domingo, 24 de janeiro de 2016

Espera



Acreditando que o tempo passa fiquei esperando assim, 
por anos, para vê-lo passar. Mas, enquanto eu esperava o tempo
foi a vida que passou por mim, sem me dizer sim, sem me esperar.

Breque fraude


Particularmente não sou exemplo de comprador. Não que eu seja (penso eu) mão de vaca, pão duro, Tio Patinhas, miserável, mofino, avarento, sovina ou tenha escorpião no bolso. Nem sou (penso eu) como aquele que não gosta de comprar nem quando está jogando baralho. Mas, confesso, tenho certa aversão por ver muita gente comprando muita coisa. Se alguém quiser me deixar aborrecido é só me convidar para ir ao shopping fazer compras. Ou mesmo, se alguém quiser me imputar uma tortura pelos meus pecados cometidos é só me obrigar a passar o dia na 25 de março em São Paulo. 
Contudo, não tenho nada contra a quem gosta de comprar (desde que não seja com meu dinheiro, claro). Sei da satisfação de possuir coisas, de dar coisas, ou mesmo ganhar coisas. Sei também que vivemos em um país capitalista onde o consumismo é a mola mestra da economia e sem compras não há comércio, não há desenvolvimento e, afinal, trabalha-se (dizem) com o objetivo de adquirir coisas. 
Por tudo, esta época de final de ano, me deixa meio zonzo, meio tonto, meio mozzarella e meio calabresa. Este entra e sai de lojas, as pessoas correndo cheias de sacolas nas ruas, e o Papai Noel por todos os cantos me sorrindo e dizendo “Compre, compre, compre” me deixa perplexo e apavorado. É necessário comprar para ser feliz. Compro, logo, existo. 
Porém, quanto mais tento ficar longe das compras, mais elas se aproximam de mim. E de uns anos para cá (desde 2010 no Brasil), importamos mais um produto americano: o Black Friday. Uma ação de vendas anual que acontece na sexta feira após o feriado de Ação de Graças por lá (melhor seria que tudo fosse realmente de graça) na última sexta feira do mês de novembro, ou seja, É HOJE.
Lá nos EUA, assim como nos EUcá, muitas lojas off-line e online aproveitarão este dia para pegar carona na data e dizer aos consumidores: “tudo em promoção”, “50% off”, “queima total”, “ficamos loucos” etc etc etc. Claro, sabemos, que muitos consumidores incautos estarão comprando gato por lebre, enganados por empresas que não têm a honestidade como característica em suas ações de vendas. 
Do meu lado, estou tentando nem sair às ruas, nem ligar o computador para que o Black Friday não me pegue na próxima esquina, ou em um clique de um site de compras e verdadeiramente, transforme este meu dia, em verdadeiro filme de terror, uma Sexta Feira 13.
Como sei que estarei remando contra a maré e “se não pode com eles, junte-se a eles”, lembro a você, incauto leitor, que este texto (que custou um pouco do meu tempo para ser escrito) pode ser (por enquanto) lido de graça. Aproveite esta promoção e indique-o a seus amigos. Boa sexta (ou cesta) de compras!

