domingo, 19 de setembro de 2010

Religião se discute

Dizem que religião não se discute. Talvez porque a palavra discussão tenha conotação agressiva e se assim, melhor é evitar mesmo. Mas, em um mundo materialista, em uma sociedade capitalista e consumista, precisamos conversar e refletir sobre o tema e são inúmeras as questões. O assunto é inesgotável. Mas, nem por isto, devemos nos calar. Se, dizem, a fé é cega, ela não deve, porém, cegar as pessoas.
Essencial, por exemplo, é refletir sobre a busca pela liberdade religiosa na eliminação do preconceito. Toda pessoa tem o direito de escolher a sua crença e também o de não ter crença nenhuma. Assim, o respeito a qualquer manifestação religiosa é fator fundamental na promoção da paz e no combate a intolerância e ao fundamentalismo religioso.
Em nome da religião muito se construiu, mas também, muito se destruiu na história da humanidade. Em nome do divino e, isto acontece até os dias atuais, a existência de tragédias, guerras e mortes. Em um momento de eleições em nosso país, para citar outro exemplo da utilização do sagrado, são muitos os candidatos que se dizem conduzidos por Deus, utilizando este argumento nos seus slogans de campanha na busca pelos votos nas urnas.
Outra questão a ser analisada é que se o ser humano na Terra é o elo, o mediador entre o profano e o sagrado, necessário refletir que o humano é, por natureza, falível, inconstante e finito em seu conhecimento.
Por tudo e como tudo, a religião é instrumento de valorização da pessoa, no respeito a si mesmo e ao outro, no amor a si e ao próximo. Mas, também é, infelizmente, fator de divisão entre os homens, quando trabalha inescrupulosamente a fé das pessoas, quando se apropria da liberdade, quando se torna ferramenta de poder e de manipulação.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Liberdade ainda que tardia

Todo sete de setembro, o Brasil comemora a independência do jugo de Portugal. Uma data cívica importante, mas não menos importante é lembrar que a ação de proclamar independência, não estabelece necessariamente a liberdade de uma nação. Não se liberta apenas por leis ou decretos. A Lei Áurea concedeu liberdade aos escravos, mas estes permaneceram presos durante anos aos seus tutores e ao sistema econômico, político e social. Um detento que sai do sistema prisional, ainda permanece preso nas ruas, na impossibilidade de conseguir um emprego e no preconceito social. Uma pessoa que saiba ler e escrever, pode não saber interpretar a sua própria realidade e estará dependente do patrão e do governo em suas várias esferas. Um pássaro acostumado a viver na gaiola, quando lhe concedem a liberdade, este não aprendeu a voar com suas próprias asas e nem a buscar o seu próprio sustento.
A liberdade vai muito além da constituição e a prisão não está somente nas algemas e nas celas. Libertar é possibilitar ao ser humano alcançar a sua dignidade, fruto do suor do seu rosto e do conhecimento.
Por extensão, um país só é verdadeiramente livre, quando, além da sua soberania, a sua gente tem condições de acesso à saúde, a educação e ao trabalho honesto. Um país só é verdadeiramente livre, quando assegura dignidade à sua população, não pelo assistencialismo que perpetua a miséria, mas pela possibilidade de cada cidadão gerar o seu próprio sustento. Um país só é verdadeiramente livre, independente e soberano, quando muito além da própria constituição, a justiça social se pratica no cotidiano.
E a educação tem papel fundamental na liberdade. Ela possibilita o conhecimento, que gera consciência e que promove a ação para uma vida melhor. Ela, a educação, gera a luz que permite enxergar o que acontece ao meu redor, em minha vida e na da sociedade onde atuo. A partir daí, posso ser um agente transformador, um cidadão em plenitude.
Mas, não somente a educação focada no profissional, no mercado de trabalho, que também pode ser escravizante. Mas, aquela que permite ao indivíduo, a reflexão, o raciocínio próprio e capacidade de escolha.
Com tudo isto, a liberdade assim pode ser ainda uma utopia. Mas, acreditar na utopia é também um exercício de liberdade.

sábado, 4 de setembro de 2010

Decisões Individuais, Problemas Coletivos

A informação é hoje o principal instrumento de sobrevivência das organizações, sejam elas privadas ou públicas. E ela, a informação, se encontra em todos os lugares, do chão de fábrica à sala dos lideres, do papo no corredor a uma reunião de diretoria. Transita também nos meios de comunicação, nas emissoras de rádio e TV, nos jornais, sites, Orkut, blogs e twitters.
A informação gera conhecimento, que por extensão, gera inteligência competitiva. Quanto mais a empresa conhece a sua área de atuação, os seus concorrentes, seus clientes, o seu contexto ambiental, apenas para citar alguns pontos, mais está preparada para enfrentar os desafios do mercado.
Mas, se tudo isto é verdade, se livros, consultores, especialistas e o mundo acadêmico orientam sobre estes aspectos, como as organizações estão tratando as informações? Elas são levadas em consideração no momento de tomada de decisão?
O mundo mudou muito nas últimas décadas, mas, infelizmente, na maioria das empresas, a informação não é devidamente tratada, selecionada, trabalhada para auxiliar o corpo gerencial. Vivemos a tecnologia como lição de casa, acreditando que basta equiparmos as empresas com hardwares e softwares de última geração. Porém, esquecemos de tratar o volume gerado e temos então uma “biblioteca” enorme com centenas de títulos diferentes, mas que ninguém lê. Nas “gavetas” dos computadores, milhões de dados são coletados, porém, sem a devida seleção, filtragem e utilização. Desta forma, apesar e em razão do excesso de informação, muitos líderes decidem apenas pelo conhecimento individual, experiência e capacidade profissional. As reuniões são realizadas apenas para atestar as decisões do “chefe” e os colaboradores são meros coadjuvantes em um teatro montado para validar as iniciativas de quem lidera. Por incrível que pareça ainda escutamos muitas “lideranças” afirmarem para os seus liderados: “Você aqui é pago para fazer e não para pensar”. Automatizamos as empresas e os relacionamentos. “Penso, logo... sou demitido”.O “manda quem pode, obedece quem tem juízo” não é frase de efeito, mas sim, prática diária em muitas empresas. Quem tem o poder faz questão de marcar território, movido, na maioria das vezes, pela insegurança e pelo medo de perder o posto.
Em um universo onde a tecnologia possibilita o acesso rápido à informação, se torna urgente não subestimar a capacidade das pessoas, seja lá qual for a função que elas exerçam. Não raro, um empregado que exerce a tarefa mais simples é uma fonte de informação em potencial e pode, em determinada circunstância, auxiliar a tomada de decisão.
A inteligência individual precisa dar lugar à inteligência coletiva. Quando analisamos somente um lado de uma questão, a tendência é tomar decisões errôneas, limitado pela lente de uma câmera que registrou apenas uma fonte de luz.
A democratização do conhecimento, oriunda principalmente da internet, é uma realidade inexorável.
Pena que o autoritarismo, a arrogância e “o poder da caneta” ainda se façam presentes em muitas instituições públicas e privadas. E o que é pior: decisões individualistas e egocêntricas geralmente são as grandes responsáveis por problemas coletivos e a sabedoria popular ensina: quando a cabeça (o líder) não pensa (nem ouve), o corpo padece (leia-se colaboradores, clientes, população etc.).