domingo, 22 de fevereiro de 2009

O silêncio dos culpados

Encontro casualmente pessoas nas ruas e fico surpreso quando estas me dizem que leram determinado artigo meu nos jornais. Sinceramente, menos pelos elogios que alguns me dirigem, frutos sei, da amizade e de um carinho gratuito, mas, principalmente, porque escrever para mim é uma necessidade.
Como disse certa vez , escrevo para azarar a sorte, para não morrer de silêncio. Posso declarar-me um apaixonado pelas palavras, com a certeza de nem sempre ver esse amor correspondido. Por incontáveis oportunidades, não sei o que dizer, nem como expressar determinado sentimento ou pensamento. Mas, até nesses momentos, vale o desejo de encontrar um verbo, um substantivo, um adjetivo, na busca incansável por construir uma frase que reflita a minha verdade. Talvez aí, o meu maior compromisso, de, ao perceber o que se passa, quer seja no mundo ou em minha cidade, tentar traduzir os fatos, através da subjetividade das palavras e das minhas confessáveis limitações.
Tenho plena consciência dos erros que estou sujeito a cometer, quer seja por um pensamento mal elaborado, uma frase mal construída, ou até pelo meu “português ruim”. Sei do “crime doloso” de uma ironia fulgaz, um trocadilho infame, ou de uma brincadeira com as “coisas sérias deste mundo”. Mas, “prefiro um erro que me divirta, a um acerto que me entristeça”, como disse William Shakespeare.
Prefiro continuar no pecado da palavra, que na inocência da omissão. Prefiro a expressividade simbólica de um sapato atirado, que a clausura obrigatória da gravata apertada no pescoço. Prefiro o erro dos que dizem, dos que exprimem, dos que gritam, ao presumível acerto daqueles que nada fazem pelo medo de errar. Prefiro arriscar o salto, que continuar pisando em terra firme. A rebeldia da juventude que a sabedoria dos monges. O grito incontido dos culpados, ao silêncio letárgico dos inocentes. A busca, que o encontro. A dúvida, que a resposta. A caminhada, que o destino. A escuridão da noite, que a claridade do raiar do dia. “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Prefiro Raul a Paulo Coelho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário