sábado, 8 de janeiro de 2011

Divagando sobre Devagar

Tempo médio para leitura deste texto: 2 minutos

Início de ano é o momento ideal para se fazer promessas, se bem que tem muito político que fica fazendo isto o ano inteiro. Assim, comecei a rabiscar algo apressadamente em um papel, afinal, tenho apenas 365 dias (364, 363, 362, 361, 360...) para cumpri-las. Mas, ao olhar para o que havia escrito, um detalhe me chamou à atenção: a minha letra (que, diga-se de passagem, (de ano) é horrível até na tela de um computador). Observei que a minha “receita” para o ano novo estava parecendo receita médica: nem o farmacêutico entenderia. Imediatamente pensei em fazer um curso de caligrafia. - Eles existem ainda? Perguntei urgente ao guru oriental, o Google. “Claro- respondeu ele- em real time. Só que hoje são feitos pelo computador, através de apostilas”. Ah! Não tenho tempo para isto.
Foi então que, neste momento (Eureca!) descobri a grande culpada pela minha redação ilegível e inelegível: a pressa. Ela, a inimiga da perfeição, a mãe da impaciência, a grande responsável por acidentes automobilísticos e domésticos.
Se tiver tempo, preste atenção: tem gente usando o cronometro no pulso, ao invés do aposentado relógio. E mais: tem aumentado o número de partos prematuros. Ou seja, até os bebês estão apressados para nascer. Os pediatrasados estão ficando para trás. Nove meses é muito tempo e, pensando assim, já tem mãe ensinando o filho a escrever com ele ainda na barriga.
Refletimos: “fast food” não é só um tipo de comida feito rapidamente, mas, principalmente, a maneira como nos alimentamos, sem sentir o sabor dos alimentos, engolindo sem mastigar. Especialistas dizem que devemos mastigar 30 vezes a cada garfada. Seguimos o conselho: estamos mastigando 30 vezes a cada refeição.
Perceba quantas pessoas você conhece que falam depressa demais. Tem gente que fecha a boca e as palavras continuam saindo. Viramos, todos, locutores de corrida de cavalo e nem foi dada a largada.
Quantas vezes, a gente se pega acelerado em pleno domingo, como se tivéssemos realmente a necessidade de chegar mais rápido em algum lugar. Nem paramos mais para conversar. O Clube da Esquina fechou por falta de quorum.
Dias atrás fiquei olhando para uma tartaruga de estimação na casa de um amigo. Não posso afirmar com certeza, mas, notei que até ela estava mais veloz. Pensei em realizar anualmente uma corrida de tartarugas, mas, desisti da brilhante ideia, pois precisaria de tempo para organizar o evento.
Sei não, mas o jeito que as coisas andam (ou seria voam?), não me espantaria em ver o Martinho da Vila lançando um disco de funk ou de rap. “Édevagarédevagarédegavardevagarinho”.
Não foi sem razão que coloquei o tempo médio de leitura no alto deste texto. Aliás, penso que a prática irá se tornar comum, como uma receita que indica o tempo do preparo dos alimentos.
Por falar nisto, e voltando ao assunto inicial, a minha receita para este ano que está começando é apenas uma: fazer tudo bem devagar, em câmera lenta, slow motion. Assim, como o diálogo daqueles dois baianos (sem preconceitos) - Meu rei veja aí pra mim...
A braguilha da minha calça ta aberta?- Olhe... Ta não...
- Então, vou deixar o xixi pra amanhã...