sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Revolução dos Livros

E começou assim, como se não tivesse começado, aos poucos, em um movimento silencioso, eles foram ocupando todos os espaços, todas as mentes, todas as casas.
E foram mudando comportamentos, transformando idéias, seduzindo crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
Na verdade, embora tivessem sempre algo a dizer, muitas vezes ficaram esquecidos, encostados, sujeitos a erosão do tempo, jogados literalmente às traças, como se costumou falar. Amarelados, enfraquecidos, corroídos, pareciam estar mortos e sujeitos às suas próprias limitações.
Porém, o que ninguém sabia, é que mais do que serem vistos e tocados, eram eles que observavam os gestos, liam a vida, espelhavam os homens. Estiveram sempre ali, a espreita, na espera do momento certo, para então, ao serem retirados de sua aparente passividade, demonstrarem a sua real força como instrumentos permanentes de transformação.
Muitos sabiam do poder que eles tinham, mas, a grande maioria olhava-os de longe, e por razões que não cabe aqui declinar, pouco se atreviam a um contato mais íntimo. Quando isso acontecia, parecia que um novo mundo seria então descoberto.
No entanto, a porta logo se fechava, o mundo se tornava o mesmo, na mesquinhez das coisas, na impotência do não ter, na indignidade dos atos de outros seres.
Mas voltando a nossa história, eles foram se juntando,dia após dia, foram se somando, se multiplicando, se dividindo.
E como um grande exército mundial, vindos de todos os cantos da Terra, eles pularam das estantes, fugiram das bibliotecas, das cabeceiras e criados-mudos, e invadiram, finalmente, a cabeça e o coração de todos os homens da terra.
O era uma vez se fez de vez em um final feliz na grande e definitiva
Revolução dos Livros.

XEROQUIZIS AMBULANTIS

Com o tempo, os nomes foram mudando, ou será que com os nomes, os tempos é que foram mudando? Éramos fregueses do armazém e o nosso nome, muitas vezes, com uma referência familiar era anotado em uma caderneta, juntamente com os gastos diários, que saldávamos no fim do mês. As compras eram somadas em folhas de papel de embrulho, e a caneta (Bic) ficava atrás da orelha do atendente, que geralmente era o próprio dono do armazém (o “seu Toninho”- que também tinha nome). Este costumeiramente cumprimentava a gente, inclusive, perguntando por toda a nossa família.

- Como vai a sua mãe? E o seu pai, melhorou da gripe?

Os produtos,na época chamados de mercadorias, eram colocados no chão mesmo, ou em cima do balcão e tudo parecia uma bagunça só, mas, que nos passava uma sensação de proximidade, de aconchego mesmo. Os sacos de estopa abertos mostravam as mercadorias (feijão, arroz, açúcar cristal, macarrão) e havia um cheiro no ar que nos atraia e que a nossa memória olfativa nunca conseguiu definir e nem sentir igual.

Passou porém o tempo, deixamos de ser fregueses e viramos clientes. Quem nos atende já não é mais o seu Toninho, (alias, onde andaria o seu Toninho?) mas sim o crachá de um funcionário, cujo nome não me lembro. E a gente sem crachá e sem nome, sem mãe, nem pai, viramos mais um número no computador. O armazém virou supermercado, o balcão de madeira virou gôndola e as mercadorias viraram produtos com marcas. A caneta virou calculadora, a caderneta virou checkout e a gente se vira para achar os produtos e o cartão de crédito que tem o nosso nome em letra miúda e uma senha que a gente vive esquecendo. E ainda dizem que nós somos o “rei” e tudo ali existe para satisfazer nossos desejos e necessidades. Nos perdemos em meio a tantos produtos, centenas de marcas, embalagens e rótulos, promoções e carrinhos que nos atropelam. O consumo vive a nos consumir. Estamos no BIG, no HIPER, no corredor do “WALL MORTE”. O nosso carrinho se enche, o nosso bolso se esvazia e a gente se enche de alegria, afinal, é um lugar de gente feliz.
Compramos o que todos compram, com dinheiros iguais, pensamos iguais, somos iguais perante a lei da oferta e da procura. Não produzimos, consumimos. Não criamos, copiamos.
Somos downloads, produtos em série, globalizamos o humano, o mundo é realmente plano.
Alguém por acaso sabe por onde anda o seu Toninho?