domingo, 24 de fevereiro de 2019

Tempos Modernos


Vejo um casal de idosos na rua. 

Mãos dadas, passos lentos.

Fico pensando em tudo o que já passaram: momentos alegres, desafios, vitórias, angustias, incertezas.

 Na curiosidade em descobrir as razões para um relacionamento durar tanto tempo, resolvo perguntar:

- Quantos anos vocês têm de casados? 

- Sessenta e oito anos (responde o senhorzinho) 

- Que maravilha! E como vocês fizeram para chegar juntos até aqui? 

- Viemos de Uber (responde a senhorinha)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Coletivamente egoístas

Vejo o declínio de tudo o que é coletivo no país. Associações, clubes de serviços, academias de letras, até o transporte dito coletivo.Existem, claro, muitas razões para isto.
O “eu” foi sendo cada vez mais valorizado em detrimento do “nós” e uma das grandes doenças, consequência e causa de nosso egoísmo, é a corrupção que invadiu a maioria de nossas instituições públicas e privadas.
Distribuímos moedas nos faróis e nas ruas, culpamos os governos de todas as nossas mazelas, mas, verdadeiramente, estamos pouco dispostos a abrir mão de nossos “direitos individuais”.
Nos afogamos nos conceitos necessários de amor próprio (ninguém dá o que não possui) e olvidamos de que amar também é se lembrar do outro.
Estamos sem bússola, perdidos na luta pela sobrevivência individual que nos retira o senso do coletivo.
O barulho ensurdecedor dos escapamentos das motos, o volume cada vez mais alto dos sons dos carros, o lixo jogado nas ruas, sinalizam a falência do que antes era chamado de comunidade.
Sim, existem exceções. Muitos ainda doam sangue, colaboram com entidades assistenciais, emprestam um pouco do seu tempo ao outro, na consciência inequívoca de que auxiliam a si mesmos. Mas, até estes, infelizmente, se encontram cansados pela burocracia das leis, pela inércia de muitos e pela apatia dos que já se declararam derrotados.
O Sistema é bruto. Ao mesmo tempo em que alimenta as nossas necessidades, nos retira o emprego e a energia, e nos obriga a lutar pelo pão meu de cada dia, já que o "nosso" se tornou plural majestático.
Até a lama que recentemente encobriu pela segunda vez, o Estado de Minas Gerais, tem na sua fonte o egoísmo e a ganância, e na sua foz, a morte de centenas de pessoas e o comprometimento vital da flora e da fauna.
A barragem dos valores que sustentava o coletivo foi por água abaixo. Estamos coletivamente solitários, coletivamente egoístas e individualmente infelizes.