segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Eucologia


    Tento levar para minha vida conceitos de sustentabilidade. Faço um esforço (e nem sempre consigo) para não comprometer o futuro de todos os seres que vivem no mesmo “planeta” que o meu. Busco não poluir o outro com minhas descrenças, reduzir a emissão dos gases tóxicos da intolerância e da discórdia e filtrar o que é prioritário e o que é descartável. Luto para me reciclar diariamente e me empenho para ser biodegradável. Espero assim, um dia, ao me tornar um fóssil, ainda possibilitar à terra o nascer da flor.

sábado, 26 de agosto de 2017

José, para onde?






 Ouvimos milhões de vozes gritando nas redes sociais e um profundo e interminável silêncio nas casas.

Vemos as luzes dos celulares nas mãos, olhos fixos nas telas e poucos abraços e conversas nas ruas.

Toques de dedos rápidos nas relações com as teclas e enorme ausência de tato nas relações pessoais.

Muitos se mostrando corajosos em selfies e se escondendo no irrevelável medo nos quartos.

Somos peixes Beta neste imenso aquário denominado Terra.

O nosso endereço é virtual e nesta imensa “família” ganhamos o mesmo sobrenome: arrouba (@).

Temos milhares de amigos no facebook, contudo, verdadeiramente, o cão é nosso único amigo e a coleira agora está no pescoço do homem.

Estamos passivos em inúmeros aplicativos. Mais livres para nos expressar e presos na escravidão da última mensagem que chega pelo WhatsApp.

As “carinhas” nas infovias substituem nossas emoções e palavras, enquanto robóticos apressados nos matamos nas rodovias. 

Na era da pós-verdade acumulamos nossas pré-mentiras.

Nossos vizinhos residem nos portais e fechamos nossas portas para quem mora ao nosso lado. 

Vociferamos na web nossa indignação contra a corrução, com palavras e frases que corrompem valores de educação, ética, respeito e dignidade.

Comemoramos nossa liberdade sexual em correntes de vídeos pornográficos. Falamos muito sobre sexo e pouco sobre sexualidade. Discutimos gênero e desconhecemos o humano.

Contratamos arquitetos de fachadas, carecendo de engenheiros de interiores.

Sozinhos no escuro com celulares nas mãos, qual bichos-do-mato nesta selva de pedra, sem teogonia, sem baleia azul para nos levar a ilha da poesia, nós navegamos, José!

José, para onde?

 

 

 




 
 
 
 
 

terça-feira, 22 de agosto de 2017

“Cagando, andando e sendo aplaudido”




Não. Este texto não é sobre crise financeira, nem sobre corrupção, nem sobre política, muito menos criminalidade. Sei. Você já não aguenta mais tais assuntos. Nem eu. Contudo ou semtudo, se você chegar até o final (duvido muito) saberá de qual tema estamos falando. 
Mas, chega de prolegómenos e vamos ao inicialmente, se é que você chegou até aqui. 
Caetano Veloso já questionava em uma canção na década de 1970: “quem lê tanta notícia”? (“Alegria, alegria”). Hoje, a pergunta é mais ampla: quem lê, quem ouve, quem vê tanta notícia?
A comunicação, paradoxalmente, se “estrumbicou”, contestando o saudoso mestre Chacrinha. Assim como na fotografia quando o excesso de luz queima o filme, o excesso de informação está “queimando” a recepção por parte de leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. 
A saturação começa já ao amanhecer, via whats app, quando dezenas ou centenas de pessoas desejam virtualmente “bom dia”, fortalecido ou enfraquecido por florzinhas, coraçõeszinhos, mensagens e emoticons dos mais diversos. Na sequência, dezenas de vídeos e piadinhas de gosto duvidoso congestionam o tráfico de todos os celulares, inclusive o seu. As 9 da manhã, você já está “entupido” de informação ou deformação, assim como eu.
Ligamos a televisão ou o rádio e as notícias, invariavelmente, abordam os mesmos temas: atentados, corrupção, criminalidade. Perguntamos ao universo: Que mundo vivemos? Acessamos os portais de notícias e somos verdadeiramente “bombardeados” pelas mesmas informações. Já não existe o chamado “furo” de reportagem e sim “reportagens furadas”. 
Já não aguentamos mais “nossa vida cotidiana” e reclamamos do cachorro que late, da porta que bate, dos preços da gasolina, da água, da luz, do condomínio, do IPTU, do tomate e do abacate. Ah...do IPVA e DPVAT. Tudo nos abate!
Pegamos o jornal impresso (com menos tiragem e por vezes, mentiragens) e vemos impressa as mesmas notícias que vimos? lemos? ouvimos? no facebook, nos portais, no rádio e TV. 
Alguém aí pode resumir o que está ocorrendo no mundo? 
Somos leitores, ouvintes e telespectadores de manchetes, das “chamadinhas” e rodapés. Sabemos (?) somente o título dos fatos e muito pouco do conteúdo. Conhecemos um pouquinho de tudo e tudinho de nada. Vivemos na superfície e na superficialidade. Sim, desejamos ser úteis, mas nos sentimos fúteis. 
Queremos saber rapidamente tudo o que está acontecendo rapidamente para comentar rapidamente com alguém que rapidamente nos encontra nas ruas, no trabalho e principalmente, virtualmente. 
Pensando nisto tudo, acordo pra vida e me deparo nas ruas com um ex-aluno. Na pressa da conversa, ele confessa que nunca mais esqueceu uma frase que pronunciei em classe. Escuto com atenção na curiosidade pedagógica de quem ainda acredita na educação. Ele me diz: “Professor, uma vez em uma aula sua, o senhor disse uma frase que nunca mais esqueci, que foi “estou como cavalo em parada de sete de setembro: cagando, andando e sendo aplaudido”. 
Sinal ou final dos tempos?