terça-feira, 24 de julho de 2012

O passado é masculino

Tenho conversado com amigos nos cafés da cidade nestes tempos de baixas temperaturas. O inverno sempre aproxima as pessoas, quer sejam aquelas que hibernam em suas residências ou as que se encontram nas ruas para tomar um expresso ou um chocolate quente. O frio para uns é momento de introspecção,  para outros de prospecção. E nada melhor para combinar com este quadro social que uma moldura adequada: Poços de Caldas. Uma cidade que convida ao encontro em seus parques e jardins, ou mesmo em suas ruas largas e afetuosas.  Um local multifacetado que nos lembra vários países do mundo, mesmo para pessoas que como eu visitaram poucos ao longo da vida. É impossível deixar de perceber que existe muito de europeu nos Pálaces Hotel e Casino, na Thermas ou mesmo no parque José Affonso Junqueira.  Dá para também sentir algo de americanizado no movimento frenético de compras nas ruas centrais ou mesmo a materialização disso na letra M em amarelo ouro do McDonald’s em pleno coração da cidade.
Mas voltando aos cafés, não sei se por hábito de jornalista, (ouvir o que as pessoas dizem) ou mesmo, coisa de gente que vive buscando coisas nas coisas que acontecem ao seu redor, o fato é que andei “colocando reparo”, em bom mineirês, nas conversas que me envolvi e também naquelas que se desenvolviam em outras mesas. Depois de vários dias e de muito ouvir os tempos verbais e os temas discutidos cheguei a um resultado revelador: o passado é masculino.
 As discussões dos homens, em sua maioria, têm um pé no passado, nas lembranças dos “bons tempos aqueles”. Existe muito de nostálgico, de saudosismo no que os homens dizem, quer seja relacionado à infância, ao futebol, à música ou às mulheres que tiveram, do que se pode constatar no diálogo feminino.  Os homens se apegam ao que já aconteceu e ficam revivendo detalhes de determinado fato acontecido décadas atrás. Encontram-se para se encontrarem com o passado.
As mulheres, por sua vez, estão sempre falando do presente (e de presentes também) e quando se lembram de algo que aconteceu no passado isto é comentado de maneira rápida e divertida. Os homens estão mais para o tango, o fado e o bolero. As mulheres para o twist, o iê-iê-iê e o rock. Os homens sentam nos bancos das praças, as mulheres, nos bancos do shopping. As mulheres falam de futuro, do que pretendem fazer, comprar e melhorar. Os homens, quando se reúnem, dialogam sobre o que faziam, como agiam e se sentiram em determinada ocasião. As mulheres celebram o hoje, os homens brindam o passado. As mulheres olham o pára-brisas, os homens, o retrovisor. O homem tem saudades, a mulher tem lembranças.
Talvez tudo isto tenha uma explicação: a mulher é a mãe do futuro, cabe a ela a geração de um novo ser. E por falar nisto, sabe a razão do Brasil ser o país do futuro? É que embora nasçam mais homens que mulheres no mundo, no Brasil temos cerca de 4 milhões de mulheres a mais que homens. 
Voltei dia destes a um café na área central e encontrei com um amigo. Perguntei a ele, se ele acreditava que nós homens éramos realmente mais saudosistas. “Acredito que não” - afirmou ele. E continuou: “As mulheres também sentem saudades do tempo que passou. Quando eu era criança, a minha mãe, já falecida...” E se pôs a contar detalhes da sua infância quando ele era feliz e não sabia.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Embalagem x Conteúdo


O sol e a lua, o dia e a noite, o claro e o escuro, a luz e a sombra.  A natureza nos ensina a dualidade das coisas e a beleza que existe pela integridade dos opostos.  A filosofia chinesa representa isto através do yin e yang- duas forças complementares que propõem o equilíbrio dinâmico de tudo o que existe. Assim o positivo não é bom ou mau, é apenas o complemento do negativo.  Filosofias à parte, o que isto teria a ver com a política?
 Se no Brasil, em tempos não tão remotos, a política se dividia entre a esquerda versus direita, a implantação do pluripartidarismo e as coligações colocaram um ponto final nestes conceitos e voltamos para outra forma de divisão, qual seja, situação versus oposição. Assim, a situação (quem está no exercício do poder) disputa o espaço político com a oposição (os que pretendem alcançar o poder).  Na disputa eleitoral, o que se propõe ao eleitor é a dualidade: a escolha entre a continuidade ou a mudança, em outras palavras, o que já existe e o que se propõe a ser novo. Todos estes rótulos (situação x oposição, continuidade x mudança, antigo x novo) pretendem a separação através dos rótulos e diluem o conteúdo, aquilo que realmente deveria interessar: a solução dos problemas da comunidade, notadamente daqueles que dependem mais das ações públicas. 
Se todos os partidos querem (é o que apregoam) o bem estar da população, a solução dos problemas, o desenvolvimento da cidade, qual a razão da divisão? Dirão que é a maneira de solucionar, a forma de gestão. Balela. Os programas de governo em sua maioria são montados tempos antes das eleições, muitos retirados da Internet e  se tornaram commodities, ou seja, comum a todas as cidades: educação, saúde, habitação, emprego...Depois faz-se um bem bolado e ajusta-se com alguma coisa específica da comunidade e pronto: saí um programa de governo fast food.
Por  outra análise, embora sejam instrumentos importantes para a construção democrática, os partidos políticos (embalagens) são tantos que a ideologia (conteúdo) se diluiu. Então, ser contra ou a favor não está baseado em nenhum conceito ideológico, forma de gestão ou existência de valores, dependendo apenas das contingências. O contra é aquele que hoje não está ocupando um cargo público eletivo. De novo, a solução dos problemas fica em segundo plano, já que o importante é o exercício e as benesses do poder.  
Em se falando de Poços de Caldas, alguns políticos locais se referem ao que denominam de PPC - “Partido de Poços de Caldas”, que filosoficamente seria a convivência em harmonia daqueles que embora com posicionamentos diferentes, tenham um objetivo comum: melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Seriam os prótons e elétrons unidos com o mesmo objetivo em seu resultado: a luz. Claro que ninguém é tão ingênuo de crer que isto seja factível, pois não chegamos ainda a este grau de evolução. Porém, como o sonho e a realidade também são complementares, por que não acreditar que isto possa acontecer um dia?
Enfim, independente de quem sejam os futuros escolhidos para as cadeiras do executivo e do legislativo em nosso município,  esperamos que estas funções possam ser ocupadas por aqueles que verdadeiramente busquem,  além dos rótulos, das amizades e das imposições partidárias,  a melhoria da vida dos cidadãos e a preservação deste nosso “santuário ecológico”.  Que além do barulho das propagandas políticas, cada eleitor possa escolher no silêncio da sua consciência, aqueles que possuírem o  melhor conteúdo e não somente a melhor embalagem.  Assim seja!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Por fora bela viola, por dentro...

