quarta-feira, 24 de abril de 2019

O grito



Há um grito.
Na cama ao lado, na casa ao lado, nas lojas e nas fábricas, nos hospitais, prisões e salas de aula. Ouça.
Misturado ao barulho das máquinas, ao digitar dos teclados, às buzinas das ruas, as sirenes das ambulâncias, há um grito.
Ele se expressa em um olhar, em um gesto, uma lágrima, em um sorriso fugaz e, por vezes, ecoa também espremido em uma única palavra.
Ele implora seus ouvido
s, seu tato, sua atenção... apenas alguns minutos do seu tempo.
Você não sente, não ouve, não percebe o grito.
Sim, claro, você tem suas dores, suas dúvidas, seus sonhos desfeitos, são tantos os problemas.
Quem é que para e ouve o seu grito?

(Como ninguém ouvia os gritos, eles foram cessando, até que não houve mais gritos.E assim, morreram todos de silêncio)

terça-feira, 16 de abril de 2019

CHÁS






ANTIGAMENTE SE RECEITAVAM CHÁS PARA TODOS OS MALES.

DAÍ RESOLVI PREPARAR ALGUNS PARA OS DIAS DE HOJE:

- CHÁ DE HUMILDADE PARA OS JUÍZES DO STF;

- CHÁ DE DISCERNIMENTO PARA BOLSONARO;

- CHÁ DE MATURIDADE PARA NEYMAR;

- CHÁ DE PERSISTÊNCIA PARA MORO;

- CHÁ DE CONSCIÊNCIA PARA LULA;

- CHÁ DE SUMIÇO PARA TODOS OS POLÍTICOS CORRUPTOS

- CHÁ DE CADEIRA PARA TODOS MÉDICOS QUE NÃO RESPEITAM 

HORÁRIOS


terça-feira, 9 de abril de 2019

DIA DE CÃO


Abro os olhos. Vai começar mais uma manhã. Todo dia é a mesma coisa. Lá vem ele para passar rapidamente a mão na minha cabeça. Fico perguntando: o que se passa na cabeça dele? Está sempre correndo. Vai tomar banho correndo, tomar um café correndo. Olha lá: agora está na mesa comendo uma bolacha e, pra variar, dando uma olhada para as mãos que seguram aquele negócio luminoso. Ele não tira os olhos daquilo e, de vez em quando, bate nele...não sei porquê. Dias atrás, depois de bater naquele negócio luminoso, ouvi ele gritando: “Cachorrada! Tá osso viu!!!”. Sai correndo para ver se tinha algum prá mim, mas não tinha osso nenhum. Acho que era fake, como vejo ele comentando sempre. Ontem mesmo ele gritou novamente: “Hoje, tá um dia de cão”. Sai correndo novamente, esperando um presentinho, mas sequer recebi um carinho. Fiquei meio chateado. Poxa, se o dia era meu, porque não sair pra comemorar? Bem, já já ele sai correndo e eu fico aqui o dia inteiro esperando ele chegar. Quando ele chega, coloca aquela mesma ração, troca a minha água e passa a mão na minha cabeça e novamente vai pegar aquele negócio luminoso. Aquilo sim é o companheiro inseparável dele, talvez, o seu melhor amigo. Meu nome é Bidu, mas gostaria mesmo é de me chamar uatisapi.