Quando
chegamos e abrimos pela primeira vez os nossos olhos, ela está lá a nos receber
com o sorriso mais sincero e o abraço mais forte que veríamos em nossas
vidas. Naquele momento, embora não compreendamos
o significado das palavras, a nossa sabedoria de criança entende os gestos e as
expressões dela a nos dizer: “Eu te amo. Você é a pessoa mais importante do
mundo”. É o nosso primeiro encontro com
a palavra “amor”, que, tempo depois, quando a maturidade nos aproxima do real
significado das coisas, compreendemos que “amor” é o sinônimo mais completo
para a palavra “mamãe”.
Após o nosso
nascimento, dias ou meses depois, aquela palavra de apenas cinco letras, é a primeira
que pronunciamos e que, por milhares de vezes, voltaríamos a repeti-la.
O certo é
que a palavra ”mamãe”, balbuciada em nossos primeiros dias, passa por mudanças
no decorrer de nossas vidas. Na juventude, a vida nos convida a viver as ruas e
nossa pressa reduz as palavras. “Mamãe” perde então algumas letras e vira
apenas “mãe”. É sintomático: ao aceitar
o convite do que é passageiro, perdemos a compreensão do que é eterno. Como não temos tempo a perder, perdemos o
tempo de conviver com quem mais nos dedica seu tempo. Não importa: ela continua
lá, a orar em nossas despedidas, a esperar pelo nosso retorno.
Os dias
passam e viramos adultos. O trabalho nos consome, a responsabilidades nos suga,
construímos nossa família. Mãe então passa a ser aquela que gera nossos
próprios filhos. Daí então, quem nos
gerou passa a ser chamada de “mãezinha”, ou mesma de “vó”, já que os cabelos
brancos a identificam nas fotos com os netos.
Neste período já não frequentamos mais a casa da “vó”. Ah, sim, nos
finais de semana, passamos por lá para um almoço breve, ou então, no Dia das
Mães, cumprimos a agenda, ao levar flores e aquele abraço rápido. Ás vezes, quando nos sobra tempo, um
telefonema rápido buscando saber rapidamente que, claro, está tudo bem com ela.
Sim, notamos: ela já não é mais a mesma. Os seus passos estão mais lentos e a
dificuldade para nos ouvir, por vezes, nos deixa impacientes. Contudo, embora a vida dela esteja mais lenta,
ela continua ali, na cadeira da “vó”, a fazer seu tricô e a nos esperar para
aquele abraço rápido, o sorriso rápido, a conversa rápida.
O tempo,
sempre ele, avança como o vento e varre a vida. Ficamos velhos e contabilizamos
as ausências.
Olhamos para
um álbum de retratos e lá está ela com o seu sorriso de mamãe, seu carinho de
mãe, seu olhar de mãezinha e a sua sabedoria de vó.
Neste instante,
ao tentar conter as lágrimas, no mais profundo de nosso coração, uma voz explode,
ecoa e suplica ao universo:
“Mãeeeeeeeee!”