domingo, 22 de fevereiro de 2009

DESAFINADOS

A música, como qualquer manifestação artística, revela o seu próprio tempo. Ela é espelho de uma geração, de uma cultura, de uma fase na história de uma comunidade.
Basta observarmos a própria música popular brasileira e teremos aí o reflexo disso: a bossa-nova, o iê-iê-iê, a tropicália, o samba-canção, o chorinho, as músicas de contestação, de revolução.
Todas estas fases musicais eram identificadas na própria sociedade, na maneira de pensar, de se vestir, o espelhar de questões políticas, sociais e econômicas.
Se é assim, o que a música brasileira atual tem a ver com os padrões de comportamento da sociedade?
De algum tempo para cá, se não nos enganamos, da década de 90 para os dias atuais, a música popular em nosso país foi dominada pelo sertanejo, pelo axé, pelo pagode, pelo funk e pelo rap.
Saíram de cena, o bom rock nacional, a bossa-nova, a MPB, representada por dezenas de compositores, intérpretes e arranjadores da maior qualidade. Entraram “as cachorras”, o bonde do tigrão, o sertanejo que não fala mais da vida no campo e sim dos amores urbanos, o pagode da mesmice, o axé sem compromisso, o funk da bundinha, na boquinha da garrafa, o créu, e por aí afora...
Tudo isto apoiado por uma indústria cultural a quem interessa o descartável, o produto de venda rápida, a massificação e o obsoleto.
Infelizmente, perdeu-se muito na qualidade e avançou-se muito na quantidade de gosto duvidoso.
Já não ouvimos mais, de maneira geral, letras bem elaboradas, arranjos bem feitos, interpretações de puro sentimento.
Poderão até dizer que estamos sendo saudosistas e preconceituosos, mas, se a música é reflexo de nosso tempo, quanta pobreza, quanto desalento, perda de valores e falta de criatividade estamos vivendo!
Muitos irão dizer que gosto não se discute, esquecendo-se de que esse gostar tem sim, o sabor da imposição e dos interesses de quem domina o cardápio musical e a mídia no país.
Enfim, se a música traduz uma sociedade, sinceramente, estamos todos muito desafinados.

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