sábado, 11 de dezembro de 2010

Com ou sem emoção?

Recentemente fiquei sabendo que pertenço à geração “baby boomer” e pensei: como sobrevivi até os dias atuais sem saber disso?
Coisa de americano que busca colocar todas as coisas como produtos em gôndolas de supermercado. O baby boomers (me lembra nome de fralda) é a geração de pessoas que nasceram de uma “explosão populacional” nos Estados Unidos, entre os anos de 1946 e 1964 e que estão hoje próximas aos 60 anos de idade (“os sexo-genários”). Entre características e diferenças, uma identifica os boomers: foi a primeira geração que cresceu em frente à televisão. (“É que a televisão me deixou burro, muito burro demais”-Televisão-Titãs). Sem dúvida, isto mudou tudo. A imagem aliada ao som veio possibilitar o acesso a um mundo novo que chegou através das séries de TV: Bonanza, Jeannie é um gênio, Jornada nas Estrelas, Os Invasores, O Vigilante Rodoviário (nacional), entre tantos outros filmes e programas. (“Quando nascemos fomos programados pra receber o que vocês, nos empurram com os enlatados, dos U.S.A., de nove as seis”-Geração Coca-Cola- Renato Russo). Som e imagem enfim se encontravam (mesmo que em Black and White) em uma tecnologia que acessava novas emoções. Uma delas é que passamos a ter uma classe diferente de amigos, “os televizinhos”- pessoas que iam até a casa do vizinho para assistir a TV. Era uma festa regada a pipoca e a Crush (que não era uma série de TV, mas um refrigerante). Momentos de convivência e de aprofundamento nas relações, já que depois ficávamos horas a discutir o que vimos na telinha.
Hoje, nós boomers, partilhamos a existência com outras gerações: a X (a dos filhos dos boomers-nascidos entre os anos 1960 e 1980), a Y (nascidos entre os anos 1980 e 2000) e a Z (após o ano 2000). Todos convivendo nesta sopa de letrinhas do mundo atual. E tal como a televisão nos anos 1960, um ponto nos une (ou nos separa?): a tecnologia (o computador, a Internet, o iPod...), que mais que o som e a imagem, nos permite, entre outras coisas, o acesso à mobilidade e à virtualização. Isto também mudou tudo. Dias atrás, por exemplo, me espantei ao ver um jovem Z comentando que a conversa via telefone era muito pessoal. Fiquei de cara! O virtual, por vezes, parece um hacker a enviar uma espécie de vírus amedrontando as pessoas para um relacionamento real.
E a pergunta que, principalmente nós, “os tiozaõs”, fazemos diariamente é: a tecnologia está melhorando a nossa vida? Entre tantos questionamentos em um assunto tão complexo, me veio à lembrança os passeios de buggy ou de jipe realizados principalmente nas praias do litoral de Natal no Rio Grande do Norte, onde o condutor pergunta aos turistas que pretendem realizar o passeio: “Com ou sem emoção?”.
Talvez seja isto. A vida é esta viagem que nos oferece muitos instrumentos e a “emoção” é fruto das nossas escolhas. Particularmente, acredito que receber um cartão com o selo dos Correios enviado por uma pessoa amiga desejando Boas Festas, transmite mais emoção que receber um “e-mail” com a mesma mensagem em um “Undisclosed-Recipient”. Mas, paralelamente, não questiono a emoção de mães, ao verem pela Internet, a imagem e a voz em tempo real dos filhos que se encontram a quilômetros de distância. Ainda penso que o chat (a conversa virtual) não substitui a emoção do olho no olho, de um abraço coração a coração, da presença física das pessoas que queremos bem. Mas, será que internautas X,Y,Z não sentem também a mesma emoção em receber pela web aquelas carinhas com símbolos usados na Internet para expressar felicidade, tristeza e outros sentimentos, os chamados Emoticons?
Em um assunto que não se esgota, talvez caiba a cada um, independente da geração que pertença, aplicar o seu próprio antivírus, nas escolhas individuais e intransferíveis do cotidiano. Neste universo cibernético, onde a rapidez nos atropela, a vida é o buggie, o ambiente são as dunas, e a pergunta é a mesma: Com ou sem emoção?