de ordem em faixas e cartazes espalhados pelas vizinhanças. “O osso é de todos”. “Cachorros unidos jamais serão vendidos”.
E foi assim então, que um dia, aquele osso, antes propriedade particular de um pequeno grupo de cães, se repartiu em milhões de minúsculas partes e, hoje, alimenta a todos daquela pequena aldeia.
“Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”-Victor Hugo.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Proibido pedir voto ao eleitor

Muitos reclamam sobre o horário eleitoral gratuito: “Vai começar o festival de bobagens!”. Outros não agüentam os cavaletes dos candidatos. “Enfeiam a cidade”. Aquele não suporta carro de som. “Muito barulho na cabeça”. Fulano não pega santinho nem com reza brava. “Quando alguém vem me dar um santinho, jogo uma praga nele”. Sicrano excomunga candidato que expõe seu santinho na rede social. “Ali não é lugar para isto”.
Outdoor não pode. Showmício não pode. Distribuir camiseta, caneta, chaveiro, boné,  não pode. Propaganda em portais ou provedores de acesso não pode. Simulador de urna eletrônica não pode.
 Os excessos cometidos por candidatos e partidos em outras eleições, a imagem negativa da política e o abuso do poder econômico foram alguns dos fatores que contribuíram para que nós brasileiros ficássemos rigorosos, cheios de pudor, regras de boa conduta e “não me toques” quando o assunto é propaganda eleitoral e a justiça seguiu de certa forma as nossas vontades.
 O “politicamente correto” nos imputou uma camisa de força que para muita gente qualquer propaganda eleitoral é imoral, é ilegal ou engorda.
Se o ambiente está assim, é bom não esquecer que estamos em uma CAMPANHA ELEITORAL (helôooo!) realizada justamente para que a população conheça melhor os  candidatos, sejam eles bizarros, sérios, certinhos, revolucionários, acomodados, engraçados, propositivos, inocentes ou culpados. As pessoas têm o direito intransferível e inalienável de achar que aquele agiu certo, o outro errado, que Romários e Tiriricas devem ser eleitos. É possível até fazer uma adaptação na frase de Voltaire: posso discordar totalmente da sua escolha, mas defenderei até a morte o seu direito de escolher.
Mas para escolher é preciso ter acesso ao cardápio e os instrumentos de comunicação (rádio, televisão, internet, santinhos, folhetos, jornais, cavaletes, carros de som, conversas na esquina, debates, reuniões etc) são os canais para que o candidato possa se expor publicamente e revelar o que pensa e no que acredita. Por mais que a gente se sinta incomodado é necessário compreender e conviver durante algum tempo com algo que não faz parte do nosso cotidiano. Uma obra para ser realizada irá causar algum transtorno temporário e a campanha eleitoral existe até para que, discordando de alguma atitude de um candidato, escolhamos não votar nele.
Não estamos pregando “o pode tudo”. O que refletimos é que o “nada pode” também não é o melhor caminho no processo eleitoral. As diferenças ou as semelhanças entre os candidatos precisam ser mostradas para que o eleitor possa analisar e escolher de acordo com suas convicções. Fala-se tanto em excessos, contudo os excessos contra a campanha eleitoral também são prejudiciais à saúde da democracia.
Hoje percebemos o reflexo desta situação nos candidatos que se mostram temerosos por perderem o voto por uma ação que possa ser considerada agressão à nossa “sociedade civil organizada”. Para ilustrar, outro dia encontramos um candidato que, cabisbaixo, meio constrangido, como se estivesse cometendo um crime, nos revelou confidencialmente um segredo: ”olha eu sou candidato, mas, por favor, não conta prá ninguém tá?”.

