domingo, 24 de novembro de 2013

Presos



Acompanhamos as prisões dos condenados no processo do “Mensalão”. Entre muitas reflexões em um país onde a dúvida sobrepõe-se a qualquer certeza, onde fazer o que é certo, nem sempre dá certo, onde o erro muitas vezes é até enaltecido e valorizado, temos que, acima da insanidade que acometem os fanáticos, refletir que a Justiça como pilar de sustentação de um país, deve ser sempre soberana.
Pode-se até discordar de uma sentença judicial, mas o que não se pode aceitar é que, em nome de corporativismos partidários ou pessoais, haja a tentativa de desmoralizar ou descaracterizar o que foi sentenciado pelos tribunais. É de se estranhar, se não de causar estarrecimento, que aqueles que alegam terem sidos no decorrer de suas histórias políticas, detentores da moralidade, da honestidade e da legalidade, de um momento para outro, busquem agora, quando a Justiça não lhes favorece, desqualificar a ação judiciária se auto intitulando como presos políticos, bodes expiatórios ou qualquer outro eufemismo.
Se ao povo, no momento do voto, cabe o julgamento de um político, é nesta mesma régua, sob o mesmo diapasão, nesta mesma ótica, é que cabe à Justiça em seus preceitos legais, determinar o veredicto sobre as ações de todo homem público no exercício de sua função ou mandato. Aqui não estamos falando de Josés ou Joãos, de siglas partidárias de direita ou esquerda, de governo ou de oposição. Estamos nos referindo à impunidade, que somada à corrupção generalizada, são os principais males que afetam a nossa sociedade.
 Tentar jogar a população contra a Justiça é ato que deve ser refutado por todos os que desejam realmente ver esta nação mais fortalecida na credibilidade de suas instituições.
No caso citado no início deste artigo, foram anos de discussões e investigações, milhares de páginas analisadas, centenas de horas dos mais importantes juristas deste país nas suas mais diversas instâncias para se chegar ao veredicto. Os réus tiveram ao seu lado, o acompanhamento técnico de seus advogados, no direito democrático de defesa.  Neste sentido, cabe lembrar que democracia é um sistema de governo, respaldado principalmente pela legalidade das ações e não pelo que determinado grupo, a seu bel prazer, considera certo ou errado. Democracia é a proposta que vem consolidar a convivência entre os opostos e acatar, não aquilo que privilegia interesses particulares, mas o que tenha como norte o interesse público.
 Se os condenados querem verdadeiramente fortalecer a sua dignidade, que ajam condignamente.
 Ano last but not least, please, não se declarem vítimas, nem heróis, nem perseguidos pela ditadura, muito menos mártires.
De verdade e infelizmente, presos estamos todos nós brasileiros, nesta cadeia de corruptos que de forma endêmica atingiu a todos os setores desta nação acorrentada por anos de desmandos e mazelas.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Alô, é do 141?


Dizem que o mundo é feito de coincidências. Pode ser. Dizem que os números têm sempre uma resposta. Pode ser. O fato é que ao pensar sobre os 141 anos de Poços de Caldas me lembrei que, coincidentemente ou não, 141 é o telefone do Centro de Valorização da Vida- um local onde um grupo de voluntários recebe ligações de todo o país de gente que necessita de ajuda ou simplesmente quer fazer um desabafo. Bingo! Há males que vem para bens, refleti.  Imaginei que o “meu parabéns pra você pra Poços” seria uma ligação para o 141 que aconteceria mais ou menos assim:
- Alô, é do 141? Queria falar sobre Poços... posso?
- Me desculpe senhor, mas não estou entendendo. O senhor chegou ao fundo do poço e está precisando de ajuda, é isto?
- Não, exatamente. Aí não é do Centro de Valorização da Qualidade de Vida? Pois, então, eu gostaria de fazer um desabafo sobre a qualidade de vida de Poços de Caldas que está completando 141 anos...
- Olha, meu senhor, o 141 é um telefone para que as pessoas reencontrem a felicidade e entendam que a vida se faz no presente...
- Muito bem lembrado. Poços é verdadeiramente uma feliz cidade, porém, o que preocupa não é tão somente o presente, e sim, o futuro.
- -Mas, ouvi dizer que Poços de Caldas é uma cidade muito bonita. Andei de bodinho e de bondinho aí quando eu era criança. Poços, a terra da saúde e da beleza!
- É verdade. Porém, a gente se encantou por demais com as nossas decantadas belezas que a saúde ficou um pouco no desencanto.
- Mas me lembro que a cidade era muito tranqüila, muito segura...
- É, ou era. Já não falamos mais com tanta segurança sobre isto. O que preocupa é a sensação da cidade estar crescendo, porém, sem saber como, onde e nem por quê. A percepção é que não temos uma bússola a indicar se estamos realmente no caminho certo. Estamos no Sul, sem um norte.
- O senhor está me parecendo muito ansioso, está precisando relaxar um pouco...
- Relaxamento.  Talvez seja esta a palavra. Verdadeiramente relaxamos em muitos pontos importantes, improvisamos por demais e, hoje, pagamos um preço alto pelo “fazejamento” sem o devido planejamento. 
 - Olha, sinceramente, não sei como ajudá-lo. O senhor me parece muito impaciente...
- Impaciente? Penso é que estamos virando pacientes. Verdadeiros “tubos de ensaio” para experiências das administrações que se sucedem no poder.
- O senhor precisa ter calma, sair um pouco. Que tal dar uma voltinha de carro com a família...
- Nem me fale nisto. O trânsito aqui se complica a cada dia. O único lugar que tenho quase certeza de achar uma vaga para estacionar é no meu prédio e olha lá...
- Bem, o senhor me desculpe, mas, tenho muitos outros “incêndios mais sérios para apagar” e vou ter que desligar.
- É isto!  O senhor acaba de me dar uma grande ideia.
- Pera  aí.  Não entendi.
- O senhor disse “apagando incêndio” e resumiu com propriedade o que tem acontecido em Poços nos últimos anos: estamos “apagando incêndios” na cidade das águas...
- Mas, e daí?
- Ué, vou ligar agora mesmo para o 193. Quem sabe eles não encontram uma saída... nem que for  a de emergência.