sábado, 27 de fevereiro de 2016

Quanto de nós?

 
 
Quantos de nós, pela sede das nossas carências, não aceitamos, por vezes, as poucas gotas do sentimento alheio?
E por ser tão pouca a água que nos umedece a boca, sentimos a nossa sede aumentar ainda mais.
Quantos de nós, na fome das nossas ausências, acolhemos, por vezes, as migalhas das presenças de outros?
E por ser tão pouco o alimento que nos chega à boca, percebemos nossa fome se tornar ainda maior.
Quantos de nós, não vivemos as horas, mendigando olhares, gestos e frases que nos possa validar a existência?
Quantos de nós, não morremos todos os dias, pela debilidade dos nossos relacionamentos, pela fraqueza dos nossos gestos, pela inanição do toque e do carinho?
Quanto de nós, verdadeiramente, não morre todos os dias, subnutrido de amor?
Quantos e quanto de nós?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Em um relacionamento divertido


Por favor não me levem tão a sério e me desculpem todos os meus amigos sérios que possuem relacionamentos sérios com pessoas sérias, mas quando vejo no facebook a mensagem “em um relacionamento sério” fico pensando em todos os possíveis motivos para se publicar tal mensagem.  

Vou citar alguns, mas fica o espaço aberto para outras razões que possivelmente não tenha identificado e que, possam ser, talvez, mais verossímeis que as citadas.


1 - “Eu não quero que ninguém se aproxime com segundas, terceiras ou quartas intenções, mesmo se forem sérias, porque, afinal, estou em um relacionamento sério. Então, não vem que não tem”.

2- “Quero manifestar ao meu parceiro ou parceira que estou realmente comprometido com ela ou ele e isto poderá proporcionar mais segurança à nossa relação. O que sinto por você é sério viu, afinal, como dizia o Roupa Nova em um música velha: “eu te amo e vou gritar para todo mundo ouvir...”

3- “Quero compartilhar com meus amigos minha grande felicidade.  Finalmente encontrei alguém, minha cara metade, minha tampa da panela, minha alma gêmea. Como diz Fábio Jr que teve a felicidade de encontrar (por enquanto) suas 7 metades. “Duas forças que se atraem sonho lindo de viver”. Agora eu sei que, really, the love is beautiful”.

4- “Eu publiquei e não é da sua conta e nem de ninguém tá! A página é minha e posto o que quero. Você não tem nada a ver com isto. Como você não tem um relacionamento sério é um perdido, um tiozão, fica tentando tirar uma de quem está in love.  Ah, vá procurar sua turma, tira o pé da minha marmita, vá ver se estou lá na esquina em um relacionamento sério.”

OK, tá bom, vocês venceram! Batata frita!

Mas, realmente, mas realmente, eu também gostaria de encontrar alguém que eu tivesse muitos motivos para postar a seguinte frase:

“Em um relacionamento divertido.”

É sério!

 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Carimbem meu passaporte



Sempre acreditei que, apesar das nossas dificuldades, todo brasileiro deveria ficar no país. Lutar com o máximo de suas forças para construir aqui sua vida, realizar seus sonhos, sem tanta dependência das instituições governamentais em suas diversas esferas (municipal, estadual e federal) para concretizar seus objetivos.

Tinha a convicção que o país do “jeitinho” tinha jeito. Bastava plantar neste solo, as sementes da educação, trabalho, dedicação, persistência, respeito e honestidade e os bons frutos viriam com o tempo. Insistia com amigos que todo aquele que deixava o país seria um andarilho errante, sem lastro, sem laços, sem porto, sem chão.

Estava enganado.

O Brasil tem se mostrado há anos e durante o ano inteiro, o país do carnaval. As máscaras usadas pelos nossos políticos já não escondem (e nem precisam) as falcatruas que a todo momento revelam nossa podridão. Aqui a ignorância, a desonestidade, a dissimulação e a arrogância perderam a modéstia, zombam da nossa inteligência e desfilam na passarela das nossas misérias sociais.

A nossa dor civil foi anestesiada. Vivemos anos de fantasias que chegam agora como uma permanente quarta-feira de cinzas.

Somos mestres-salas da corrupção e a nossa bateria de escândalos é nota 10 em uma nação alegórica, amorfa e acéfala. Convivemos com mitos lunáticos, alucinados e “lulaticos”, dilmas falantes, eduardos e cunhas e na comissão de frente, os centenas de Bonecos Gigantes de Brasília.

A saúde na UTI, o trabalho na fila do desemprego, a educação reprovada e o povo esquecido na arquibancada, manobrado por um enredo servil e apócrifo.

Somos um país livre com uma população refém de operadoras de telefonia, de bancos privados e estatais, de estradas sem asfalto, de portos sem navios, de diretores sem direção. 

O petróleo é nosso, o álcool é nosso e as dividas também. 

Estamos parados no recuo, sem harmonia, descompassados e sem evolução. Somos porta-bandeira do futuro, mas o nosso passado de capitanias hereditárias se faz presente na avenida do tempo.

Estamos zicados e o mosquito transmissor da incompetência, da desonestidade, do desrespeito, pica todas as nossas instituições públicas e privadas.

Assim refletindo, me assusto com as janelas da minha casa trepidando na passagem de um carro de propriedade de um indivíduo sem ouvidos, ao som heroico-brado-retumbante de Wesley Safadão, “Me ame ou me deixe”.

É muita safadeza, Brasil

Cansei de amar sozinho.

Carimbem meu passaporte!