segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Título de Eleitor não tem foto, nem voto

O Brasil é um país fantástico e de muitos contrastes. Somos, por exemplo, referência internacional em sistema eleitoral, principalmente em razão das nossas urnas eletrônicas. Aqui até a boca de urna já vem equipada com aparelho ortodôntico. Por isto, me espantei, como todo mundo, ao receber a notícia de que o título de eleitor não seria aceito para votar. Pensei como todos: ”mas se não é para isto, pra que serve o título?”. E se foto realmente é tão importante assim, modelo fotográfico tem prioridade na hora do voto. É só levar o book. Candidato também não precisa levar documento. É só apresentar o santinho. Concluí: estamos realmente em uma Zona Eleitoral.
Bem, mas lei é lei. Cumpra-se. E lá fui eu votar, e no caminho, e pra rimar, raciocinando: qual o documento apresentar? A carteira de identidade tinha minha foto, mas nela, estou mais feio que candidato de ficha suja. A carteira profissional também. Refleti, porém, que o emprego dela para votar não seria ético, já que o desemprego tem se revelado alto no país. Entre estas minhas dúvidas existenciais, sobrou apenas à carteira de habilitação.
Então, imaginei a cena. Eu entrando no local de votação e o mesário perguntando: “O senhor está habilitado para votar?”. “Claro, eis aqui minha carteira de habilitação”. E não é que tinha tudo a ver? Mundo, mundo vasto mundo, carteira de habilitação e eleição, seria uma rima e também uma solução. A partir daí, ampliei a reflexão. Por que não realizar uma campanha publicitária incentivando a apresentação da carteira de motorista na hora do voto? Poderiam ser criados alguns slogans. “Coloque o país na direção certa. Pra votar, apresente sua carteira de habilitação”. Ou então: “Não seja um ponto morto. Com sua carteira de habilitação, o Brasil vai pegar a marcha do crescimento. Vote”. Pra quem gosta de rima, vai lá: “Para votar em um país de primeira, apresente a sua carteira”. E outro: ”Na eleição, não vote na contra mão. Apresente sua carteira de habilitação”. Outro ponto positivo veio ao encontro da minha idéia. A carteira de habilitação seria ainda mais perfeita para o voto em trânsito. Sensacional!
Depois dessas divagações, estacionei o carro em vaga próxima à minha seção eleitoral e lá fui eu, caminhando contra o vento, sem lenço e com documento, como um candidato já eleito. Cheguei para o mesário e todo cheio de si em mim mesmo, apresentei minha carteira de habilitação. Já estava quase entrando na cabine, quando o mesário disse: “O senhor não pode votar”. Perguntei, surpreso:” Mas, como? Não tem que apresentar um documento com foto? Tai minha carteira de habilitação com a minha foto. Sou eu mesmo.” Ao que o mesário retrucou. “Eu sei senhor. Porém, sua carteira está vencida”. Fui voto vencido.