domingo, 20 de maio de 2012

Mentira tem pernas longas

Você aí já mentiu? Se a sua resposta foi não, começou agora. É que ao longo da vida vamos contando “mentirinhas”, a maioria delas, inconseqüente. Mentimos para agradar o outro. Alguém nos pergunta se está bonita e atendemos ao “pedido” mentindo para não desagradá-la. Outra questiona se determinado prato que ela fez está gostoso e respondemos, literalmente, a contra gosto: “Está delicioso!” Poderíamos citar inúmeras situações onde pequenas inverdades resultaram apenas em conseqüências irrelevantes para nós e para os outros. Mas e quando um político mente? Quando um administrador público diz que irá fazer aquela obra tão esperada e conscientemente sabe que não será possível? Quando assume determinada posição nas conversas partidárias e momentos depois vai para a mídia e diz exatamente o contrário?Quando um político emite opinião em público e no seu íntimo pensa totalmente diferente? Quando finge se emocionar e nada sente? Quando dá tapinha nas costas de alguém querendo realmente de lhe dar um soco no queixo? Quando convida para um café sabendo que irá servir um chá de cadeira? Afinal, quando um político mente quais são as reais conseqüências para si e para os outros? Verdade seja dita: não existem conseqüências para as mentiras políticas. Há tempos percebemos que a política caminha ao lado da mentira e isto já faz parte de nosso cotidiano. Não nos indignamos mais. Estamos anestesiados, apáticos e impotentes. Políticos não mentem. Simplesmente, mudam de opinião. Ontem fulano detestava sicrano e propagava suas críticas aos quatro cantos. Hoje fulano está ao lado de sicrano e quando questionado afirma simplesmente. “Mudei de opinião. Nunca fomos inimigos, apenas adversários.” Pronto. Está tudo explicado. A retórica o envaidece e justifica suas atitudes. Ninguém poderá discordar. A vida caminha célere e a mentira tem pernas longas. Políticos não mentem. Apenas não dizem a verdade. A omissão é apenas o cuidado de não dizer o que não precisa ser dito. Quem deseja saber a verdade? A mentira é uma maneira de alimentar a esperança. Pergunta o cidadão: Quando o senhor irá atender àquela reivindicação? Resposta do político: “Estamos estudando e acreditamos que, em breve, estaremos dando andamento ao solicitado”. Pronto. Fato consumado. A alegria é mútua. O político sorri e o cidadão também. Não importa o quando. A vida caminha apressadamente e a mentira tem pernas longas. Muitos questionam como um político consegue dizer inverdades com tanta sinceridade. É que “mentiras sinceras nos interessam”. No fundo somos coadjuvantes e a farsa é um ato coletivo: políticos fingindo falar a verdade e cidadãos fingindo acreditar. Fazemos parte da mesma peça teatral e a diferença está na capacidade de atuação. Quando o cidadão comum mente, é ele mesmo, sem disfarces, sem maquiagem, sem fantasia, e o travesseiro posteriormente o acusará. O cidadão comum não sabe vestir a personagem. De verdade, o que lhe falta é talento. Já o político mente porque acredita na sua própria mentira e finge tão completamente que acredita ser real o que criou em sua mente. Para o político a mentira é apenas um meio, cujos fins, particulares ou não, justificam-na plenamente. Minto, logo, existo. Resta-nos finalmente a profecia dos mais otimistas: a verdade virá após a apuração dos votos na urna eleitoral. A democracia nos libertará. Fica a pergunta: é a urna eleitoral o tribunal que sinaliza onde está a verdade, ou é apenas mais uma de nossas inconfessáveis mentiras?