Entre o ruim e o péssimo, existe o pior



O Brasil é um país de adjetivos: inacreditável, impossível, inconcebível, inimaginável. É surreal, pertencente, como diz o diz cionário, “ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo”. Assistimos aqui situações grotescas, pitorescas, rocambolescas e novelescas. Ficamos geralmente estupefatos, atônitos, embasbacados, petrificados com tudo o que vemos e ouvimos. Nos sentimos impotentes, incapazes, inaptos, débeis, fragilizados perante a tantas falcatruas, fraudes, embustes, golpes e tramoias. Nossa classe política, em sua maioria, é medíocre, sofrível, irrelevante, irregular, para não dizer, corrupta, deteriorada, indecente e pervertida. 
Para dar apenas um exemplo, basta atentar para o que ocorre atualmente no Congresso Nacional. Os deputados estão entre o Cunha e a espada. Ou escolhem a cassação dele (Cunha) ou degolam a presidente Dilma. É ou não, espantoso, inverossímil, fantástico? É ou não é, intolerável, execrável, abominável? 
O que nos chama a atenção, nos remete à incredulidade, ao ceticismo, à descrença, é isto ser pauta de discussão dos deputados e assistirmos a isto nos horários nobres de televisão, como se fosse normal, comum, habitual, corriqueiro em qualquer país do mundo. Como diz um amigo, “a ignorância perdeu a modéstia”. 
Se optarem pela cassação de Cunha, os deputados poderão alavancar o processo de impeachment. Se optarem por absolver o deputado, a presidente Dilma e o PT serão absolvidos dos possíveis pecados cometidos contra a nação. Isto é ou não um roteiro de filme de comédia, terror, ou ficção científica? Ou será que loucos, insanos, dementes, mentecaptos somos nós, eleitores brasileiros? 
Dirão que sou pessimista, cético, descrente, negativo e derrotista. Pode ser. Contudo, entretanto, todavia, a absolvição do deputado e o perdão dos possíveis pecados da administração do governo Dilma, revela claramente, nitidamente, notoriamente, que no Brasil, existe sempre algo abaixo do fundo do poço, e que não precisamos necessariamente ter que escolher entre o ruim e o péssimo. Temos ainda outras variáveis possíveis: o catastrófico, o desastroso, o lamentável.

Erros que não ensinam



Este ano teremos eleições municipais. Talvez seja prematuro para falar sobre possíveis candidatos, partidos e propostas, mesmo que alguns “balões de ensaio” já possam ser vistos nos céus da cidade. Contudo, podemos prever o que teremos pela frente e, neste sentido, uma questão nos parece verdadeiramente clara: não aprendemos com os erros. Por quê? Porque não os corrigimos. 
Falemos sobre os partidos (adj.: que se partiu, quebrado, fragmentado). Alguém sabe dizer a diferença entre eles? Suas ideologias? Suas propostas para a cidade? Hoje, 35 anos após o início do pluripartidarismo no país, temos exatamente 35 partidos registrados oficialmente na Justiça Eleitoral, em uma análise combinatória de siglas iniciadas com a letra P. Não sabemos mais quem é quem, nem se quem era quem ainda é quem ou se quem não era quem agora é quem. Quem explica? 
Definitivamente podemos somente afirmar que vivemos uma nova classificação partidária: o Partido dos Trabalhadores (PT), os partidos anti-petistas (quem ???) e os partidos que ficam esperando para ver onde o vento sopra (a maioria). Ou seja, partido político no Brasil, não serve para muita coisa e, como gosto de samba, prefiro o partido alto.
Falemos sobre candidatos municipais ao executivo. Os “prefeituráveis” já são conhecidos nas esquinas e cafés da cidade, mas, eles mesmo dizem (por estratégia ou receio do “vai que...”) aguardarem as convenções partidárias que devem ocorrer de 12 a 30 de junho. Ou seja, somente saberemos em quem poderemos votar, 3 meses antes das eleições, pois estas deverão ocorrer em 02 de outubro. Assim, deveremos ter como candidatos, os que já foram prefeitos e querem voltar a ser. Os que nunca foram e querem ser. E também aqueles que nunca foram, não querem ser, mas serão, por força da circunstâncias, na calada da noite, como já ocorreu em outros tempos. 
Falemos sobre propostas, planos, projetos, programas, como queiram utilizar a língua do P. Aí é que estamos perdidos, pois o P de Planejamento não existe e faz tempo no município. Nas propagandas políticas (2 ps) veiculadas pelo rádio e tv, os candidatos divulgarão os famosos “planos de governo”, muitos deles tirados da internet e com adaptações, retirando-se apenas o nome da cidade e colocando “Poços de Caldas”. Não me espantarei se alguém sugerir “novo planejamento visual na orla marítima da cidade”.
Finalizando e infelizmente, deveremos viver o mesmo do mesmo (vou aproveitar e comer um torresmo). A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim. 
Ah! Pelo menos em uma coisa teremos uma mudança: por falta de dinheiro, as eleições municipais serão manuais, ou seja, não teremos as urnas eletrônicas. Assim, por uma outra leitura, quando não enxergamos mais futuro, quando os erros no presente se repetem, realmente só temos uma saída: voltar ao passado. Ninguém merece!

Afinal, vem aí, mais um início?