sábado, 11 de agosto de 2012

Dona Esperança


Embora viaje por milhões de anos pelo mundo inteiro, há mais de 500 anos escolheu como sua residência fixa a Rua Brasil. Sabe ser ali, lugar de gente sofrida e ao mesmo tempo tão sonhadora, que a sua presença se faz tão importante. Já está muito velhinha e por vezes, parece tão cansada que faz muita gente acreditar no seu fim próximo. Porém, basta pensarem assim, para ela ressurgir ainda mais forte e cheia de vida.
Ela é amiga de todo o mundo, mas as crianças...ah! estas sim conhecem-na como ninguém. É possível notar sua presença no brilho dos olhos daqueles que, ainda no berço, começam a descobrir o mundo. E quando a roda gigante do tempo transforma as asas dos anjinhos nos primeiros passos, é ela quem, nas manhãs de dias ensolarados, brinca no escorregador do parquinho e, à tarde, na escola, rabisca também as primeiras letras da palavra infância. Quando chega à noite e os olhinhos se fecham, olha ela lá, nos sonhos, a recordar que o futuro é um presente muito mais doce que o doce do doce da batata doce.
Os jovens por sua vez têm nela uma companheira inseparável. Quando acontece o sorriso mais lindo do primeiro encontro e a dúvida gera tamanha incerteza, é ela quem invade os corações ardentes a lembrar que o amor sempre vencerá o medo. E se tempo depois, o desencanto acontece, ela abre seus braços em um abraço imenso para dizer que na próxima esquina existe a certeza de um novo encontro. Quando então, a estrada profissional se torna grande encruzilhada e a insegurança assume a direção da vida, ela é bússola a indicar a oportunidade como um caminho longo e aberto para quem aposta suas fichas no trabalho, na dedicação e na persistência.
E quando a engrenagem dos músculos se enrijece impossibilitando o movimento dos passos, ela está ali na sabedoria dos deuses, a lembrar que a história continua sempre na eternidade das almas.
Não há assim quem não tenha um testemunho da sua imprescindível companhia, principalmente quando o NÃO se apresenta em maiúsculas. Lembra daquela enfermidade que extinguia as forças para seguir em frente? Foi ela quem soprou aos ouvidos o verbo “Enfrente!” e ao seu comando, células venceram o imponderável inimigo. E a perda do emprego que sustentava a família quando o senhor desespero veio bater à porta? Foi ela a mostrar a existência das janelas que, pacientes, aguardavam sua vez. 
Enfim, se os amigos se foram e a solidão fizer sua morada. Se a vida se tornou um muro intransponível e não existirem mais saídas. Quando sentir que aquilo tudo se transformou em nada, acalme o seu coração e silencie seu espírito.
Perceba que alguém vem chegando com seus cabelos soltos ao vento e olhos verdes e imensos de uma luz infinda. Ela veio acolher os seus sonhos desfeitos, montar novamente todas as peças do seu quebra-cabeça, juntar os cacos de seu vaso desfeito.
É ela uma das maiores expressões do criador e nem precisava de um nome. Mas talvez tenha sido para dizer que a vida é eterna mudança ou mesmo convidar para a próxima dança, que lhe emprestaram um nome: Esperança.

