É inimaginável a dor de um pai pela perda
irreparável da vida de um filho. Mais que isto, como mensurar o tamanho deste
sofrimento, se este pai acredita que a perda foi provocada por erros médicos?
É incalculável o dano social provocado pela
paralisação de serviços de transplantes de órgãos em uma cidade. Como calcular
a perda de vidas humanas que poderiam ter sido salvas pelo ato voluntário da
doação?
É impossível dimensionar a dor de médicos que têm
sua credibilidade atingida e que de repente se vêem impedidos do exercício da
profissão, presos em celas, suspeitos de terem cometido um crime? Como avaliar
o dano moral e espiritual da perda da liberdade? Como colocar algemas em mãos
que, livres, tinham o compromisso de salvar vidas?
É indescritível o dano provocado à imagem de uma
cidade que tenha seu nome veiculado em todas as redes sociais e mídias
tradicionais por supostamente abrigar uma rede clandestina de transplantes.
Como medir o que isto afeta a idoneidade da classe médica deste município?
Sim, claro, temos a Justiça que tarda, mas não
falha, ou que exatamente por tardar é falha. Tentamos acreditar que ela (a
Justiça) se fará presente e dará o veredicto para tal situação. Contudo, quer
isto aconteça ou não, cabe contabilizar que o vaso se quebrou e as partes
coladas já não representam o mesmo vaso.
Perdemos todos: os pais, os médicos, os doentes na
fila de transplantes, a sociedade.
O que nos resta?
Apenas lamentar tanto sofrimento e calar nossa
vontade imperiosa de julgar o certo e o errado. Refrear nossos inquestionáveis
argumentos de absolvição ou condenação. Deter nossa pretensão de sentenciar a
culpabilidade de alguém.
Neste caso, o silêncio talvez seja nossa maior
expressão de lamento. Não é omissão, é impotência. Silenciar, por vezes, é uma
forma de pranto. É o grito contido de desalento entre tantas perdas e danos.