 
Tenho em casa muitos livros. Alguns deles são de autoajuda. Estes coloco mais no alto da estante (seriam de alto ajuda?), porque dificilmente os leio novamente. Parece que já sei de tudo o que dizem e, também, porque, apesar deles, vivo pedindo ajuda para o Alto. Por falar nisto, sabem a razão da existência, em um número cada vez maior, de pessoas, que, como eu, vivem olhando para o céu? É que na Terra, a coisa aqui tá preta, já dizia Chico Buarque. Mas, descobri um outro motivo, ou não, diria Caetano. É que alguém (quem?) lá atrás inventou, meio ressabiado, a palavra dúvida e ela só veio se multiplicando até que hoje ninguém tem mais certeza de nada. Ou estou errado? 
Vivemos um mundo cada vez mais lotado de dúvidas. Isto talvez, quem sabe, seja a nossa maior certeza. Uma das provas sobre o tema é digital e visível a olho nu: a tecla “ ? “ do meu computador, sem sombra de dúvidas, é a mais desgastada. Alguém duvida?
Só para exemplificar com fatores reais, ou surreais, vamos começar por este país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Haverá impeachment da presidente? O deputado Eduardo Cunha será cassado? Não percam os próximos capítulos desta novela, que pelo menos, até o momento em que redigia este texto, ninguém sabia o desfecho. Neste Vale Tudo brasileiro, me lembrei de uma dúvida que não queria calar: quem matou Odete Roitman?
Voltando aos dias atuais, uma prova se tornou incontestável sobre as nossas incertezas. O site mais acessado do planeta (talvez) nos possibilita a tirar dúvidas: o Google. Aliás, digitei a palavra “dúvida” no referido site de busca e o resultado foi duvidoso: aproximadamente 60. 200.000 resultados. 
Mas, qual era mesmo o objetivo deste texto? Ah, sim era falar sobre o final de ano. Daí não tenho dúvidas pois uma questão me deixa(?), lhe deixa(?) nos deixa(?), em dúvida existencial. Como será o amanhã? Será que o realejo realmente diz que serei, será, seremos felizes? Por onde anda a cantora Simone? 
Serei premonitório: haverá furacões nos Estados Unidos, guerras santas ali onde Alá é Deus e aqui os políticos (de sempre) estarão nos tentando convencer que farão o que nunca os outros (eles mesmos) fizeram. 
Contudo, como é final de ano e início de outro é necessário alimentar o desejo de um ano novo cheio de coisas boas. Como tenho quase certeza que acho que estou em dúvida, pergunto: alguém tem aí um livro de autoajuda para emprestar?

Entre matos e buracos

 
Existem problemas em Buracos de Caldas, quer dizer Matos de Caldas, ops, Poços de Caldas que vão e vem, ou vão e voltam, ou versa e vice. Um deles: buracos. O outro: mato. 
A partir desta constatação, vou sugerir a prefeitura que se crie uma nova pasta: a Secretaria de Matos e Buracos. Dirão que já existe uma pasta responsável por isto, a de Serviços Públicos, que conforme o site da prefeitura, “cabe os assuntos referentes à limpeza pública, parques e jardins, funerária, cemitério, fiscalização de posturas e dos serviços públicos concedidos ou permitidos”. Penso que é muito serviço público para uma única pasta e também não combina muito, e pode até confundir, abrir valas no cemitério e ter que fechar buracos nas ruas. 
O certo é que não conseguimos (e faz tempo) dar conta de tapar os centenas, milhares, milhões (?) de buracos existentes no município. O assunto é motivo de piadas, principalmente em rodinhas de amigos jogando buraco (hein?). 
A gente brinca, mas o tema é tão sério que tem muita gente entrando literalmente em depressão. E não é somente nas ruas ou nas rodovias de entradas/saídas da cidade. Os buracos agora resolveram também ocupar os passeios da área central e até a “buracovia” de quem busca caminhar ou correr pela Avenida João Pinheiro. Muitos atletas estão correndo na ciclovia, cujo piso está melhor, e outros propondo um campeonato de bicicross na pista de caminhada. Outra ideia é ter, a exemplo dos atuais fiscais de trânsito, os “guarda matos e buracos”, funcionários responsáveis por não deixar o mato crescer e o buraco aparecer. Apareceu um buraco? Multa. Cresceu o mato? Multa. 
No caso dos matagais a situação é tão grave que tem gente que acha que a cidade pertence ao estado do Mato Grosso. Outros mais saudosistas estão propondo a volta de um ex-secretário de serviços urbanos da década de 1990, o Toninho de Mattos, pra ver se a coisa melhora. 
E daqui pra frente, em período de chuvas, até as águas de março, a coisa piora e muito. É o mato, é o buraco, até o fim do caminho, é um resto de toco, é mais um buraquinho. 
Pra finalizar, entre matos e buracos, tem muita gente que já se conformou. Afinal, como dizia a saudosa Dercy Gonçalves, “por maior que seja o buraco em que você se encontra, pense que, por enquanto, ainda não há terra em cima”.

