quarta-feira, 29 de junho de 2016

Ausência


Tem dias que,
sem mais, sem menos, a gente se sente sem.
E sem rumo, sem amigos, sem graça e sem sal, sem norte, ...
sem bússola, sem sol e sem lua,
sem casa e sem rua,
sem ninguém nos esperando no porto, sem sonhos,
sem nada para dar e sem receber,
seguimos, assim, sem querer.

E sem que ninguém perceba, sem que ninguém note,
sem que ninguém saiba,
deixamos de ser.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

"Eu quero ser vice"


As eleições municipais se aproximam e os políticos locais parecem mais distantes do eleitor em relação ao último pleito. Isto se tornou evidente quando, apesar da crise financeira atual, vereadores, prefeito, vice aprovaram o aumento dos seus próprios salários e dos secretários, enquanto a maioria dos pobres mortais está ainda mais pobre e ainda mais mortal. Alegaram que o aumento é legal. Verdade. A crise é legal para poucos e letal para muitos. O certo é que estavam sem calculadora no momento da aprovação do aumento salarial e ignoraram ou desconhecem que existe matemática na política. Não fizeram conta do eleitor. Aumentou-se o salário. Contudo, reduziu-se a credibilidade, a proximidade, a legitimidade dos cargos públicos. Mas, até outubro –dirão- ninguém se lembrará mais do fato. Verdade.  Memória quem tem é calculadora.
Como também já esquecemos, vamos lembrar que o momento atual é de definição, pelos partidos e coligações, dos candidatos a vereador, a prefeito e vice. Até agora, na estância em technicolor, já temos definidos alguns pré-candidatos a prefeito. O problema parece ser a escolha do vice. Primeiro, devido ao exemplo federal, onde o vice que ninguém tinha nada a Temer, é hoje o presidente da república em exercício.  Segundo, é que, apesar disso, ninguém quer ser segundo, ou seja, ninguém quer ser vice, todo mundo quer ser prefeito e entrar para história. O único que não quer ser, até porque já não está entre nós, é Raul Seixas. “Mamãe não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito...”.
Nas noites frias, das nem tão quentes reuniões partidárias, a abertura se faz pela seguinte frase.  “A vaidade tem que ficar lá fora. Aqui dentro estamos todos unidos em torno de um projeto para o município. Estamos unidos por Poços de Caldas”. Palmas esquentam as mãos e são ouvidas no recinto. Porém, se a abertura é esta, a fechadura é outra. “Não podemos abrir mão da nossa candidatura”.  Ninguém quer abrir mão de ser cabeça. Assim, não devemos nos espantar se, nos próximos dias, os classificados dos jornais estamparem o seguinte anúncio. “Procura-se Candidato a Vice-Prefeito. Tratar com o candidato a prefeito”. Dizem, ou é mera invenção do autor deste texto, que foi descoberto um candidato a vice-prefeito. Ele tem 12 anos e estuda em uma escola pública. Em pesquisa feita por uma professora mediante a pergunta “O que você quer ser quando crescer? o garoto respondeu. “Eu quero ser vice-prefeito”. Dizem, ou é mera invenção do autor deste texto, que os partidos estão disputando a tapa o passe do menino.


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Divórcios Culinários


Depois do dia dos namorados e com as dificuldades financeiras atuais, a crise chegou na cozinha.
Com o aumento no preço, a situação já não dá mais para o "gastro" e o feijão está se separando do arroz.
Outros alimentos que combinavam tão bem estão vivendo por sua vez seus problemas conjugais.
O café deve deixar o leite nos próximos dias e o queijo (Romeu) está brigando demais com a goiabada (Julieta).
O chá já não convive tão bem com a torrada e segundo dizem, o momento está mais para “chá com porrada”.
O figo já não acha tão doce, como antes, o doce de leite.
A pipoca está pulando de raiva com o guaraná, que a chamou de “piruá”.
A batata afirmou dias atrás em conversa reservada que o bife é que vai ficar “frito” a partir de agora.
O churrasco está com problemas graves de relacionamento com o vinagrete, pois a cebola já não se entende com o tomate e o pimentão está vermelho de raiva com o cheiro verde.
O ketchup está de molho depois da sua última briga com a maionese, pois disse ele, que ela “viajava” demais e isto desgastou a relação.
O mamão já não se entende mais com o açúcar e a convivência entre o presunto e o queijo esfriou muito e, dizem, os dois já não vivem mais na mesma geladeira.
Comenta-se que a “bomba” que está para estourar a qualquer momento, é que o pão, depois de ter chamado sua parceira de “rançosa”, deve se se separar definitivamente da manteiga e a sua relação extraconjugal com a margarina vai fazer virar a mesa.
Se a cozinha é realmente o coração da casa, ao que parece, a crise continuará a alimentar ainda muitos divórcios culinários.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Salário de vereadores: entre o direito e o dever