Estava eu “pensando na morte da bezerra” quando abro o jornal e leio que o Complexo Santa Cruz -um dos prédios principais da administração municipal em Poços de Caldas- está “caindo aos pedaços”. Sem querer “dourar a pílula”, nem “tapar o sol com a peneira”, todos que freqüentam ou freqüentaram o local já sabiam disso. Agora não adianta “chorar sobre o leite derramado”, são “favas contadas” e a “Inês é morta”. Portanto, ao invés de “ficar chorando as pitangas” o jeito é encontrar uma solução, mesmo que emergencial, buscando preservar a segurança dos servidores e dos cidadãos que freqüentam o referido local.
Também não resolve ficar colocando a culpa em fulano ou sicrano já que o Complexo está complexado desde outros carnavais, até porque “águas passadas não movem moinhos”. Mas o fato veio alavancar a discussão recente sobre a importância da construção do Paço Municipal, que segundo “disse o nário”, é o espaço onde se concentra a sede de um governo e abriga também outros órgãos públicos. “Antes tarde do que nunca” já que muitos imóveis na cidade são alugados pela prefeitura e recursos públicos poderiam ser economizados se houvesse um só local para o funcionamento da máquina pública.  
Contudo, “devagar com o andor que o santo é de barro” pois, “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Sem querer entrar no “pomo da discórdia” e seguindo ainda o “cada macaco no seu galho” sobre o melhor local de construção do Paço- assunto para engenheiros e ambientalistas- quero abordar e atricotar o “outro lado da moeda”. Pergunto: de que adianta mudar a embalagem, se não se mexe no conteúdo?
Um dos graves problemas que passa a administração municipal em todo o país se refere à gestão pública. Como administrar uma empresa sem fins lucrativos (a não ser o “lucro social”) para que esta atenda às  necessidades da comunidade, minimizando os impactos e as interferências políticas? Ou seja, não adianta “enfeitar o pavão” com o Paço Municipal, se não se enfrentar as necessárias mudanças nos processos de gerenciamento dos órgãos públicos, pois no final das contas, quem “paga o pato” é a própria população.
Muitos empresários brasileiros já compreenderam que o mundo mudou e exige muito mais que apenas uma boa idéia e boa vontade. Administradores públicos mais conscientes também já percebem que não basta apenas fazer política, é preciso qualificação e capacitação. Poços de Caldas já não é mais aquela bucólica estância hidromineral de anos atrás e “pior cego é aquele que não quer enxergar”.
Muitas prefeituras no país estão locadas em espaços bonitos, com total infra-estrutura física, porém, no que se refere aos processos administrativos parecem “casa de mãe Joana”: ninguém se entende e isto acaba por atingir a qualidade dos serviços prestados.
A grande reforma que deveria ser feita – e se faz necessário “trocar o pneu do carro com ele andando”- é a que trata do gerenciamento da máquina pública. Planejar, organizar e dirigir uma prefeitura é tarefa que exige muita competência, eficiência e eficácia. Não estamos nos referindo à qualidade do servidor público, já que em todos os lugares, existem os bons e maus profissionais. Não estamos falando de pessoas, o problema está nos processos.
Temos a consciência que o futuro Paço em Poços é um passo necessário. Porém, antes que esta obra seja um “elefante branco” e para não “colocarmos o carro na frente dos bois” que tal, antes das obras de engenharia e arquitetura, refletirmos sobre como melhorar a gestão pública?
Se assim não for poderemos cair naquilo que nos ensina a sabedoria popular: por fora bela viola, por dentro, pão bolorento.