sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Alguém aí poderia responder?

Como administrar, sem ter experiência profissional, nem ter realizado cursos de gestão, uma empresa prestadora de serviços com cerca de cinco mil colaboradores, dezenas de setores, com orçamento anual de mais de 600 milhões de reais, e que atende uma clientela aproximada de 200 mil pessoas? Como colocar pessoas tecnicamente qualificadas para gerenciar os mais diversos setores desta empresa, sem sofrer pressões políticas e partidárias e sem lotear cargos? Como planejar as ações desta empresa buscando priorizar as demandas dos clientes, seguindo orientações de um Plano Diretor, em um trabalho conjunto gerencial e administrativo de médio e longo prazo, e não de atitudes momentâneas e emergenciais? Como formar, treinar, capacitar, qualificar, atualizar e reconhecer meritoriamente todos os colaboradores seguindo novas tendências de gestão, e não de privilegiar o comodismo, o favorecimento partidário, o interesse particular e a mesmice no setor público? Como fugir das promessas eleitoreiras de governo, para compromissos factíveis norteados por estudos aprofundados de gestão municipal?
A crise (comédia, tragédia, ópera) política que Poços de Caldas atravessa na atualidade é mais conseqüência de um sistema falido de gestão pública que tem como origem desde a atuação dos partidos (inúmeros e sem ideologia) até chegar ao desinteresse dos cidadãos com a política municipal. Os grupos se desentendem e quem perde é o cidadão. Fala-se muito em poder e em governo. Pouco se fala em administrar e cuidar das reais demandas da cidade. A eleição e o voto são apenas instrumentos que validam um sistema que privilegia por demais a política partidária e se esquece do necessário gerenciamento de um município que já não é aquele de outrora. A Poços de Caldas bucólica de natureza invejável, de arvores frondosas e de praças que convidavam apenas ao descanso, foi sendo substituída, ao longo do tempo, por uma cidade que, além da sua beleza natural, exige dinamismo, qualificação e preparo do seus dirigentes. Somos por direito, a capital do Sul de Minas e os nossos problemas, se não detectados, irão se avolumando e pagaremos caro pela nossa ingovernabilidade. Antes bastava ter boa vontade, espírito público e de liderança para se postular a um cargo eletivo. Hoje estes requisitos apenas não bastam. Vivemos um novo tempo. A tecnologia, o acesso à informação, as exigências da sociedade mudaram e muito. Mas, pergunta-se: as nossas práticas políticas mudaram ou continuam baseadas no clientelismo, nos grupos partidários e na “tomada do poder”, como um dirigente político registrou freudianamente dias atrás em um programa de televisão?
Uma prefeitura não se norteia, infelizmente, pela competitividade de mercado, nem pela lucratividade e rentabilidade. A partir daí, o que se percebe são as “nuvens” da política determinando o tempo e o balanço anual da gestão municipal. A vaidade, as desavenças políticas temporárias, o “quem manda e quem obedece” são bússolas que norteiam os rumos da cidade. Como cidadãos, o sentimento é de tristeza ao ver publicado anúncio em primeira página solicitando a permanência de pessoas na administração municipal. É a prova concreta, insofismável, da política partidária interferindo nos destinos do município. Por outro lado também, a tristeza se completa ao percebermos a “corda” no pescoço de vários cargos de confiança, baseados também nos mesmos princípios que justificaram (?) a publicação do referido anúncio. Não se trata de mocinhos x bandidos, nem de culpados x inocentes como muitos querem que enxerguemos os acontecimentos. É necessário ter maturidade política, compromisso com aquilo que foi manifestado há dias ou anos atrás. É preciso ter coerência com o que se assume. Não dá mais para aceitar a teatralização no cenário político. Até dias atrás, tal partido não apoiava o prefeito e manifestava isto claramente. Agora, “estamos abertos para conversações e o diálogo, pensando na sustentabilidade do governo”. Alguém acredita? Ao invés de propagarmos tão somente o nosso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) cabe perguntar: como está o nosso Índice de Desenvolvimento Político?
Claro e, felizmente, ainda existe gente séria que busca cumprir a sua função na administração pública. Porém, estes também são afetados e contagiados pelos vírus da maledicência, pela endemia de boatos e fofocas, no jeito leviano de se fazer política que ainda prevalece no município e no país, já que tudo isto a que nos referimos não é privilégio somente nosso.
Vale lembrar que não será estranho se daqui a alguns dias, tudo isto que vimos acontecer neste final/início de ano, ser apagado pela notícia de que “estamos todos juntos, em benefício da coletividade, buscando a união para o bem comum”. Alguém desacredita? Não. Até porque já nos acostumamos a enxergar como natural, estas “conversas partidárias” que tem no cidadão (e eleitor) um mero espectador apático e impotente. No país, quando não conseguimos resolver algo, normalizamos o que é negativo e predatório. A normalização nos retira a culpa, nos isenta dos débitos, nos exime da acusação.
Pergunta-se: Será que as pessoas não refletem que tudo isto afeta a imagem de Poços de Caldas perante todo o país? Qual a cidade que efetivamente estamos construindo através dos exemplos que damos? O que estamos realmente ensinando aos nossos filhos para fortalecer a cidadania e a coletividade? Quais os valores que referenciam tais atitudes: humildade, compreensão, aceitação, respeito, dignidade? Qual a Poços de Caldas que estamos preparando para as próximas gerações?
Alguém aí tem as respostas?