sábado, 24 de novembro de 2012

Antes que o mundo acabe


Confesso: sempre tive dificuldade em me envolver com assuntos metafísicos, espirituais, místicos, sobrenaturais ou qualquer outro nome que se dê para aquilo que não é “material”. Como São Tomé sempre acreditei em algo ou em alguém, depois de ver, filmar, fotografar, documentar e, nos dias atuais, postar no Facebook.
Algumas vezes fiz até cursos rápidos buscando o alinhamento com os planetas. Minha dificuldade nestes cursos começava quando era solicitado a ficar na posição de lótus (que eu sempre ligava com a equipe do Emerson Fittipaldi na Fórmula Um). Ou mesmo “entrar em alfa”, que eu sempre me imaginava entrando em um automóvel Alfa Romeo de ultima geração. Além disso,  era um sacrifício hercúleo ficar sentado sem apoio nas costas e, ao mesmo tempo, tentando cruzar uma perna sobre a outra. Ficava ainda mais nervoso ao escutar em background uma música calma e alguém com voz doce e melodiosa dizendo: “feche os olhos... desligue agora toda a sua mente...imagine-se em uma praia e as gaivotas batendo as asas suaaaaaavemente sobre o mar azul...”  Tais palavras tinham o poder abstrato de me devolver ao mundo concreto  e com um olho aberto e outro fechado, ficava segurando a minha vontade de rir para não atrapalhar o “vamos a La praia” dos meus colegas. Diacho!  Por que todos estavam felizes e sorridentes na praia com as gaivotas e eu ali, entre quatro paredes, de calça comprida e sapato, indo enfrentar apresssssadamente mais um dia de trabalho convivendo com os “urubus” do mercado capitalista?
Fiz toda esta introdução do meu histórico ateu para dizer que ando a toa e preocupado com o final do mundo, que, segundo dizem, acontecerá em dia 21-12-2012. Embora não acredite nesta possibilidade, vai que...
Com este pensamento, comecei a imaginar o que fazer com o “the end of the world” e como aproveitar o restinho que me resta. Escrevi em uma folha a primeira atitude, um acerto de contas com o passado: ir para a praia e encontrar as gaivotas que suaaaavemente batem suas asas sobre o mar azul.A segunda atitude seria comprar uma fantasia de anjo, pensando, claro em confundir os guardas celestes e evitar ir para um lugar infernal.  Depois disso, mais concentrado, escrevi outra atitude: ficar mais próximo das pessoas que realmente amo. Curtir cada minuto ao lado delas e dizer da importância que sempre tiveram em minha vida. Dividir o meu tempo com outras pessoas: visitar um asilo para sugar a experiência, que por vezes subestimei, daqueles que ultrapassaram os 60,70, 80 anos.  De outra ponta, ir a um orfanato para, no contato com as crianças, tentar ressuscitar em mim, o doce sabor da infância. Em legras garrafais, sublinhei “RETOMAR O ROMANTISMO” escrevendo poesias sobre o amor e os sonhos, o dia e a noite, “o sabor das massas e das maçãs”. Ler mais Guilherme de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina. Colher flores e entrega-las ao carteiro, à menina da padaria, ao zelador do meu prédio.  Cantar debaixo do chuveiro aquelas músicas que fizeram parte da minha história. Buscar a reconciliação com alguém que me causou ou que causei alguma mágoa. Ir para o alto da montanha, fazer uma fogueira, e, ao seu redor, reunir os amigos e, assim, juntos, de mãos dadas, em um grande círculo, elevar ao céu uma oração, celebrando e agradecendo a beleza da lua.
Ao finalizar refleti que o mundo acaba todos os dias pelas ações que não realizamos, pelas pessoas que não valorizamos e os sonhos que adiamos. O nosso mundo se desalinha cada vez mais por acreditarmos mais nos números revelados em nossos cartões de crédito que nas revelações existentes no incontável número das estrelas do universo.
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muita vez desperto. E abro as janelas, pálido de espanto