terça-feira, 24 de julho de 2012

O passado é masculino

Tenho conversado com amigos nos cafés da cidade nestes tempos de baixas temperaturas. O inverno sempre aproxima as pessoas, quer sejam aquelas que hibernam em suas residências ou as que se encontram nas ruas para tomar um expresso ou um chocolate quente. O frio para uns é momento de introspecção,  para outros de prospecção. E nada melhor para combinar com este quadro social que uma moldura adequada: Poços de Caldas. Uma cidade que convida ao encontro em seus parques e jardins, ou mesmo em suas ruas largas e afetuosas.  Um local multifacetado que nos lembra vários países do mundo, mesmo para pessoas que como eu visitaram poucos ao longo da vida. É impossível deixar de perceber que existe muito de europeu nos Pálaces Hotel e Casino, na Thermas ou mesmo no parque José Affonso Junqueira.  Dá para também sentir algo de americanizado no movimento frenético de compras nas ruas centrais ou mesmo a materialização disso na letra M em amarelo ouro do McDonald’s em pleno coração da cidade.
Mas voltando aos cafés, não sei se por hábito de jornalista, (ouvir o que as pessoas dizem) ou mesmo, coisa de gente que vive buscando coisas nas coisas que acontecem ao seu redor, o fato é que andei “colocando reparo”, em bom mineirês, nas conversas que me envolvi e também naquelas que se desenvolviam em outras mesas. Depois de vários dias e de muito ouvir os tempos verbais e os temas discutidos cheguei a um resultado revelador: o passado é masculino.
 As discussões dos homens, em sua maioria, têm um pé no passado, nas lembranças dos “bons tempos aqueles”. Existe muito de nostálgico, de saudosismo no que os homens dizem, quer seja relacionado à infância, ao futebol, à música ou às mulheres que tiveram, do que se pode constatar no diálogo feminino.  Os homens se apegam ao que já aconteceu e ficam revivendo detalhes de determinado fato acontecido décadas atrás. Encontram-se para se encontrarem com o passado.
As mulheres, por sua vez, estão sempre falando do presente (e de presentes também) e quando se lembram de algo que aconteceu no passado isto é comentado de maneira rápida e divertida. Os homens estão mais para o tango, o fado e o bolero. As mulheres para o twist, o iê-iê-iê e o rock. Os homens sentam nos bancos das praças, as mulheres, nos bancos do shopping. As mulheres falam de futuro, do que pretendem fazer, comprar e melhorar. Os homens, quando se reúnem, dialogam sobre o que faziam, como agiam e se sentiram em determinada ocasião. As mulheres celebram o hoje, os homens brindam o passado. As mulheres olham o pára-brisas, os homens, o retrovisor. O homem tem saudades, a mulher tem lembranças.
Talvez tudo isto tenha uma explicação: a mulher é a mãe do futuro, cabe a ela a geração de um novo ser. E por falar nisto, sabe a razão do Brasil ser o país do futuro? É que embora nasçam mais homens que mulheres no mundo, no Brasil temos cerca de 4 milhões de mulheres a mais que homens. 
Voltei dia destes a um café na área central e encontrei com um amigo. Perguntei a ele, se ele acreditava que nós homens éramos realmente mais saudosistas. “Acredito que não” - afirmou ele. E continuou: “As mulheres também sentem saudades do tempo que passou. Quando eu era criança, a minha mãe, já falecida...” E se pôs a contar detalhes da sua infância quando ele era feliz e não sabia.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Embalagem x Conteúdo


O sol e a lua, o dia e a noite, o claro e o escuro, a luz e a sombra.  A natureza nos ensina a dualidade das coisas e a beleza que existe pela integridade dos opostos.  A filosofia chinesa representa isto através do yin e yang- duas forças complementares que propõem o equilíbrio dinâmico de tudo o que existe. Assim o positivo não é bom ou mau, é apenas o complemento do negativo.  Filosofias à parte, o que isto teria a ver com a política?
 Se no Brasil, em tempos não tão remotos, a política se dividia entre a esquerda versus direita, a implantação do pluripartidarismo e as coligações colocaram um ponto final nestes conceitos e voltamos para outra forma de divisão, qual seja, situação versus oposição. Assim, a situação (quem está no exercício do poder) disputa o espaço político com a oposição (os que pretendem alcançar o poder).  Na disputa eleitoral, o que se propõe ao eleitor é a dualidade: a escolha entre a continuidade ou a mudança, em outras palavras, o que já existe e o que se propõe a ser novo. Todos estes rótulos (situação x oposição, continuidade x mudança, antigo x novo) pretendem a separação através dos rótulos e diluem o conteúdo, aquilo que realmente deveria interessar: a solução dos problemas da comunidade, notadamente daqueles que dependem mais das ações públicas. 
Se todos os partidos querem (é o que apregoam) o bem estar da população, a solução dos problemas, o desenvolvimento da cidade, qual a razão da divisão? Dirão que é a maneira de solucionar, a forma de gestão. Balela. Os programas de governo em sua maioria são montados tempos antes das eleições, muitos retirados da Internet e  se tornaram commodities, ou seja, comum a todas as cidades: educação, saúde, habitação, emprego...Depois faz-se um bem bolado e ajusta-se com alguma coisa específica da comunidade e pronto: saí um programa de governo fast food.
Por  outra análise, embora sejam instrumentos importantes para a construção democrática, os partidos políticos (embalagens) são tantos que a ideologia (conteúdo) se diluiu. Então, ser contra ou a favor não está baseado em nenhum conceito ideológico, forma de gestão ou existência de valores, dependendo apenas das contingências. O contra é aquele que hoje não está ocupando um cargo público eletivo. De novo, a solução dos problemas fica em segundo plano, já que o importante é o exercício e as benesses do poder.  
Em se falando de Poços de Caldas, alguns políticos locais se referem ao que denominam de PPC - “Partido de Poços de Caldas”, que filosoficamente seria a convivência em harmonia daqueles que embora com posicionamentos diferentes, tenham um objetivo comum: melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Seriam os prótons e elétrons unidos com o mesmo objetivo em seu resultado: a luz. Claro que ninguém é tão ingênuo de crer que isto seja factível, pois não chegamos ainda a este grau de evolução. Porém, como o sonho e a realidade também são complementares, por que não acreditar que isto possa acontecer um dia?
Enfim, independente de quem sejam os futuros escolhidos para as cadeiras do executivo e do legislativo em nosso município,  esperamos que estas funções possam ser ocupadas por aqueles que verdadeiramente busquem,  além dos rótulos, das amizades e das imposições partidárias,  a melhoria da vida dos cidadãos e a preservação deste nosso “santuário ecológico”.  Que além do barulho das propagandas políticas, cada eleitor possa escolher no silêncio da sua consciência, aqueles que possuírem o  melhor conteúdo e não somente a melhor embalagem.  Assim seja!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Por fora bela viola, por dentro...

