segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pão e Circo

Tenho lá minhas dúvidas se você, leitor, irá seguir até o final deste texto. Isto porque vou abordar e “atricotar” o tema cultura. No Brasil, falar em cultura por vezes nos deixa acanhados. Primeiro que não sabemos realmente o que é cultura. Parece que temos que ser muito “cultos” para falar sobre isto. Tem a ver com educação, mas também envolve a arte, o lazer, o entretenimento. Em uma pesquisa rápida, verificamos que a palavra cultura vem do latim colere que significa cultivar. Uma definição genérica formulada pelo antropólogo inglês, Edward Tylor (1832-1917) diz que cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Complexo mesmo né?
Apesar deste conceito genérico, temos o hábito de “enxergar cultura” apenas com relação às manifestações artísticas: teatro, dança, música, artes plásticas. Além disso, dividimos a cultura em duas partes: a erudita e a popular. Tal divisão define também o público e o status. O erudito é produto de consumo da elite e a popular, conforme a própria palavra, aquilo que é produzido pelo e para o povão. Mais: o erudito seria o intelectual, o dono do saber, do conhecimento científico e acadêmico. E o popular seria o vulgar, o massificado pela indústria cultural. Neste cenário, muitos consideram um sacrilégio, um “assassinato”, quando alguém quer , por assim dizer, popularizar o erudito. Em Poços de Caldas, por exemplo, quando o Maestro Agenor Ribeiro Neto, busca, à sua maneira, junto com os integrantes da Orquestra Sinfônica local, “popularizar a música clássica” no evento Sinfonia das Águas, sofre muitas críticas dos que pretendem “preservar a música erudita”.
Cultura é o “Música nas Montanhas”, mas também é a Festa de São Benedito, os congos e caiapós. É o Conservatório Musical, mas também, os movimentos de hip hop, street dance, o Radar Musical e o Viva Urca. É a Cia Bella, a Feirinha do Artesanato, mas também, as emissoras de rádio e televisão, os jornais e revistas, o carnaval, os shows e os eventos na Urca.
Não dá para falar de cultura sem política cultural. “Diversão e arte para qualquer parte. Diversão, balé, como a vida quer”. O que percebemos em nossa cidade é a iniciativa e o esforço individual de muitos, porém, sem planejamento, sem estrutura, sem norte, sem união. Não adianta uma divisão de Cultura, se existe uma cultura da divisão. Na cidade, existe a secretaria de Turismo e Cultura. Um dos questionamentos é será que este é o lugar correto da pasta? Dada a riqueza cultural da cidade, não existe a necessidade de uma secretaria que abrigue somente a Cultura?
Não dá para falar de cultura, sem falar de dinheiro. “A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade”. Assim, as leis de incentivo existem, mas a dificuldade é enorme quando se trata de buscar empresas apoiadoras, já que a política tributária não auxilia a captação de recursos e a informação sobre os benefícios não chega até as empresas. Iniciativas como o programa de patrocínios do grupo DME auxiliam e são muito bem vindas, porém, não resolvem a situação. Em janeiro deste ano, a administração local anunciou a criação da Fundação da Cultura, vinculada também a empresa DME Participações. Porém, até o presente momento e até onde se sabe, houve algum curto circuito e o projeto está parado.
Enquanto isto, sobrevivem na terrinha os titãs da nossa cultura com a consciência de que “a gente não quer só comer, a gente quer prazer para aliviar a dor”.