E as águas rolaram

Estava, como centenas de pessoas, pelas ruas centrais de Poços durante a enchente que atingiu a cidade. Senti, como muitos, um misto de tristeza, desolação e impotência. Em meio a lama e lamentos, carros empilhados, estabelecimentos comerciais inundados e mercadorias sendo levadas pelas águas, pude perceber, além do murmúrio das vozes que comentavam a tragédia, um silêncio inquietante como estivéssemos todos em uma mesma procissão de dor. Inevitável perceber que o slogan “cidade das águas”, naquele momento, nos sinalizava conotações muito diferentes daquelas enaltecidas pelo turismo termal.
Impossível não se sensibilizar com proprietários de lojas, colaboradores e pessoas anônimas solidárias que tentavam juntas, ao retirar a lama, ao limpar o chão, ao recolher mercadorias, minimizar os prejuízos diante de tantas perdas e danos. Pensei então, como muitos, nos possíveis motivos que provocaram tal tragédia e também nas limitações humanas diante das forças da natureza. E se águas rolaram pelas ruas e avenidas, se muitas lágrimas rolaram pelas faces, o que contabilizar diante de tudo aquilo que os nossos olhos registravam?
O momento agora é de reconstrução, não só do patrimônio físico atingido pelas águas, mas, da nossa consciência sobre o cuidado com as nossas nascentes e a ação permanente de limpar rios e córregos que circundam a cidade. Se faz urgente um estudo técnico-profissional que possa mensurar como se encontra verdadeiramente a saúde hidrogeológica do município. Um relatório detalhado sobre os impactos provocados pela impermeabilização do nosso solo e o assoreamento dos nossos rios. Um trabalho que demonstre a real situação de nossas barragens e as construções de casas e prédios ao entorno dos córregos.
Precisamos ir muito além do jardim, buscando enxergar além das aparências da “cidade da saúde e da beleza”. Necessitamos que nossos administradores públicos se comprometam com órgãos vitais, como a água, o esgoto, a saúde e a educação e não se encantem e se inebriem diante nossas belezas naturais. É vital ir além da embalagem e pensar no conteúdo.
Á água é um elemento que tem entre as suas funções a de limpar o que se encontra sujo. O momento é de limpeza de ruas e lojas, mas, principalmente, dos erros que há anos vivenciamos: a falta de planejamento urbano e o descaso com aquilo que é realmente essencial. Nesta premissa, fundamental não promover a “caça às bruxas”, utilizando nossas fragilidades como instrumento político para apontar culpados buscando utilitariamente obter dividendos eleitorais. Todos nós, uns mais, outros menos, temos nossa parcela de culpa e cometemos nossos pecados diários, ao lançar dejetos nos rios, ao poluir nossas matas, ao não deixar “respirar” a natureza, ou simplesmente, pela nossa omissão com os destinos da cidade.
A enchente, tão dolorosamente vivenciada, veio nos resgatar a solidariedade.
Que ela sirva para resgatar também o bom senso e o discernimento dos nossos homens públicos, para que deixem de pensar apenas nos frutos do poder e se preocupem mais com o solo e a água que abrigam e dão vida à semente.
Que ela seja também um instrumento de reflexão inundando a consciência de todos nós, para repensarmos nossas ações diárias de descompromisso com a natureza e com o futuro desta cidade.


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