domingo, 10 de março de 2013

Fim da picada



Existem pequenas coisas que fazem parte da nossa vida há centenas, talvez milhares de anos, e que, compulsoriamente aprendemos a conviver, por mais que aquilo nos incomode. São coisinhas miúdas que talvez não merecessem estas linhas, mas hoje, não sei se por falta de assunto (ou porque o assunto em si me incomodou durante toda a noite) que resolvi logo de manhã redigir um pequeno texto, no tamanho da coisa. Inicialmente devo declarar que, ao longo dos anos, dei literalmente meu sangue para o assunto, prioritariamente ao sexo feminino, mesmo que contra a minha vontade. Em razão disso, imaginei um título para um filme do Zé do Caixão: “Só as fêmeas bebem nosso sangue”. Por outro lado, o esquerdo do cérebro lembrou-me do escritor polonês Kafka em “A Metaformose” e fiz um trocadilho infame (qual não é?) com “qué ficá”, um jeito mineiro de dizer que a coisa quer ficar vampirescamente ao nosso lado noite e dia. Nesta transfusão, o meu amigo “Gugol” revela a existência da probóscide (como é que vivi tantos anos sem esta informação?)- arma letal que perfura a pele e que contem substâncias anestésicas e anticoagulantes. Um verdadeiro exterminador do passado, presente e do futuro.
Embora a coisa ataque o nosso sistema nervoso, é preciso reconhecer sua biotecnologia: um sistema perfeito de canais internos faz o sangue circular livremente (o dele e principalmente, o nosso) e outro duto reaproveita 90% da água das fezes, algo que as cidades brasileiras deveriam aprender para melhorar o saneamento básico.
Mas o que mais chama a atenção, até porque sonoro (e também nos tira o sono) é a eficiência aerodinâmica (ou seria hemodinâmica?) das suas asas (azar o nosso). Durante o voo, as patas dianteiras ficam encolhidas e as traseiras são alongadas para trás e as turbinas são acionadas pelas asas em até 300 batidas por segundo. As patas longilíneas e leves auxiliam na aterrissagem. “Atenção senhores passageiros! Em poucos segundos, estaremos pousando na pele daquele cara ali. A hemobrás avisa e ANVISA: o sangue é nosso!”.
Você deve estar pensando: É o fim da picada, alguém perder tempo em escrever sobre isto. Também acho este texto, chato, cricri e pernilongo.  Mas espere um pouco.  Acabei de perceber um culex quinquefasciatus rondando minha cabeça. Agora ele, melhor dizendo, ela está na parede do quarto. Sangue do meu sangue. Vai ser um tapa só... é agora...Pá! 
- Ué, cadê o bicho?