Estava eu “pensando na morte da bezerra” quando abro o jornal e leio que o Complexo Santa Cruz -um dos prédios principais da administração municipal em Poços de Caldas- está “caindo aos pedaços”. Sem querer “dourar a pílula”, nem “tapar o sol com a peneira”, todos que freqüentam ou freqüentaram o local já sabiam disso. Agora não adianta “chorar sobre o leite derramado”, são “favas contadas” e a “Inês é morta”. Portanto, ao invés de “ficar chorando as pitangas” o jeito é encontrar uma solução, mesmo que emergencial, buscando preservar a segurança dos servidores e dos cidadãos que freqüentam o referido local.
Também não resolve ficar colocando a culpa em fulano ou sicrano já que o Complexo está complexado desde outros carnavais, até porque “águas passadas não movem moinhos”. Mas o fato veio alavancar a discussão recente sobre a importância da construção do Paço Municipal, que segundo “disse o nário”, é o espaço onde se concentra a sede de um governo e abriga também outros órgãos públicos. “Antes tarde do que nunca” já que muitos imóveis na cidade são alugados pela prefeitura e recursos públicos poderiam ser economizados se houvesse um só local para o funcionamento da máquina pública.  
Contudo, “devagar com o andor que o santo é de barro” pois, “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Sem querer entrar no “pomo da discórdia” e seguindo ainda o “cada macaco no seu galho” sobre o melhor local de construção do Paço- assunto para engenheiros e ambientalistas- quero abordar e atricotar o “outro lado da moeda”. Pergunto: de que adianta mudar a embalagem, se não se mexe no conteúdo?
Um dos graves problemas que passa a administração municipal em todo o país se refere à gestão pública. Como administrar uma empresa sem fins lucrativos (a não ser o “lucro social”) para que esta atenda às  necessidades da comunidade, minimizando os impactos e as interferências políticas? Ou seja, não adianta “enfeitar o pavão” com o Paço Municipal, se não se enfrentar as necessárias mudanças nos processos de gerenciamento dos órgãos públicos, pois no final das contas, quem “paga o pato” é a própria população.
Muitos empresários brasileiros já compreenderam que o mundo mudou e exige muito mais que apenas uma boa idéia e boa vontade. Administradores públicos mais conscientes também já percebem que não basta apenas fazer política, é preciso qualificação e capacitação. Poços de Caldas já não é mais aquela bucólica estância hidromineral de anos atrás e “pior cego é aquele que não quer enxergar”.
Muitas prefeituras no país estão locadas em espaços bonitos, com total infra-estrutura física, porém, no que se refere aos processos administrativos parecem “casa de mãe Joana”: ninguém se entende e isto acaba por atingir a qualidade dos serviços prestados.
A grande reforma que deveria ser feita – e se faz necessário “trocar o pneu do carro com ele andando”- é a que trata do gerenciamento da máquina pública. Planejar, organizar e dirigir uma prefeitura é tarefa que exige muita competência, eficiência e eficácia. Não estamos nos referindo à qualidade do servidor público, já que em todos os lugares, existem os bons e maus profissionais. Não estamos falando de pessoas, o problema está nos processos.
Temos a consciência que o futuro Paço em Poços é um passo necessário. Porém, antes que esta obra seja um “elefante branco” e para não “colocarmos o carro na frente dos bois” que tal, antes das obras de engenharia e arquitetura, refletirmos sobre como melhorar a gestão pública?
Se assim não for poderemos cair naquilo que nos ensina a sabedoria popular: por fora bela viola, por dentro, pão bolorento.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O joio e o trigo


