sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Chá de boldo

Quando éramos crianças se alguém em casa passava por algum problema de saúde, lá vinha minha mãe com sua sabedoria e um remedinho caseiro, geralmente um chá de alguma planta medicinal que ela cultivava na horta. E aí, era “tiro e queda”: logo estávamos bem novamente. Atualmente, tantas são as recomendações na área da saúde, que as pessoas ficam com receio de tomar qualquer coisa. Tem gente até evitando tomar banho. Há que se refletir ainda que, embora muitos profissionais da saúde sejam contrários aos “feitos em casa”, o “chá de cadeira”, infelizmente, continua empregado em consultórios médicos.
Mas, voltando ao assunto, o hábito do remedinho caseiro ficou tão marcante em nossa família que ainda hoje, sempre que alguém tem um pequeno mal estar, volta a pegar uma “consulta” com a Dona Ana, que em seus 93 anos, continua receitando seus chás.
Viver hoje tem um custo alto, alimentado pelas necessidades que o consumismo nos propõe. Tal custo nos faz olvidar dos nossos valores e do valor do outro. Colocamos uma venda em nossos olhos e vendemos o nosso maior patrimônio: nós mesmos. Estamos doentes.
Assim é que, pedindo perdão aos leitores pelo trocadilho (sempre infame), quando fico chá-teado com algo que “comi” e que não “digeri” muito bem, agradeço a Deus, ter a possibilidade ainda de recorrer à “minha nascente” e receber os remédios que mantêm a minha integridade e os valores que regem a minha existência.
É lá na horta da casa da minha mãe, no contato com terra e com as plantas, e na conversa próxima ao fogão de lenha, que alimento o meu espírito e que repenso o sentido da minha vida. Foi lá que reaprendi recentemente, que a vida nos propõe sempre uma oportunidade de escolha e que, tudo, absolutamente tudo, é resultado de nossas próprias decisões.
Foi lá que redescobri, que, muitas vezes, o que, inicialmente nos parece amargo, pode ser justamente o que veio nos curar e devolver o que temos de melhor: a nossa essência, o que há em nós, de orgânico.
A vida é sábia. Por vezes nos presenteia com um chá de boldo.