sexta-feira, 17 de abril de 2009

Escrevo

Escrevo
como quem pede um abraço
como quem convida um vizinho
como quem perde o passo
como quem busca um caminho

Escrevo
para aliviar o cansaço
para distrair-me do mundo
para gritar-me no espaço
para um mergulhar mais profundo

Escrevo
como quem pede auxílio
como quem se asfixia com o ar
como quem vive em exílio
como quem se afoga no mar

Escrevo
para decodificar a vida
para libertar-me do mal
para retardar a partida
para adocicar o sal

Escrevo
como quem se liberta
como quem se disfarça
como quem se desperta
como quem se diz farsa

Escrevo
para suportar a luta
para liberar o fel
para dividir a multa
para alcançar o céu

Escrevo
como quem se soma e reparte
como quem foi e não partiu
como quem na terra foi marte
como quem da arte pariu

Escrevo
para conversar com a morte
para perfumar-me de incenso
para azarar a sorte
para não morrer de silêncio.