Vivemos o período pré-eleitoral e em todo o Brasil passamos a ver, a ler e a ouvir partidos políticos e propagandas de governos manifestando “o que fizeram ou o que estão fazendo pelo povo”. A disputa eleitoral começa a ser mais acirrada e o marketing volta a ser comentado como instrumento importante para a vitória nas urnas.  Vem a pergunta antiga e sempre atual: o marketing pode determinar a vitória nas urnas?
Como profissional da área e, principalmente, estudante permanente no assunto vejo como necessário entender inicialmente que marketing vai muito além da propaganda, sendo ferramenta estratégica de ações diversas. Além disso, vale lembrar a diferença entre marketing político e marketing eleitoral. Em rápidas palavras, o marketing político prega a necessidade de trabalho efetivo junto à população com ações e estratégias de comunicação durante todos os anos de um governo, seja ele federal, estadual ou municipal. Já o marketing eleitoral é aquele realizado meses antes do pleito com um único objetivo: a disputa nas urnas. Sou favorável ao marketing político e também à campanha eleitoral que acontece dias antes das eleições para que o eleitor conheça os candidatos e suas propostas. Mas sou totalmente contrario ao marketing eleitoral principalmente o que se refere às eleições municipais. Justifico. Quem está no governo pode utilizar o espaço na mídia tanto partidário quanto da própria administração para divulgar obras e ações realizadas. Mas, quem é oposição logicamente aposta somente no espaço midiático de utilização partidária caracterizando um desequilíbrio de forças. Se a justiça eleitoral impedisse a divulgação política desde o primeiro dia do ano da realização de um pleito eleitoral poderíamos minimizar alguns excessos que já estamos assistindo, tais como, o uso indevido da máquina pública, a divulgação de obras que nem chegaram a ser realizadas (e nem sabemos se realmente serão), e, impediríamos os truques e recursos de computação gráfica e de audiovisual  que, embora encantem, nem sempre traduzem a realidade.
Já assistimos muitas campanhas eleitorais vencidas ou perdidas e que tiveram o marketing como fator decisivo. Porém, necessário tomar certas precauções no uso inescrupuloso deste “medicamento”, pois existem contra-indicações importantes a serem examinadas. Sem querer esgotar o assunto, citamos algumas:
- Não subestimar a capacidade de compreensão do eleitor;
Propagandas fantasiosas e muito distantes da realidade já não convencem mais o cidadão. Portanto, o ideal é pensar muito no conteúdo, pois apenas uma boa embalagem pode não convencer.
- Promessas demais prejudicam a credibilidade;
Foi se o tempo em que o candidato fazia as suas promessas e convencia o eleitorado. Hoje é preciso tomar cuidado com esta atitude. Usar de eufemismo como “compromissos de governo” também não convence.  Falar em propostas administrativas de maneira sincera e com embasamento técnico é melhor atitude.
- Baixar o nível do debate pode baixar também o nível dos votos;
Ser agressivo demais em uma campanha pode significar falta de controle emocional e desespero. Equilíbrio, serenidade e bom senso são características importantes e podem fazer diferença em uma eleição. Criticar não significa obrigatoriamente “descer a lenha” no adversário;
- Na TV, a fala convence mais que imagens computadorizadas.
Com o impedimento da realização de comícios, a TV é com certeza o palanque eletrônico do candidato.  Certamente existirão coligações com maior tempo na mídia, contudo, o mais importante é usar a criatividade nas mensagens e para isto a comunicação oral, se bem empregada, é recurso essencial. As pessoas querem ouvir o que os candidatos têm a dizer. Aqui vale lembrar que a sinceridade- embora não seja prática usual na política- pode fazer a grande diferença. Vale ainda proferir: quem usa “Deus” em suas palavras em uma campanha eleitoral certamente desconhece a Palavra.
Concluindo, o marketing pode ser um diferencial positivo no processo democrático. 
 Para muitos é apenas joio - uma arma para vencer a eleição a qualquer custo.  Para outros é trigo - excelente recurso de apresentação de propostas administrativas com embasamento e veracidade.  
Torçamos para que as urnas em todo o país possam realmente separar o joio do trigo.

