terça-feira, 20 de novembro de 2012

Facilidade e Felicidade

“Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades” proclamava o Barão de Itararé, personagem de autoria do escritor Apparício Torelly (1895-1971). No mundo em que vivemos e até onde podemos perceber, a tendência comportamental sinaliza a opção generalizada pelo fácil e suas variáveis: o mais fácil, o facílimo e o facinho, facinho. Quer coisa mais fácil, “tremendamente fácil pra você, e eu e todo mundo” que cantar e tocar “Fácil” da banda mineira Jota Quest?
Responda rápido, se você tiver que perder peso, você escolhe: 1) Malhar durante meses na academia 2) Tomar um “milagroso” chá emagrecedor 3) fazer uma lipoaspiração. Para uma pergunta tão fácil como esta não é difícil imaginar que a maioria das pessoas dificilmente escolheria a opção 1.  Continuemos o teste: ler um livro ou ver um filme? Estudar ou colar? Criar ou copiar? Trabalhar ou corromper? Educar os filhos ou dar um computador de presente? Fazer o certo ou “dar um jeitinho”? Passar pelas etapas ou “pular” os degraus?
Vivemos em busca do método mais rápido, da maneira mais fácil de aprender inglês, de tocar um instrumento, ou de fazer um prato saboroso. A pergunta que fazemos em todos os momentos é: como alcançar com mais facilidade, em menor tempo, com menor custo, sem muito trabalho, tudo o que geralmente só se conquista com muito investimento, esforço e dedicação?
Vemos isto em atos simples do cotidiano: é mais fácil jogar o lixo no chão que procurar uma lixeira; passar com o carro no sinal fechado que esperar o verde; usar de influência pessoal para “cortar” filas que aguardar a vez.
Conhecemos pessoas que reclamam que a natureza é imperfeita, pois o ovo já deveria vir frito, o coco com canudinho e a laranja descascada.
A tecnologia tem grande parcela de responsabilidade. São novos instrumentos, novos sistemas, tudo feito para nos dar mais comodidade, retirar o esforço e, dizem, simplificar a vida.
O governo por sua vez optou por “facilitar” as coisas através das cotas e bolsas. É mais fácil oferecer cotas que investir na qualidade de ensino das escolas públicas. É mais fácil oferecer bolsas que investir na capacitação das pessoas e na geração de empregos. É mais fácil investir no “circo” que ensinar a produzir o próprio pão.
O notório é que as “facilidades” têm nos sequestrado a felicidade da conquista e desvirtuado a importância das vitórias obtidas pelo empenho e garra. Tanto que se torna cada vez mais difícil encontrar espaços livres nas agendas dos consultórios médicos.
Materializamos os sonhos: o ter (carro, casa, eletrodomésticos etc) assumiu o lugar do ser (encanador, pedreiro, professor etc).
Por falar em felicidade e sonhos, voltamos ao Barão de Itararé: "Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra". Fácil, não?