Sou daqueles que defendem que todas as pessoas deveriam ganhar um bom salário, principalmente eu mesmo. Não sejamos hipócritas: todos achamos que merecemos ganhar bem e se pudéssemos aumentaríamos mensalmente os nossos próprios salários. Nesta linha, advogo que o vereador, como agente político, deve sim receber salário, ao contrário de anos atrás, quando o edil trabalhava apenas “pelo bem estar da população”.
Noto ainda que geralmente não aceitamos o vencimento de um vereador por 3 motivos básicos. Primeiro, porque eles (os agentes) percebem (ganham) muito mais que a gente. Segundo: não percebemos (sabemos) muito bem o que eles fazem para ganhar tão bem e terceiro: enquanto eles ganham sempre mais (independente da crise), temos a percepção que estamos perdendo sempre a cada instabilidade econômica no país.
Por tudo, com o novo aumento dos salários dos vereadores em Poços de Caldas, (10,67%), aprovado por unanimidade em reunião na Câmara, o tema voltou a ser objeto de discussão e as perguntas e respostas seguindo a mesmice de sempre. Pergunta: Por que houve o aumento do salário do vereador em Poços (agora, R$ 11.337,24)? Resposta: O aumento é um direito legal do vereador e de outros agentes, lembrando que os salários do prefeito, vice e secretários também foram aumentados. Sabe-se que os vereadores, por lei, podem receber de 20% a 75% dos salários dos deputados estaduais, dependendo do estado no qual o município está situado, a população da cidade e o que aquela despesa representará no orçamento.
Sem querer aprofundar por demais nestas questões legais, discutir o salário de um vereador, entre outras coisas, é perceber a diferença entre o direito e o dever.
Se o vereador tem o direito legal ao aumento, também é importante lembrar que ele (assim como todos os outros agentes na escala hierárquica) deveria ter o dever de olhar para a situação e o contexto econômico, político e social que o país atravessa, sob pena de se afastar da sua representatividade popular.
Assim, é inaceitável que agentes políticos, no contato diário com a população, sabendo dos altos índices de desemprego, da crise política e social que o país atravessa, vendo lojas e fábricas na cidade fechando suas portas ou reduzindo sua produção, se atentem mais para os seus direitos do que para os seus deveres.
Entre as capacidades que um agente político deve ter é a de se sensibilizar com a população a qual representa e ser modelo de atitude em suas ações do cotidiano. Aumentar o próprio subsídio, mesmo que legal, no momento em que a maioria das pessoas sente no bolso, no estômago e na vida, a situação se deteriorar, é uma prova de que estão indo na contra mão do que afirmam defender na Câmara.
Sabemos que os vereadores com a aprovação do aumento estarão, na verdade, impactando mais os salários da próxima legislatura e que, muitos deles estão confiantes na reeleição. Contudo, se não devemos exigir dos nossos representantes, a sensibilidade (pois esta se tem ou não), podemos cobrar deles a intelilgência e afirmar que estão perdendo a oportunidade única de construir em nossa cidade um novo modelo político para o Brasil.
Infelizmente, estamos revelando claramente que somos tão somente mais uma célula a diagnosticar as deformidades e distorções que o Brasil tem em seus organismos políticos.
Perdemos mais uma vez a oportunidade de dizer que somos diferentes e isto poderá nos custar muito caro. Menos pelos valores financeiros que acarretarão mais custos ao município e muito mais nos valores morais e éticos que estamos deixando para as próximas gerações.
Não mudar o jeito de fazer as coisas é espelho de que “a verdadeira mudança” está longe de ser realidade no município.
Pena.