sábado, 9 de junho de 2012

Quatro Estações

Não existem fórmulas, nem receitas prontas, inexistem manuais que explicam e professores no assunto. Não dá para ver o que deu certo com outros e aplicar no seu dia-a-dia. O modo de fazer a dois, exige temperos próprios, à moda da casa, e na maioria das vezes, envolve ainda muitas outras pessoas ao longo do preparo. O que dizer sobre o relacionamento a dois - tema tão plural que envolve inúmeras variáveis no singular? Abri o portão de casa e um vento frio recordou-me que o inverno se aproximava. Com ele, as mudanças de hábito: a necessidade do agasalho, o maior cuidado com a saúde, a alimentação diferenciada. A natureza se transformando exigindo novos comportamentos. Talvez seja isto. O relacionamento a dois exige da gente a capacidade de compreender as diversas fases que vivenciamos ao partilhar a nossa vida com a vida do outro. A rosa exala o perfume e simultaneamente nos oferece o espinho; o fluxo e refluxo das marés; o dia e a noite; as quatro estações do ano. É preciso viver o verão. O calor da paixão, a liberdade dos corpos, as sensações inconfessáveis e intransferíveis no que existe de mais orgânico em nós. As cores e a energia. A luz e o amanhecer. A sede a dois, o saciar a dois, a esperança nos raios da alvorada. O outono chegou. Momento de perceber as folhas e frutos da relação. Parar e pensar na colheita. Verificar o que foi bom e o que poderia ter sido melhor. Verificar os estoques da compreensão, do carinho, da partilha. O inverno se aproxima e é preciso se preparar. As folhas que caíram é o que possibilita o nascimento de outras que virão mais fortes e vivas. Veio o inverno. Com ele, o recolhimento, o aconchego. O frio faz tremer as relações, mas traz a oportunidade de união ainda mais intensa. O sofrimento, as dores, as brigas. Para muitos, o início da separação. Para outros, o botão que aparentemente se recolhe é preparo necessário para brotar as flores. É necessário aguardar pacientemente a chegada da primavera. Primavera voltou. Tempo do acasalamento, quem sabe, gerar uma nova vida? Uma viagem talvez? Comemorar a vida em sua plenitude. Irrigar a relação, se vestir para o encontro. Maravilhar-se, surpreender, criar. Foi muito bom plantar, esperar a passagem das intempéries, o momento é de colheita, na expectativa de novo recomeçar. Talvez seja isto. Quem vive a dois necessita saber que há o momento da entrega e o da espera, o do recolhimento e o do completar-se, o da ausência e da partilha. Se não for assim, perde-se o plantio, interrompe-se a semeadura, aborta-se a colheita. “Quem quer viver o amor, mas não quer suas marcas, qualquer cicatriz, a ilusão do amor, não é risco na areia, desenho de giz...Quem pode querer ser feliz se não for por amor?”(Desenho de Giz-João Bosco).

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Meu candidato a prefeito

Meu candidato a prefeito pertence ao partido da sinceridade. Não fala somente para agradar, não promete o que sabe ser impossível cumprir, diz sim quando tem certeza e o não olhando nos olhos das pessoas. Não usa a retórica como arma para a subserviência do outro, entendendo que o poder da comunicação não se concretiza na comunicação do poder. Meu candidato a prefeito não manda recados por terceiros, admite seus erros em público e compartilha acertos, porque compreende ser fruto de trabalho em grupo. Mais que compromissos partidários tem na responsabilidade com os gastos públicos sua ideologia. Por isto, é mais gestor que político, se reconhece mais como administrador que líder popular, pensa na prefeitura como empresa e não como palco para a sua ascensão. Meu candidato a prefeito não se deslumbra com as vitórias e sabe que a vaidade é seu principal adversário na vida pública. Não é refém de aplausos, nem é vítima de vaias. Não toma decisões no imediatismo, nem por pressões externas, refletindo muito ao utilizar os refletores da mídia. Não se apega ao poder, pois o reconhece como transitório, compreendendo que a função é muito mais importante que o cargo. Muda de opinião quando percebe ter se equivocado, porém, não abre mão dos seus valores e de sua coerência. Meu candidato a prefeito não se esconde no “eu não sabia”, “não tira o corpo fora” e nem “tampa o sol com a peneira”. Como operador da máquina pública, não atropela processos, orienta-se na direção da disciplina e da organização, combatendo a morosidade, sem esquecer da amorosidade no trato com o outro. Vê o servidor público como o principal patrimônio da prefeitura, motivando-o principalmente para a qualificação, capacitação e treinamento constantes. Assim é a sua atitude na escolha dos cargos de confiança, buscando os mais capazes e experientes na função, fugindo da pressão de partidos e dos interesses dos “amigos”. Analisa os atributos e não o nome e sobrenome das pessoas. Meu candidato a prefeito por saber-se imperfeito está sempre disposto a aprender. Por isto é um estudante curioso. Não é pessoa de gabinete, pois, sabe que é no bairro e nas ruas que está sua maior escola, e o povo, o seu grande professor. Meu candidato a prefeito não é super herói, nem salvador da pátria. Não tem compromissos comigo, nem é meu amigo e não quer busto na praça. Meu candidato a prefeito é apenas uma pessoa que compreendeu que a verdadeira corrupção vai muito além do dinheiro. Para ele, corromper-se é vender seus valores, iludir-se com o poder, envaidecer-se com o sorriso fulgaz da política. Meu candidato a prefeito talvez nem exista, seja pura fantasia ou mera utopia neste mundo real. Contudo coloco meu voto de confiança nas urnas do tempo e quem sabe em um futuro muito próximo, meu candidato a prefeito ocupará seu lugar.

domingo, 20 de maio de 2012

Mentira tem pernas longas

Você aí já mentiu? Se a sua resposta foi não, começou agora. É que ao longo da vida vamos contando “mentirinhas”, a maioria delas, inconseqüente. Mentimos para agradar o outro. Alguém nos pergunta se está bonita e atendemos ao “pedido” mentindo para não desagradá-la. Outra questiona se determinado prato que ela fez está gostoso e respondemos, literalmente, a contra gosto: “Está delicioso!” Poderíamos citar inúmeras situações onde pequenas inverdades resultaram apenas em conseqüências irrelevantes para nós e para os outros. Mas e quando um político mente? Quando um administrador público diz que irá fazer aquela obra tão esperada e conscientemente sabe que não será possível? Quando assume determinada posição nas conversas partidárias e momentos depois vai para a mídia e diz exatamente o contrário?Quando um político emite opinião em público e no seu íntimo pensa totalmente diferente? Quando finge se emocionar e nada sente? Quando dá tapinha nas costas de alguém querendo realmente de lhe dar um soco no queixo? Quando convida para um café sabendo que irá servir um chá de cadeira? Afinal, quando um político mente quais são as reais conseqüências para si e para os outros? Verdade seja dita: não existem conseqüências para as mentiras políticas. Há tempos percebemos que a política caminha ao lado da mentira e isto já faz parte de nosso cotidiano. Não nos indignamos mais. Estamos anestesiados, apáticos e impotentes. Políticos não mentem. Simplesmente, mudam de opinião. Ontem fulano detestava sicrano e propagava suas críticas aos quatro cantos. Hoje fulano está ao lado de sicrano e quando questionado afirma simplesmente. “Mudei de opinião. Nunca fomos inimigos, apenas adversários.” Pronto. Está tudo explicado. A retórica o envaidece e justifica suas atitudes. Ninguém poderá discordar. A vida caminha célere e a mentira tem pernas longas. Políticos não mentem. Apenas não dizem a verdade. A omissão é apenas o cuidado de não dizer o que não precisa ser dito. Quem deseja saber a verdade? A mentira é uma maneira de alimentar a esperança. Pergunta o cidadão: Quando o senhor irá atender àquela reivindicação? Resposta do político: “Estamos estudando e acreditamos que, em breve, estaremos dando andamento ao solicitado”. Pronto. Fato consumado. A alegria é mútua. O político sorri e o cidadão também. Não importa o quando. A vida caminha apressadamente e a mentira tem pernas longas. Muitos questionam como um político consegue dizer inverdades com tanta sinceridade. É que “mentiras sinceras nos interessam”. No fundo somos coadjuvantes e a farsa é um ato coletivo: políticos fingindo falar a verdade e cidadãos fingindo acreditar. Fazemos parte da mesma peça teatral e a diferença está na capacidade de atuação. Quando o cidadão comum mente, é ele mesmo, sem disfarces, sem maquiagem, sem fantasia, e o travesseiro posteriormente o acusará. O cidadão comum não sabe vestir a personagem. De verdade, o que lhe falta é talento. Já o político mente porque acredita na sua própria mentira e finge tão completamente que acredita ser real o que criou em sua mente. Para o político a mentira é apenas um meio, cujos fins, particulares ou não, justificam-na plenamente. Minto, logo, existo. Resta-nos finalmente a profecia dos mais otimistas: a verdade virá após a apuração dos votos na urna eleitoral. A democracia nos libertará. Fica a pergunta: é a urna eleitoral o tribunal que sinaliza onde está a verdade, ou é apenas mais uma de nossas inconfessáveis mentiras?

domingo, 13 de maio de 2012

Precisa-se de SERES HUMANOS

Organizações públicas e privadas de pequeno, médio e grande porte estão necessitando com urgência de seres humanos para ocuparem cargos de liderança nos mais diversos setores. Como exigência prioritária para a contratação, os interessados devem ter a consciência de que possuem características iguais e inerentes a seres da mesma espécie como sangue vermelho, cabeça, tronco, membros e órgãos internos. Além disso, terem VISÃO para enxergar o outro e não somente a si mesmo. AUDIÇÃO para ouvir e não apenas escutar. TATO no cuidado com o outro. PALADAR para saborear conquistas, mas valorizar também as derrotas. OLFATO para saber da existência conjunta do odor das máquinas e do perfume das flores. É aconselhável possuir experiência anterior de longa duração como empregado no “chão de fábrica” e ter noções do Poder da Comunicação, ao invés da comunicação do poder. Desejável ter realizado ao longo do curso da vida, diversos treinamentos de convivência com mães, pais e filhos e freqüentado treinamentos vivenciais como o “Curso de Escutatória” ministrado pelo professor Rubem Alves. Os candidatos aprovados passarão por palestras de capacitação sobre conhecimentos técnicos específicos, através de robôs especialmente treinados para esta função. Os interessados deverão comparecer a todas as organizações que em seus balanços tenham como fatores de desenvolvimento, não apenas a produtividade mensurada por dados numéricos, mas a sensibilidade das palavras, mensurada na felicidade das pessoas. Vagas ilimitadas. Início Imediato.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Brincando de Estátua

Se pudesse brincaria de estátua com o tempo e congelaria alguns momentos para que permanecessem eternos. O sono interminável na cama simples de lençóis brancos da casa bordada de azulejos, de alpendres amigos, de janelas de madeira azuis e trincos abertos e, o silêncio da noite interrompido apenas pelos grilos falantes e a melodia dos pingos de chuva nas telhas de barro. O primeiro olhar no grupo escolar para a menina de saia azul rodada, de olhos pretos, de “Maria Chiquinha” nos cabelos loiros, minha primeira e insubstituível esperança de um virar dois. O futebol nos campinhos de terra com a bola de capotão e nas tardes de chuva, as roupas, canelas, braços, pernas, faces, olhos e cabelos, limpos pela lama da infância. As conversas inconseqüentes nas calçadas- quando a cidade ainda era um bairro só- sem a pauta da TV, da amizade sentada em cadeiras de pau e como testemunhas, a praça da matriz, o pipoqueiro e as ruas largas de pedras irmãs. O grito do carteiro comunicando a chegada daquela carta- quando o tempo ainda demorava a chegar- com o envelope cheirando goma arábica e a letra manuscrita de quem escrevia seu nome na minha história. O abraço imenso e apertado de minha mãe quando na adolescência parti em busca dos meus sonhos. E o retorno tão aguardado das férias, do ônibus parando na esquina e aquele sorriso que nunca partiu a me acolher novamente. Os almoços intermináveis de família -quando a comida ainda não era o prato principal-temperados com muita prosa e o sabor dos risos das pessoas que se sabiam eternamente próximas. Se pudesse brincaria de estátua com o tempo.Mas ele,o tempo, se mexe a todo o instante.Pena.O tempo não sabe brincar.